SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | A China faz o ‘L’, mas de ‘Lucy’

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

“Desta vez, será diferente!”, pensara ele. Não foi…

(Imagem: Lucy and the Football, by Joey Waggoner)


Se nossa política internacional fosse uma tirinha em quadrinhos, seria o Charlie Brown tentando chutar a bola de futebol americano. O final é sempre igual, mas a gente sempre crê que, desta vez, será diferente. Nunca é…


Quando Bolsonaro puxara o saco dos Estados Unidos durante o governo Trump, eu o critiquei. Por exemplo, em texto de julho de 2019, escrevi dos perigos de o Brasil entrar em disputas que não lhe dizem respeito. Trump perdeu a eleição, e o Brasil acabou numa posição delicada por iniciativa própria. Algo absolutamente desnecessário.

Da mesma forma, quando o Bolsonaro tomou lado na disputa entre Rússia e Ucrânia, voltei a expor minha contrariedade. Ainda creio não ser um conflito que nos diga respeito; não temos cacife para nos intrometer nessas disputas. Precisamos entender o nosso lugar no mundo.

O Brasil é um gigante de uma região irrelevante. Isso significa que somos atraentes para se fazer negócios, mas se entrarmos em crise política, social, e/ou econômica, ninguém dará a mínima. Enfim, somos alguém com quem todo mundo quer se envolver, mas para quem ninguém deseja assumir qualquer responsabilidade.

[Eu teria uma analogia para fazer aqui, mas, por decoro, não a farei. Simplesmente, espero que o leitor atento já a tenha percebido.]

Na geopolítica internacional, somos um país sem amigos e devemos agir de acordo com tal realidade. Nessa nossa situação, sempre que for possível não assumir lado algum, devemos ficar quietos. Se for para pecar, que pequemos pelo excesso de cautela; pelo lado da neutralidade.

Buenas, o que fez Lula esta semana? Assumiu lado sem nenhum constrangimento. Foi a China e: (a) declarou que Taiuã é parte da China; (b) tomou o lado russo no conflito com a Ucrânia, e (c) ainda bateu nos EE.UU. Claro, tudo isso em nome da paz.

Por que isso? Pois o governo adota postura diametralmente oposta àquela proferida certa feita por um embaixador brasileiro aos Estados Unidos: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.”

Tal afirmação é tão falsa quanto o seu contrário. Ambas as posturas já eram erradas durante a Guerra Fria [o contexto da frase], ainda que, então, o lado americano estivesse menos errado. Hoje, não há nada que as justifiquem.

Mais uma vez, o Brasil coloca-se numa posição de fragilidade, contra seus próprios interesses. Isso me permite encerrar o texto com uma outra analogia.

Não importa quem seja a Lucy a segurar a bola. O Brasil fará o papel do Charlie Brown. Lula acabou de pegar distância, certo de que, desta vez, nosso país será capaz de desferir o chute. No entanto, como na famosa tirinha de Schulz, o final é sabido.

Invariavelmente, Charlie Brown pateia em vão e se esborracha de costas no chão.

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