BRUNA TORLAY丨Pais ausentes, filhos perversos?

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Esta é a semana mais preocupante do mês para pais de todo o Brasil. É fato que há uma quadrilha planejando e consumando ataques em escolas de todo o país, e o dia 20 de abril, data do massacre em Columbine, a inspiração dos delinquentes envolvidos nos desafios. Mais grave que a apreensão geral é a explicação banal na boca do povo: “são crianças com problemas familiares sérios”; “são frutos de um meio perverso”; “são vítimas de pais x ou y”.

É preciso que desfaçamos esses mitos sobre criminalidade e aceitemos que a personalidade criminosa pode dormir ao lado. Pais ausentes ou presentes podem ter em casa algum filho de personalidade criminosa, que mais cedo ou mais tarde escolha juntar-se às gangues centradas em atacar escolas — e a culpa não está em sua presença excessiva ou ausência fatal.

Só psicopatas participam de um negócio desse tipo. Só uma mente criminosa sente-se inspirada pela memória do massacre em Columbine. Só personalidades antissociais veem o dano ao próximo com frieza, como “etapa de um objetivo”. Eis a natureza das pessoas que entraram nessa quadrilha — muitos dos quais foram detidos pela polícia nas últimas semanas, em inúmeras operações discretas, com o objetivo de evitar pânico coletivo.

Não é, obviamente, a influência dos jogos que “produz” mentes criminosas. Todos nós, nascidos em algum momento desde o final dos anos 70, passamos a adolescência jogando videogame. O que não falta a esse brinquedo é violência gratuita. E isso afeta tanto a mente de uma pessoa sã quanto filmes de terror mambembes, como “Chuck, o brinquedo assassino” — ou seja, não a estimula a pensar em crimes. Nesse caso, o problema está na mente de quem vê, não no objeto contemplado.   

Tampouco na sociedade; nem mesmo na disfuncionalidade do ambiente familiar; e muito menos em quaisquer sintomas do atual divisionismo político. O mesmo vale para o Bullying. Não há relação causal mais absurda a se pensar. Quase todo mundo passa por isso. O perverso faz do fato a causa de seu crime porque é de sua natureza atribuir a responsabilidade de sua maldade às vítimas que sofrem com ela. O perverso é uma máquina de subverter a verdade.

E bem, a perversidade pode ser um componente da personalidade de seu filho, e sua única responsabilidade nessa conta é não dar-se conta; ou enganar-se; ou negar de pé-junto até que ele produza danos irreversíveis a terceiros. Ainda assim, talvez você se dê conta e não consiga ajudá-lo, uma vez que só podemos ajudar que deseja ser socorrido.

Stanton E. Samenow estudou a vida inteira a personalidade criminosa e seu tratamento e chegou às seguintes conclusões:

  1. O comportamento criminoso não é resultado do ambiente, mas das ESCOLHAS de um indivíduo;
  2. Fatores ambientais NÃO CAUSAM o crime;
  3. Má educação parental NÃO É CAUSA de criminalidade
  4. As pessoas NÃO SE TORNAM abusadoras e criminosas porque foram abusadas
  5. Indivíduos com uma mente criminosa vêem a vida de maneira diferente das pessoas responsáveis;
  6. A mente criminosa existe independentemente de leis particulares, cultura ou costumes;
  7. As desculpas dos criminosos após o ocorrido raramente refletem os seus verdadeiros motivos;
  8. Criminosos, não drogas, causam crimes;
  9. Os criminosos não são doentes mentais nem vítimas de vícios;
  10. As escolas devem combater o crime e não mimar os infratores.

Além dessas constatações, Samenow defende ainda, para nosso alívio, que os criminosos podem mudar, afinal, “a criminalidade reside em padrões de pensamento”, os quais, obviamente, “devem ser extirpados”. Contudo, o ambiente ao redor de um criminoso — a legislação penal de sua pátria — pode ser mais ou menos estimulante à percepção do criminoso quanto à vantagem em mudar, afinal, “os infratores não mudam quando estão isentos das consequências e são livres  para fazer o que quiserem”.  

A preocupação de pais com filhos de personalidades antissociais deveria consistir em ajuda-los; e a regra geral do direito, abandonar as teorias imbecis que atribuem a crimes todas as causas possíveis, menos a escolha de quem os cometeu. Seres-humanos escolhem entre agir bem ou agir mal.

O criminoso, contudo, pode ter MOTIVAÇÃO PARA MUDAR. Se tal motivação deve começar do exterior (penas realmente sérias, por exemplo, capazes de assusta-lo), ao ser interiorizada produz efeitos persistentes. Estamos completamente errados em nossa lida com criminosos ao trata-los como vítimas ou pessoas a serem “reabilitadas”. Reabilitar quem escolheu lesar outros? Não. O foco deve ser mudar os pensamentos que motivam o crime:

“Conselheiros e outros profissionais que trabalham com infratores devem adotar uma postura que provavelmente não estará de acordo com sua própria formação. Eles foram treinados para estender a mão às pessoas que estão sofrendo: para confortar os aflitos. Com o criminoso, seu trabalho é completamente diferente: cabe-lhes afligir os confortáveis. O conselheiro tem de ajudar o criminoso a fazer algo que a maioria de nós acharia desagradável: olhar para o espelho e reconhecer suas piores características.”
A condução da justiça é extremamente importante para ajudar infratores jovens e adultos a mudar. Ás vezes, uma criança levada a um conselheiro por um dos pais nunca teve acusações criminais contra si, embora tenha violado a lei inúmeras vezes. nessas situações, a pressão externa pode ser usada para remover privilégios ou oportunidades que são valiosos para os infratores.”

Stanton E. Samenow. Mitos sobre criminalidade – A personalidade criminosa e seu tratamento

Agora olhemos para nós e perguntemos:

Temos maturidade para reconhecer que um filho nosso pode fazer escolhas ruins, mesmo que os eduquemos bem? E que pessoas nascidas em ambientes disfuncionais costumam agir de forma responsável, sejam quais forem as adversidades que encontram na vida?

Temos maturidade para aceitar que há pessoas perversas (milionárias, ricas e pobres), cuja única chance de mudança depende de uma legislação penal pesada, para produzir o choque moral e eventual abertura ao reexame e mudança?

Temos equilíbrio o suficiente para admitir que essas pessoas são assim desde a infância e podem ser os nossos filhos?

Essas são as perguntas sérias; e são também as perguntas que a sociedade brasileira não está fazendo. Com um governo infestado de marxistas proclamando a relação entre perversidade e sociedade, com a consequente defesa de uma legislação penal que estimula o crime e o abuso, ao invés de coibi-lo, e uma parcela significativa da sociedade cruzando os braços ou aplaudindo o besteirol todo, resta-nos repensar o problema por inteiro para, no mínimo, lidar com ele conforme a realidade solicita.

Não será fácil.

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