Sidney Silveira fala sobre seu livro recém-lançado pela Vide Editorial
Se você se inquieta com o atual estado das coisas no mundo – com uma degeneração moral que, à proporção que se intensifica, torna-se embotamento da própria inteligência –, e essa inquietação te faz querer saber sobre as causas mais profundas de como chegamos a essa situação, temos uma boa dica de leitura para você: Cosmogonia da desordem: exegese do declínio espiritual do Ocidente, livro de Sidney Silveira recém-lançado pela Vide Editorial.
Quer saber mais sobre esse livro? Leia a seguir a entrevista que o autor concedeu à Esmeril.
Revista Esmeril: Como foi “gestado” seu recém-lançado livro Cosmogonia da desordem?
Sidney Silveira: A obra foi ganhando forma ao longo de dez anos, durante os quais foram escritos artigos pontuais sobre temas diversos para o blogue Contra Impugnantes, por mim criado em 2008. Ao tratar de assuntos tão variados (metafísica, gnosiologia, teologia, psicologia, história, crítica filosófica, estética, moral, política, etc.), não pensei que um dia viria a reuni-los e enfeixá-los em livro, porque dar a eles um sentido de unidade era tarefa desafiadora e eu relutava em fazê-lo, por falta de tempo.
Destaco uma curiosidade, neste contexto: a grande maioria dos textos foi redigida a partir de um aparelho celular e somente depois “subida” para o blogue. Tanto que, na primeira edição, pequenos erros de digitação, típicos de quem digita numa pequena tela, acabaram por vir à luz. Isto foi depois corrigido.
Revista Esmeril: Quais são as principais influências e referências intelectuais que o acompanham na produção de seus textos?
Sidney Silveira: Acima de todos, Santo Tomás de Aquino é a grande referência, seguido de Aristóteles, Platão e Santo Agostinho, o que pode verificar-se no índice onomástico da Cosmogonia da Desordem, que arrola cerca de 400 autores, entre antigos, medievais, modernos e pós-modernos.
A predominância dessas quatro grandes influências poderia dar a ideia de bibliografia “desatualizada”, o que seria um enorme equívoco, pois em muitíssimos casos as doutrinas desses quatro gênios do pensamento ocidental são confrontadas no livro com as de autores contemporâneos de diferentes linhas, como por exemplo René Girard, que é objeto de uma severa crítica. Poupo-me de dar outros exemplos; que os leitores os verifiquem por si mesmos.
Revista Esmeril: Por que você chama seu livro de “uma autópsia da civilização cristã ocidental”?
Sidney Silveira: Por fidelidade ao espírito da obra, que busca não apenas mostrar a decadência do Ocidente cristão, como fizera o nosso Leonel Franca em sua obra outonal, A Crise do Mundo Moderno, publicada em meados do século XX.
No caso da Cosmogonia, o leitor atento observará que a perspectiva é a da irreversibilidade da degenerescência dos valores ocidentais, sem que se chegue ao ponto da desesperança completa, pois Deus é o proprietário de todos os amanhãs e pode alterar o sentido da história humana de acordo com os Seus inescrutáveis desígnios. Numa autópsia verifica-se a causa mortis; foi o que procurei fazer ao dar um sentido de unidade a esta coletânea de artigos.
Revista Esmeril: Comente sobre a divisão em que estão dispostos os textos de seu livro. Qual foi o critério dessa organização, e sobre o que trata cada parte do livro?
Sidney Silveira: O critério foi reunir os textos em torno dos pontos cardeais da filosofia: metafísica (ser), gnosiologia (conhecer) e moral (agir), tendo por abóboda a teologia tomista, que, como dizia o italiano Cornelio Fabrio, dá resposta proficiente ao magno problema filosófico: Deus.
Revista Esmeril: Há em seu livro um artigo em especial que chama atenção: “Gramática e barbárie”. Fale um pouco sobre essa relação da degeneração da linguagem em consonância com a decadência civilizacional – em especial, no Brasil.
Sidney Silveira: O depauperamento da língua é sintoma seguro da decadência de uma cultura ou mesmo de uma civilização, pois as tradições humanas precisam de um veículo seguro para atravessar as gerações, o que é impossível quando o idioma se empobrece vocabular, semântica e sobretudo sintaticamente.
O fato de o jovem brasileiro contemporâneo não conseguir ler os autores de língua portuguesa do século XIX – as valorosas exceções confirmam a regra – é sinal de que perdemos o vínculo formal com a nossa própria tradição literária. Uma desgraça! A pergunta que se impõe, diante desta lastimável constatação, é a seguinte: ainda será possível reverter o quadro presente? Eu quisera dizer que sim, mas o cenário não é de molde a levar-nos a conclusões otimistas. Seja como for, saliente-se a grande importância normativa da gramática; se no tempo presente tivermos a possibilidade de uma reviravolta positiva, certamente isto passará pelo trabalho dos bons gramáticos e dos escritores de escol.
O professor Sidney é de uma erudição maravilhosa.
Obra para ser lida e meditada.
Parabéns a Esmeril e ao professor Sidney.
Parabéns à Revista Esmeril, por trazer a tona a presente obra, inclusive entrevistando o autor. Estou na expectativa de ler o livro!
Sidney, para além de sua simpatia, ostenta uma erudição admirável. É um prazer poder recomendar o ‘Cosmogonia’ aos amigos, especialmente agora que está ainda mais acessível através da Vide Editorial.