SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Por Mais Deputados:  a falácia da representatividade

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

513 deputados são muito pouco
[José Cruz/Agência Brasil]


O Brasil precisa de mais legisladores. Com todo o respeito ao senso comum, mas desta vez, esse está completamente equivocado. Nesta semana, argumento por que é necessário aumentar o número de vereadores e deputados pelo Brasil.


Terça-Feira, 17 de Segumbro de 524

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui]

Nós temos vereadores e deputados de MENOS. A verdade é essa, por mais contra o senso comum que isso vá. Afinal, todo mundo defende uma REDUÇÃO no número de parlamentares. É um ERRO. É preciso justamente fazer o contrário.

Listo aqui as razões para que seja assim.

I.
Quanto mais representantes, melhor fica distribuída a representatividade. As casas legislativas ficam mais próximas da realidade que pretendem representar. Em suma, é mais voz para todo mundo, proporcionalmente ao peso de cada opinião.

Isso inclui a necessidade de os estados também terem uma câmara alta (Senado), para que uma melhor representatividade regional seja alcançada. Caso contrário, o foco fica restrito às regiões mais populosas. É preciso haver um sistema de freios e contrapesos eficaz para que o interior também possa fazer valer suas opiniões.

II.
Atualmente, temos 513 deputados. Para termos a mesma proporção de representatividade na câmara baixa que os países abaixo, deveríamos ter os seguintes números de deputados:

Reino Unido – 1.972 deputados
Alemanha – 1.291 deputados (no mínimo; hoje, seriam 1.764)
França – 1.722 deputados
Espanha – 1.507 deputados

Portugal – 4.516 deputados
Canadá – 1.856 deputados
Argentina – 1.134 deputados
Japão – 748 deputados
Austrália – 1.206 deputados

Isso só para citar poucos exemplos. O brasileiro é sub-representado em suas instituições representativas.

Ah! Mas os Estados Unidos têm 438 deputados.
Sim, mas isso não é problema nosso. É um problema deles – além de ser inconstitucional. Caso a Constituição fosse respeitada (art. I, seção 2), haveria um deputado para cada 30.000 habitantes (ou seja, 11.037 deputados). O número foi fixado em 435 por uma lei de 1911.

Se o Reino Unido usasse a proporção americana, a Casa dos Comuns teria apenas 88 deputados. O americano também é sub-representado em suas instituições representativas (ao menos, nas federais).

III.
A Lei da Oferta e da Demanda (Lei de Say) afirma que quanto maior for a demanda e/ou menor for a oferta de determinado produto, o preço desse sobe. Há uma valorização decorrente da escassez. Portanto, se quisermos que os representantes valham menos, é preciso que haja mais deles.

Os representantes devem valer menos por uma série de fatores. Por exemplo, ao reduzir-lhes a importância, o estímulo à corrupção diminui. Há uma redução no valor do pleito. A contrapartida pela eleição é menor, pelo que há uma diminuição no quanto se está disposto a investir na campanha.

IV.
Falando agora pragmaticamente, apenas garantindo que os atuais representantes não sintam risco de perder o cargo seria possível realizar qualquer reforma efetiva. O aumento no número de cargos resolve isso (se não garante, ao menos ajuda bastante).

Essas reformas também incluem reduzir drasticamente os privilégios. Com mais representantes, os privilégios ficam menos justificáveis e mais difíceis de serem sustentados.

Agora, sobre quais reformas propor, isso é tema para uma próxima coluna. Nesta, só queria vos convencer de que o senso comum, neste assunto, está equivocado.

4 COMENTÁRIOS

  1. Tendo a concordar com o Marcos. Administrar mais de mil pessoas para esta função que é extremamente importante é um desafio que pode tornar o que já é muito lento, ainda mais moroso!

    Sem falar que não alterando a sistemática (ratificando o que o Marcos colocou) e simplesmente aumentar a representatividade agravaria ainda mais o problema da sub-representatividade de fato.

    Além desta alteração necessária (voto distrital) ainda temos uma questão ainda mais grave: a atual barreira onde temos limites mínimo e máximo estabelecidos. Sejam 438 ou 438 mil deputados, seja distrital ou não, permaneceríamos com uma distorção.

