ISRAEL SIMÕES | Ergam as frontes: é natal!

Israel Simões
Israel Simões
Terapeuta, filósofo clínico e curioso observador da vida cotidiana.

Está aberta a temporada de mensagens de Natal, nos grupos de Whatsapp, perfis de redes sociais, nos programas de TV, nos cultos, nas missas e nas rádios das cidades que preservam aquelas caixas de som penduradas em postes. E mesmo ouvindo tais reflexões natalinas há anos (nem sempre com a profundidade que a ocasião exige, é verdade), talvez você nunca tenha parado para pensar sobre certas minúcias do evento que o mundo inteiro, agora, comemora: o nascimento do filho de Deus.

Como este é um tempo de abrirmos as portas de nossas casas e receber visitas, convido o leitor a refletir sobre quem foram os primeiros visitantes a conhecer o menino Jesus. Não foram teólogos, exegetas, militares, estrategistas, diplomatas do governo, analistas políticos ou historiadores. O menino Jesus foi encontrado por sábios. Magos do Oriente, homens dedicados a contemplar o céu.

Eles chegaram até o Cristo por meio da estrela-guia, que no imaginário popular é como um grande luzeiro, cruzando nuvens como uma esfera de luz com calda e reflexos cintilantes. Mas isso é fantasia, coisa de desenho infantil. Porque o registro bíblico conta que Herodes ficou surpreso com a notícia do nascimento de Jesus, o que significa que ninguém naquele império viu o sinal da estrela, somente os sábios, que eram atentos estudiosos dos astros celestes.

Este é um ensinamento sobre como os homens devem guiar-se para não se perderem em sua jornada na Terra: o maior presente de Deus ao mundo foi achado por meio de sinais quase invisíveis.

Entre tropeços, quedas e recomeços, podemos alcançarmos o destino que nos cabe, aquele que está forjado entre os elementos divinos, se não tivermos pressa, se soubermos contemplar e esquadrinhar pequenas luzes.

Para muitos o sol tem sido o guia de suas escolhas e condutas. São pessoas capazes de agir na clareza da luz do dia, enquanto trabalham, produzem, edificam. Quando chega o período da noite, recolhidas em casa, com a cabeça no travesseiro, essas pessoas se perdem, pois não há mais claridade como poucas horas antes. É por isso que elas estão sempre com as luzes acesas, os celulares ligados, agitadas.

Para outros é a lua o guia de seus atos. São aqueles indivíduos menos pragmáticos, mais intuitivos, que se inclinam para o que aguça os seus sentidos, os desejos mais entranhados, aquilo que chamamos vontade. Ora estão como a lua cheia, enérgicos, fazendo planos, projetando cenários, ora minguantes, sentindo-se melancólicos, desanimados. São pessoas de fases.

Eu diria que o natal nos convida a nos orientarmos por estrelas, os luzeiros mais fixos do céu, os mais confiáveis. As estrelas são muitas e para enxergar sua luz, perscrutar a direção para a qual elas apontam, é preciso estuda-las e decifrá-las, registrar os seus padrões, acompanhar seus movimentos.

Você entende o que isso significa?

O tesouro da estrebaria não foi encontrado sem pausa, silêncio, estudo, contemplação e um estado de atenção mais grave, raro hoje em dia. Aqueles sábios precisaram desacelerar seu ímpeto para agir e domar sua inclinação para tomar outros rumos. Eles mantiveram os olhos fixos nas estrelas e encontraram, a um só tempo, o caminho, a verdade, a vida.

A sua caminhada chegará ao destino certo quando seus olhos forem capazes de ver, por trás dos pontos brilhantes e permanentes, uma mensagem que conecta o céu e a terra: “Vai, é naquela direção…ali o Salvador vos espera”.

Não basta o ímpeto da ação nem a vibração da vontade. Você precisa se embrenhar entre discretas cintilações, diversas, confusas, maravilhosamente caóticas, quase inebriantes, para dali extrair as revelações que somente os padrões estáveis contém. Noite adentro o natal vai nos convocando para que todos sejamos um pouco filósofos, menos apegados aos saberes imediatos, mais interessados na sabedoria sutil, que se esconde nas entrelinhas da realidade. É ela quem conduz desejos e ações para o conhecimento do que, em nós e neste universo, permanece.

E no amor pelas permanências é que você encontrará Aquele que perpetuará os momentos de alegria e comunhão, hoje passageiros, por toda a eternidade.

Um feliz, filosófico e meditativo natal para cada um de vocês.

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1 COMENTÁRIO

  1. Feliz Natal! 🎄
    Que Deus mantenha acesa a chama que te inspira.
    Desejo-lhe um 2024 recheado de realizações.
    E continuemos a filosofar, porque faz bem para a alma. 🙏

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