PAULA MARISA丨Polícia Federal admite monitorar opiniões na internet

Paula Marisa
Paula Marisahttps://www.paulamarisa.com.br/clube-marisa
Especialista em educação, palestrante e comentarista política. Meus pronomes são Vossa Majestade/Vossa Alteza.

Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo.

Abraham Lincoln

     Desde que a censura voltou a imperar no país através de inquéritos intermináveis e ultra secretos, vemos autoridades e jornalistas da velha mídia repetirem a exaustão que tal prática é necessária para “defender a democracia”. Obviamente, eles não falam que se trata de censura, afinal de contas, isso pegaria muito mal perante a opinião pública, os termos utilizados são “regulamentação das redes sociais” ou “combate às fake news”.

     Foi para “defender a democracia” que a Polícia Federal reteve o jornalista português Sérgio Tavares no aeroporto de Guarulhos, no dia 25 de fevereiro, quando ele veio ao Brasil para fazer a cobertura do ato convocado por Bolsonaro na av. Paulista. Por longas horas, Tavares teve que responder a perguntas sobre ministros da Suprema Corte, 8 de janeiro e urnas eletrônicas.

     A comoção social veio rapidamente e a PF teve que publicar uma justificativa que fosse um pouco mais plausível. Veio então um comunicado oficial dizendo que o jornalista havia passado por um procedimento padrão de imigração e verificação de visto. Até então, não se sabia qual havia sido o teor da inquirição, mas não demorou muito para que a tal justificativa apresentada caísse por terra. Para o caso de Sérgio Tavares não havia necessidade de visto.

     De volta à terrinha, o jornalista divulgou o documento que lhe foi entregue pela própria PF e então todos ficamos sabendo o que realmente se passou. Foi aí que o Senador Eduardo Girão apresentou um requerimento à Comissão de Segurança Pública do Senado convidando o Diretor-Geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, para prestar esclarecimentos sobre o imbróglio.

    Se a situação já estava constrangedora, ficou ainda por quando o sr. Andrei mandou em seu lugar o Diretor de Polícia Administrativa, Rodrigo Melo Teixeira. Sem muito traquejo para evocar aquelas palavrinhas mágicas que fazem a censura parecer algo bom, o emissário da PF escancarou a verdade nua e crua que as autoridades do alto escalão e os jornalistas da velha mídia tanto se esforçam para maquiar.

     Durante o depoimento, Rodrigo, deixa escapar que a PF estava monitorando as opiniões do jornalista nas redes sociais.

RODRIGO – Ele foi entrevistado – entrevistado -, aí sim, para ver a questão formal e por causa dessas opiniões dele que, como eu disse, flertam ou estão muito próximas da situação de criminalidade. Isso foi retirado em fontes abertas.

     O senador Sério Moro insiste no assunto das tais “opiniões que flertam com o crime”

MORO – O senhor mencionou que ele foi retido porque ele tinha opiniões que flertavam com crimes contra a honra de autoridades brasileiras. É isso?

RODRIGO – Além disso… Mas não é só isso. Ele tinha em rede social manifestação favorável ao movimento de quebradeira do dia 8 de janeiro.

MORO – Havia alguma representação de ministro do Supremo Tribunal Federal por crime contra a honra, ou de qualquer outra autoridade?

RODRIGO – Não.

MORO – O senhor sabe que nesses crimes só se procede mediante representação?

RODRIGO- O crime contra a honra, sim; o de acompanhar o alerta de alguém que apoiou a quebradeira, não.

MORO – Eu compreendo. Mas foi o senhor que colocou como relevante o fato de ele flertar com o crime, ter opiniões que flertavam com crimes contra a honra.

RODRIGO – Sim, passou num setor de análise da…

MORO – O senhor entende que a Polícia Federal deve, de ofício, cuidar desse assunto?

RODRIGO – Não, eu não estou falado do crime contra honra de um ministro da Suprema Corte. Eu estou falando…

MORO – O senhor que falou anteriormente. Não fui eu que coloquei palavras na sua boca.

RODRIGO – Se pegar o depoimento dele…

MORO – Não, o senhor mencionou aqui – eu anotei – que ele tinha opiniões que flertavam com crimes contra honra de ministro do Supremo Tribunal Federal.

RODRIGO – Sim. Sim. Além disto, ele tinha opinião, e tem, não sei se mudou a opinião, de apoiar o ato de quebradeira que teve no 8 de janeiro. Além disto, ele teve opinião de criticar a urna eletrônica dizendo que é fraudada. Além disto, ele gravou um vídeo – tem na rede social dele – com uma pessoa que tem mandado de prisão.

MORO – Quem é essa pessoa?

RODRIGO DE MELO TEIXEIRA – Se não me falha aqui, cidadão Allan dos Santos.

MORO – Em Portugal?

RODRIGO – Não. Parece que estava em outro país, Estados Unidos, se não me engano.

     Este encontro de Sérgio Tavares com Allan dos Santos aconteceu após a vinda do português ao Brasil, portanto, me parece que a PF continua monitorando as redes sociais de Sérgio.

     Durante todo o depoimento, Rodrigo alega que Tavares teria apoiado os atos de vandalismo que ocorreram em Brasília no dia 8 de janeiro, porém, quando solicitado a mostrar as tais postagens em que isto ocorreu, o delegado da PF diz que não tinha consigo as provas impressas e que seria necessário um requerimento dos senadores para terem acesso ao conteúdo. Isso soa, no mínimo, estranho. Acredito que seria de total interesse da PF esfregar na cara de todos as tais “postagens criminosas”.

     Além de opiniões que flertam com a criminalidade, ataque à honra de autoridades e gravar vídeos ao lado de exilados políticos, Tavares também cometeu o “crime” de fazer críticas.

     Basta usar as palavras certas para descrever o estado de coisas no Brasil para que a narrativas da esquerda desmoronem tal qual um castelo de cartas. Criticar não é crime, aliás, é exercício da cidadania dentro de uma democracia. Criticar autoridades ou um sistema eletrônico só é considerado crime quando se vive em uma ditadura.

     Pelo visto, a emenda ficou pior do que o soneto. Agora, ficarei no aguardo da apresentação das provas dos “crimes” cometidos por Sérgio Tavares e, assim que eu tiver novidades, voltarei aqui para atualizá-los sobre o assunto.

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