    Hoje temos um limite máximo de 70 e limite mínimo de 8. Logo, a atual proporção é:
    – São Paulo: 70 deputados (teto)
    – Minas Gerais: 51 deputados
    – Rio de Janeiro: 41 deputados
    – Bahia: 36 deputados
    – Paraná: 27 deputados
    – Rio Grande do Sul: 27 deputados
    – Pernambuco: 23 deputados
    – Ceará: 22 deputados
    – Pará: 21 deputados
    – Santa Catarina: 17 deputados
    – Maranhão: 17 deputados
    – Goiás: 17 deputados
    – Amazonas: 10 deputados
    – Espírito Santo: 9 deputados
    – Paraíba: 9 deputados
    – Todos os outros estados com populações menores têm o mínimo de 8 deputados.

    Estritamente colocando a representatividade (sem os limites), teríamos:
    – São Paulo: 112 deputados
    – Minas Gerais: 51 deputados
    – Rio de Janeiro: 41 deputados
    – Bahia: 36 deputados
    – Paraná: 27 deputados
    – Rio Grande do Sul: 27 deputados
    – Pernambuco: 23 deputados
    – Ceará: 22 deputados
    – Pará: 21 deputados
    – Santa Catarina: 17 deputados
    – Maranhão: 17 deputados
    – Goiás: 17 deputados
    – Amazonas: 10 deputados
    – Espírito Santo: 9 deputados
    – Paraíba: 9 deputados
    – Rio Grande do Norte: 8 deputados
    – Mato Grosso: 8 deputados
    – Alagoas: 8 deputados
    – Piauí: 7 deputados
    – Distrito Federal: 7 deputados
    – Mato Grosso do Sul: 6 deputados
    – Sergipe: 5 deputados
    – Rondônia: 4 deputados
    – Tocantins: 3 deputados
    – Acre: 2 deputados
    – Amapá: 2 deputados
    – Roraima: 1 deputado

    Portanto vemos que todos seriam representado com ao menos 1 deputado: não precisaria haver este limite!

    Novamente: acreditar que uma maior quantidade de deputados aumentaria a eficiência (eficácia, sem comentários) do nosso poder legislativo é, a meu ver, uma inocência

    • Oi, Jorge. Já respondo a ti e ao Marcos aqui.

      1) Já tratei desse tema ao menos noutras três oportunidades. Seguem os linques:

      a) Brasil Paralelo e os Deputados Donos-do-Mandato Além de Outras Questões Representativas
      b) Reforma Eleitoral: uma proposta
      c) Por Eleições Melhores

      Vereis que enfrento algumas das questões levantadas por vós nos artigos acima (e em concordância com o que colocastes). Há ainda outras sobre as quais quero falar, mas ainda não fiz.

      2) Não entendo como “simplesmente aumentar” agravaria o problema, mas o ponto NUNCA foi esse. Ao menos, nunca SÓ esse. Por exemplo, está ali no texto:

      Isso inclui a necessidade de os estados também terem uma câmara alta (Senado), para que uma melhor representatividade regional seja alcançada. Caso contrário, o foco fica restrito às regiões mais populosas.

      Falando agora pragmaticamente, apenas garantindo que os atuais representantes não sintam risco de perder o cargo seria possível realizar qualquer reforma efetiva.

      É preciso aumentar; e já que vamos aumentar, que se aproveite isso para fazer as reformas necessárias.

      3) O Jorge disse: “Administrar mais de mil pessoas para esta função que é extremamente importante é um desafio que pode tornar o que já é muito lento, ainda mais moroso!”

      O número defendido por Platão e Aristóteles é 5.000 (5.040, por Platão, para ser exato). Eles não viam problema nessa quantidade – e com razão. Tudo dependeria das regras do jogo.

      É possível organizar os regimentos de forma a fazer com que funcione bem; e isso tenderia a acontecer simplesmente pela necessidade. Ainda que possa haver confusão no princípio, nalgum momento os ajustes acabariam sendo feitos.

      É preciso confiar também no processo. Faz parte.

  2. O autor está equivocado. O sistema de representação no Brasil é ruim, mas isso não diz respeito à quantidade de deputados, mas sim à forma com que são eleitos. Voto distrital é melhor, e é essa discussão, distrital ou proporcional, que é mais importante.

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