SANTO CONTO | O cético

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em Jo 20, 24 – 30 

Ninguém sabia dizer por onde andava Tomé naqueles dias. Teria sido preso? Fugira? Escondera-se em algum outro lugar? Ou simplesmente havia ficado perambulando sem destino certo entre as ruas da Judeia, desalentado, triste? Foi nesse estado que ele apareceu aos amigos naquela tarde, de repente irritando-se de vê-los tão alegres enquanto comiam:

– O que celebrais, afinal?

– Tomé! – adiantou-se Pedro, entusiasmado – Sê bem-vindo! Junta-te a nós, irmão! O Senhor está vivo e entre nós! Nós O vimos!

– Estás louco? Ou te julgas engraçado com tal blasfêmia, seu…

– Tomé – Maria pousou-lhe mão no ombro – é verdade. Ele tem estado entre nós todos estes dias.

Diante daquele olhar, o Apóstolo desarmou-se, entre aturdido e apiedado. Não se sentia capaz de contrariá-la naquele momento. Pobre mãe! Com certeza havia ali coisa maior, mais maligna. Estariam todos sofrendo de algum delírio? Seriam artes do diabo? Espíritos malignos a confundir os corações de seus amigos? Então, João também interveio:

– Tomé, irmão, todos nós O vimos. Mesmo. Ele ressuscitou dentre os mortos. Lembra-te das Escrituras, que…

– Não! – atalhou o Dídimo – Estais todos loucos! Não acredito! Ele está morto, todos sabemos! Isso nós vimos de fato! Quereis que eu creia? Pois bem! Se eu não O vir aqui, em carne e osso, e se não vir nas Suas mãos a abertura dos cravos, se não meter meu dedo no lugar dos cravos e não meter as minha mão no Seu lado chagado, não crerei!

E naquele momento mesmo, Jesus apareceu entre eles:

A paz esteja convosco!

E, voltando-se para Tomé, grave, expôs-lhe as Suas feridas e disse:

– Mete aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos, e aproxima também a tua mão e mete-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel!

Então o espírito do Apóstolo, armado, entrincheirado, capitulou. E de olhos marejados e coração disparado, ele caiu de joelhos, aos pés do Cristo e, chorando, bradou:

– Meu Senhor e Meu Deus!

E enquanto o Dídimo ainda chorava, Jesus pousou-lhe a mão da cabeça, apiedado:

Tu creste, Tomé, porque me viste; bem-aventurados os que crerem sem ter visto.

E como um pai que acode o filhinho após um tombo, ajudou o Apóstolo a erguer-se e tomou-o entre os braços. Em torno, apenas o silêncio e corações arrebatados.


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