SANTO CONTO | A angústia

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em uma experiência mística de Santa Faustina Kowalska, e em homenagem ao Dia do Nascituro 

Eram oito da noite quando, em meio às suas meditações, Irmã Faustina sentiu um forte desejo de orar diante do Santíssimo. No entanto, nem mal a jovem freira pensou em seguir à Capela, sentiu um mal estar tão intenso que precisou se deitar. Na verdade, desabou na cama, acometida de tontura, náusea e dores violentas.

A dor da pobre irmãzinha era tão forte que ela sequer conseguia gritar por ajuda. Contorcia-se no colchão e, quando abria a boca, só saíam gemidos abafados. Tentou levantar, mas rolou pelo chão. Encolheu-se em posição fetal e pôs-se a rezar em silêncio, as orações entrecortadas pelos gemidos, os olhos lacrimejando

Em determinado momento, ela começou a tremer, tomada por uma febre intensa, e uma angústia terrível começou a assaltá-la, uma opressão em seu peito que a fazia sufocar. Envolta naquele terror, a freira pôs-se a chorar de soluçar, até que vomitou. Em meio a uma última golfada de vômito, desmaiou.   

Quando acordou, já eram 11 horas. Não sabia quanto tempo durara aquele padecimento, ou quanto tempo dormira, mas estava incrivelmente renovada. Sentia uma leveza e um bem-estar profundos. O vômito no chão espalhava um cheiro azedo pelo quarto, mas tudo o que ela respirava era um perfume muito agradável e reconfortante. Ergueu-se e então viu ao seu lado a figura luminosa de Jesus, que a abraçou:

– A Paz e a Misericórdia sejam contigo, filha!

– Meu Senhor! – ela desabou com a cabeça em Seu peito e começou a chorar novamente.

– Não tenhas medo, filinha. O que passaste há pouco, eu te enviei. Sofreste agora as angústias que Eu mesmo passei no Horto das Oliveiras.

Irmã Faustina então voltou a Ele os olhos estupefatos:

– Senhor! Mas por quê? Por que eu, Tua tão indigna serva, fui agraciada com Tua Paixão?

– Filha – Ele pousou Sua mão na cabeça da freira -, fiz isso porque queria que sentisses o que sentem os filhos que morrem assassinados nos ventres das mães perversas. A angústia que partilhei contigo é a mesma que sentem essas pobres almas antes morrer.  

A irmãzinha cobriu a boca com as mãos. De seus olhos arregalados, saíam agora lágrimas de pesar profundo. Jesus continuou:

– Peço-te, querida filha, que rezes por essas alminhas, que pouco têm quem lhes valha neste mundo. Reza por elas, e muito. E reza também por todas as mães, para que jamais cometam essa abominação. E por aquelas que já o fizeram, clama aos Céus para que se arrependam e busquem minha Misericórdia. Meu Amor seja contigo!

Desapareceu então o Misericordioso. A irmãzinha, ali mesmo, ajoelhada sobre uma poça de vômito, pôs-se a rezar.


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