SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Um Problema Insolúvel

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Palestina


Segue a briga na Palestina. É uma questão impossível de solucionar, mas resolvi comentar sobre o tema ainda assim.


A “Palestina” (lato sensu), onde se situa o Estado de Israel, sempre foi um barril de pólvora. Um pouco maior que o Sergipe, situada no entroncamento entre África e Ásia, próxima à Europa, e na fronteira de impérios históricos, a região é palco de conflitos bélicos desde tempos imemoriais. Hoje, não é diferente. Só o que muda são as partes em litígio.

Atualmente, o problema se dá entre israelenses, de um lado; e palestinos e os vizinhos muçulmanos, de outro. Israel é uma “ilha” cercada de muçulmanos por todos os lados. Por sua vez, a Palestina (stricto sensu) é uma “ilha” cercada por Israel por todos os lados. Tratam-se de posições desconfortáveis – se me permitis o eufemismo.

Grosso modo, ambos os lados reivindicam a mesma coisa: a área da Palestina para si. Eles também compartem de um mesmo medo: serem totalmente expulsos de lá. As ações e reações baseiam-se nesses dois pontos. O Plano A é conquistar o primeiro; e o Plano B, evitar o segundo.

A situação agrava-se por questões religiosas. Trata-se também de um conflito entre judeus e muçulmanos. Como há judeus e muçulmanos espalhados pelo mundo, o imbróglio acaba recebendo atenção global. Portanto, trata-se de um conflito em localização relevante geopoliticamente que envolve religiões importantes mundialmente.

Para piorar, existe a tendência em querer que se assuma definitivamente um lado na pendenga; como se fosse possível encontrar alguma virgem em bordel. Que judeus e muçulmanos, israelenses e palestinos, assim o façam, é compreensível. Para os outros, eu não vejo motivos. É preciso manter distanciamento e julgar caso-a-caso, como devem fazer os juízes.

Nesse último episódio, os ataques do Hamas foram odiosos, mas motivados. Israel sabia que poderiam acontecer e, mesmo assim, assumiu o risco. Isso não diminui em nada a gravidade das ações do grupo palestino. Esse é um ponto. Outro ponto é ser necessário reconhecer a responsabilidade israelense como causa das ações.

Ah! Mas o Hamas já queria fazer isso. Trata-se de desculpa.” Assumamos aqui, para fins argumentativos, que isso seja de fato verdade. O fato é que lhes foi dada a desculpa. Isso muda tudo. Uma coisa é agir; outra, reagir.

Um exemplo próximo a nós são os atos de vandalismo perpetrados no último 8 de janeiro. O Judiciário os usa para justificar arbitrariedades. Contudo, a ação dos vândalos permitiu cobrir de verossimilhança tais alegações. Se não é dada a desculpa, fica evidente de quem é a iniciativa.

Ao dar-se a desculpa, a injustiça deixa de ser plena, para ser excedente. Não se é mais inocente. A diferença passa a ser entre graus de culpa.

Essa é a tônica do conflito palestino. O último episódio é apenas mais um capítulo numa confusão infindável.

Em resumo, o interesse em chegar-se a um acordo entre as partes é nulo. Aí, a possibilidade de haver paz é igualmente inexistente. Só o que se alcança são “cessar-fogo”, os quais duram mais ou menos, dependendo das circunstâncias.

Sem que as partes reconheçam sua parcela de culpa, assumam que o desejo é impossível, e que não há alternativa a não ser o convívio em tolerância, qualquer anseio à paz é infrutífero. Trata-se, pois, de um problema insolúvel.

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