MURALHA DE LIVROS | Entre mortos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Não existe vida intelectual verdadeira sem meditação sobre a realidade da morte, e é sobre essa realidade que se debruça o principal destaque desta edição da Muralha.

Ainda entre os destaques desta edição, uma obra que mergulha nas complexidades da cultura de uma país cada vez mais “à beira da morte”, explorando questões fundamentais sobre sua identidade e trajetória.

Entre outros lançamentos, uma importante obra que alerta sobre os riscos de se nos tornamos “mortos vivos” diante das cada vez mais onipresentes telas em nossas vidas.

E se o assunto é morte, duas importantes obras de um padre do século IV nos orientam a evitar a Morte Eterna, e uma de um sacerdote contemporâneo revela as riquezas do ápice da vida católica: o salvífico Sacrifício de Cristo na Santa Missa.

Por fim, uma obra que apresenta aos pequenos, de forma lúdica e inovadora, obras que imortalizaram pintores dos mais variados séculos.

Confira os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!

Destaques

O grande destaque da semana é da Kírion: Nossos mortos, de A.-D. Sertillanges e Olavo de Carvalho. O livro reúne textos publicados por Sertillanges em 1933, no livreto Nos disparus, e a transcrição da conferência Les plus exclus des exclus, feita por Olavo de Carvalho em 1997.

Os textos de Sertillanges nos convidam a meditar sobre a morte dos entes queridos, reconhecendo a importância de honrar sua memória e aprender com suas experiências. Já o registro de Olavo de Carvalho expande essa reflexão para os “mortos de toda a humanidade”. Através de suas obras, esses indivíduos, mesmo separados por tempo e espaço, podem se tornar “nossos mortos”, interlocutores que enriquecem nossa visão de mundo e nos guiam na jornada da vida.

Ambos os textos, agora reunidos neste volume, pertencem à longa tradição de meditações sobre a morte, o primeiro tratando sobre como devemos encarar a morte dos nossos próximos, amigos e familiares que tenhamos conhecido em carne e osso; o segundo, sobre como devemos ouvir aqueles mortos de toda a humanidade, que não devem ser excluídos do diálogo, pois que, por meio de suas obras, podem ainda falar-nos, e os quais podemos vir a conhecer mais intimamente que muitos vivos, de modo a que se tornem, também eles, nossos mortos.

Confira a seguir um trecho do prefácio de Roberto Mallet à publicação da Kírion:

“A meditação sobre a morte é fundamental para os vivos. Memento mori, clamam religiosos, filósofos e poetas ao longo dos séculos, lembrando insistentemente às nossas almas descuidadas não apenas que o tempo é breve, mas principalmente que tudo o que é perecível neste mundo não é digno do nosso amor. As coisas deste mundo, que surgem e se desvanecem num piscar de olhos, são simples ocasiões para a realização de cada indivíduo e para a comunicação entre as almas. Todo esse inabarcável universo físico que nos cerca e em que, por ora, habitamos, não tem nenhum valor em si mesmo, é o jardim em que nossas almas foram postas para, cultivando-o, cultivarem a si mesmas e aos outros, realizando-se e colaborando para a realização dos outros. Somos criadores de almas.

O horror que o homem moderno tem à morte é sinal da sua superficialidade e alienação, ou, em outras palavras, da falta de vida interior. E isto não se deve apenas à nossa natureza, que, deixada a si mesma, tende a desgastar-se. Deve-se também ao ambiente cultural e tecnológico em que vivemos, em que tudo conspira para a distração e o amortecimento dos espíritos.

Bastam alguns momentos de sincera meditação para você notar que há, no seu interior, no seu centro, um eu, um ato de ser, que não está sujeito ao tempo, mas que, ao longo do tempo, vai se realizando, tornando-se – em ato – aquele que é – em potência.

Meditar a morte é, portanto, lembrar e relembrar […] que o tempo é breve e precioso, pois nele forjamos o que seremos na Eternidade.

Os textos reunidos neste livro pertencem a essa longa corrente de meditações, mas sob um ponto de vista inusitado: levam-nos a refletir não sobre a própria morte, mas sobre a vida dos nossos mortos”.

O outro destaque é um lançamento da E.D.A., O país do eterno retorno, de André Chermont de Lima.

O livro mergulha nas complexidades da cultura brasileira, explorando questões fundamentais sobre sua identidade e trajetória. Chermont não busca respostas definitivas, mas sim delineia contextos, expondo camadas ocultas para revelar a verdadeira natureza das indagações. Seguindo a tradição da melhor ensaística brasileira, ele se inspira em pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e outros, que não só apontam direções, mas também fornecem ferramentas para interpretar o momento contemporâneo.

Além de investigar problemas culturais e dilemas brasileiros, o livro também oferece uma série de microensaios dedicados a artistas nacionais emblemáticos. Entre digressões e reflexões, Chermont apresenta breves perfis críticos de figuras como Machado de Assis, Guimarães Rosa e outros, destacando a importância da arte na compreensão da sociedade e cultura brasileiras. A profusão de retratos revela uma abordagem multifacetada que busca compreender o país através de sua expressão artística.

O estilo ensaístico do autor dialoga de forma cativante com o leitor, convidando-o a refletir sobre o Brasil como se estivesse ouvindo uma história, talvez a saga de seus mitos e do paraíso perdido de onde surgiram. A narrativa envolvente e aprofundada encontra na arte e na cultura brasileira o ponto de partida para questionamentos essenciais sobre a identidade e a trajetória do país, numa jornada que não busca respostas prontas, mas sim uma compreensão mais profunda de suas complexidades.

Outros lançamentos

Pela Auster, um importante lançamento: Desligue o celular e ligue seu cérebro: manipulação, controle e destruição do ser humano, de Pablo Muñoz Iturrieta.

Até que ponto seria parte de nossa essência trocar toda a conexão   humana por um mundo virtual onde tudo é feito sob medida para nossos sentimentos e nossas necessidades?

Por um lado, sabemos que a tecnologia nos auxilia — e muito! — em inúmeras coisas, desde simples tarefas cotidianas até exames médicos mais complexos; por outro, ela pode estar refreando o nosso desenvolvimento pessoal. Certamente, você não deseja estar sob o controle dela, e muito menos que seus filhos estejam. Contudo, por trás da ideia de liberdade e informação oferecidas pelas redes sociais, esconde-se um mecanismo invisível: o algoritmo. Quais as consequências do uso ilimitado do celular e outras mídias? Quais as possibilidades de sermos inconscientemente objetos de manipulação ideológica e controle? Como podemos identificar essas mentiras? E mais importante: como nos manter humanos e não perder o bom senso?

São esses os questionamentos que levaram o Dr. Pablo Muñoz Iturrieta a refletir sobre a importância de “ligar o cérebro”: é inegável a democratização do conhecimento que a internet nos trouxe, mas é fundamental entendermos o modo como as novas tecnologias têm influenciado nossa forma de agir, pensar e viver. Há uma preocupação de que a tecnologia, em vez de nos libertar, esteja nos transformando em prisioneiros de um mundo imaginário. A partir disso, o leitor é convidado a desconectar-se conscientemente das distrações e a redesenhar suas prioridades.

Pela Ecclesiae, mais dois volumes para a Coleção Eccleisiae de Bolso: Sobre os maus pensamentos e Tratado das réplicas, ambos de Evágrio Pôntico (345–399). O autor cresceu no Ponto, região na costa meridional do Mar Negro, e era filho de um arcebispo de Ibora, cidade não muito longe de onde vivia a família de Basílio, o Grande, que o ordenou leitor em cerca de 371. Evágrio acompanhou Gregório de Nazianzo a Constantinopla, onde foi nomeado arquidiácono e participou do Segundo Concílio Ecumênico (381). Depois de servir como diácono, ingressou na vida monástica, estabelecendo-se em Kellia, no Baixo Egito. Lá, ele foi aprendiz de dois importantes Padres do Deserto, Macário Egípcio e Macário Alexandrino.

Nestes dois livros, o autor realiza uma profunda reflexão sobre como podemos fortalecer nossa vida espiritual ao combater os maus pensamentos e as tentações demoníacas.
Seus textos trazem ensinamentos baseados nos Padres e nas Sagradas Escrituras, tornando suas reflexões atemporais. O Papa São Gregório Magno ouviu falar de sua doutrina sobre os “oito pensamentos malignos” e a adaptou para o Ocidente como os sete pecados capitais.

Confira a seguir um trecho de Sobre os maus pensamentos:

“No momento da batalha, quando os demônios nos combatem e lançam contra nós suas flechas, devemos responder-lhes com as Sagradas Escrituras, para que os pensamentos impuros não persistam em nós, escravizando a alma por meios dos atos, manchando-a e mergulhando-a na morte trazida pelo pecado.”

Pela Edições Livre, O maior tesouro: a Santa Missa cotidiana, do Padre Luigi Chiavarino.

A Santa Missa é a fonte e o ápice de toda a vida cristã, pois nela se celebra o mistério pascal de Cristo, ou seja, sua paixão, morte e ressurreição. Através da consagração do pão e do vinho, Jesus se torna presente na Eucaristia de forma real, substancial e permanente.
Através da leitura deste livro, os católicos podem ser motivados a fortalecer sua fé e sua vida espiritual através da participação frequente na Eucaristia.

Pela Texugo, Cadê o grito?, de Cristiana Biazetto. O livro conta a história de Aris, Fê e Dom, que, ao descobrirem que as obras do Museu Universal de Arte tinham sido substituídas por carimbos misteriosos, embarcam numa missão para desvendar os desaparecimentos. Confrontados pelo presidente do museu, o trio mobiliza a vizinhança para resgatar os quadros e mostrar a todos como a arte faz o mundo mais bonito.

Aventura visual única, o livro apresenta grandes pinturas clássicas, como “O grito”, de Edvard Munch, ou “O nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, de uma forma completamente nova e divertida. Telas. O livro é perfeito para introduzir os pequenos nu mundo da arte de forma lúdica e cativante.

Confira abaixo a reprodução feita de “O beijo”, de Francesco Hayez:

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