OPINIÃO | Por Que Voto em Jair

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

No próximo domingo, meu voto para presidente é 22, Jair Bolsonaro.


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[A nominata completa, frisando votar no RS: 2228, Felipe Pedri (dep. fed.); 10111, Elton Oppermann (dep. est.); 100, Mourão (sen.); 22, Onyx (gov.); 22, Bolsonaro (pres.)].


INTRODUÇÃO

Voto, sim, em Bolsonaro. Reconheço que ele represente o militarismo republicano. Já eu sou monarquista. Nesse sentido, o presidente não poderia me representar menos. Porém, ainda assim, estou aqui, abrindo meu voto a ele.

Como posso eu justificar tal escolha? Buenas, respondo agora essa pergunta da melhor maneira que posso.

Resumidamente, na minha opinião, o Brasil necessita urgente e fundamentalmente duas coisas: mais “Brasil” e mais “Política”. Tendo isso, o tempo se encarrega do resto. Nesta eleição somente um candidato à presidência é capaz de prover ambas: Jair Messias Bolsonaro.

Eis, pois, a razão do meu voto. Claro, só essas afirmações são insuficientes. Não espero que meu leitor se satisfaça apenas com o resumo. Pois vou contar aqui o que me levou a abrir o voto à reeleição de Bolsonaro, bem como o que quero dizer com “mais ‘Brasil’ e mais ‘Política’”.

AMIGO NEO-LULISTA E BOA-FÉ

Ontem, um amigo me enviou um texto perguntando minha opinião. O texto era a justificativa dele para, pela primeira vez na vida, votar em Lula. Acabamos passando o resto da tarde conversando sobre nossas diferenças. Este texto é resultado daquele debate.

A escolha do voto, para mim, é o de menos. Por que se escolhe, me importa mais. O mito do bom selvagem do Rousseau é um câncer. Muitas pessoas foram levadas a acreditar que se forem capazes de alcançar o fundo de seus corações encontrarão o Bem. Aí, evidentemente, quem discordar delas só pode estar manifestando o Mal. Nada pode estar mais longe da Verdade.

Conversamos em boa-fé. Eu disse a ele que, na superfície, até não via muitas margens para discordâncias. Contudo, eu rejeitava os fundamentos dele.

O que me incomodou na decisão dele foi isto:
– a suspeita de golpe por parte do Bolsonaro, quando são as instituições vigentes que estão agindo de forma golpista (o que, admito, ele chegou a reconhecer);
– a esperança de que o regime vigente seja capaz de restaurar a normalidade, quando a crise é causada justamente pelo atual regime;
– a crença de que o Lula possa dar uma volta de 180o e estabelecer a nova ordem, quando foi Lula quem justamente acelerou o processo de degradação institucional que nos trouxe até aqui; e, principalmente,
– a opinião de que seja melhor um país sem Direita do que um com a Direita reconhecidamente capenga que temos.

Foi essa última parte onde a Nova República mais errou. Se estamos em crise, esse é o principal fator.

CONCÓRDIA EM DESACORDO

Ressaltei a ele que acredito ser possível que ele viesse revisar os pontos acima, concordar comigo, e ainda assim decidir pelo Lula. Não acredito que minhas conclusões sejam inevitáveis; nem para quem eventualmente trilhe caminho semelhante ao meu. Mas eu tenho minhas conclusões; as minhas razões para votar em Bolsonaro.

Eu obviamente não creio em golpe de Bolsonaro; nem em retorno à normalidade no atual regime; nem no Lula fazendo aquilo que deveria fazer; e muito menos em que jogar toda a Direita de volta à Extrema possa fazer qualquer bem. Todavia, pela conversa, descobri que meu apoio ao Bolsonaro não se limita a isso.

Essa descoberta só foi possível porque não conversamos para convencer um ao outro, mas para entendermos tanto um ao outro quanto cada um a si mesmo.

UMA CRISE DE AUTORIDADE

Há uma crise de autoridade que ainda não foi plenamente admitida. A causa é um longo processo. Não foi algo que ocorreu de repente.

Reconheçamos que política é suja e obriga à realização de acordos em que é preciso tolerar muitas idéias que se crê horríveis. É assim, e isso tende a levar à opinião de que política seja algo ruim. Por outro lado, a ciência é exata, e tal exatidão é impositiva. Não há necessidade de se negociar a verdade científica. É ou não é. Ademais, avanços tecnológicos tornaram possíveis coisas que a humanidade em toda a História mal conseguira conceber. Isso levou à opinião de que ciência é algo bom.

Diante desse cenário, surgiu a dúvida: por que precisaríamos nos sujeitar à política? Afinal, os cientistas já teriam provado sua capacidade de resolver questões melhor do que o povo inculto. Assim, por força da ciência, os cientistas foram elevados à posição de autoridades públicas.

Essa é a causa de o estado moderno vir desde sempre num processo em que as instituições democráticas cedem continuamente mais poder para a máquina burocrática, para que as decisões políticas fiquem a salvo das mudanças de humor da população e reflitam a autoridade das lideranças científicas.

Grosso modo, é como se essas lideranças tivessem gradualmente se isolado numa Versalhes. Tal qual ocorreu com o Ancient Régime na França, chegou-se num ponto em que esse isolamento levou a uma ruptura. Os exemplos recentes abundam.

Brexit, Trump, Bolsonaro, Meloni, etc. são todos variações de um problema comum; cada qual com suas particularidades, desafios, defeitos, e circunstâncias. São manifestações de uma cisão entre a ordem institucional e a ordem real da sociedade; que são cíclicas, mas que parecem ter atingido proporções civilizacionais.

O problema comum é uma ordem constitucional que não reflete mais a ordem social. A população em geral não se reconhece mais nas autoridades e nas instituições que a representam. Com o passar dos anos, algo fundamental acabou ficando pelo caminho.

Não haveria crise se aqueles a quem recai o papel de preservar a ordem soubessem o que está errado. No entanto, essas não entendem como é possível estar-se em crise, pois, é fato, apenas fizeram o que sempre se fez; e, até pouco tempo, isso bastava.

DEMOCRACIA, MAS O POVO NÃO MANDA

Não compreendem a crise, pois não concebem a possibilidade que seja uma crise democrática. Afinal, as autoridades se reconhecem como democratas. Jamais pensaram deixar o povo de fora da ordem, tanto que se preservou a realização de eleições periódicas.

A impressão de que a democracia é respeitada, contudo, é falsa. Os pleitos acabaram restritos a querelas sobre gestão da máquina pública. Política é mais do que isso. Porém, essas questões mais relevantes foram deixadas fora do alcance da população. No fundo, estabeleceu-se uma “democracia” em que a opinião do povo não importa.

Quando uma parcela significativa do povo deixou de se reconhecer no consenso, essa viu-se sem meios de realizar qualquer mudança substancial. Votou-se contra o desarmamento, fez-se o Brexit, elegeram-se políticos com bandeiras de mudança, mas por todos os lugares o “status quo” não se rende nem busca ceder o que quer que seja. Assim, a crise apenas se agrava.

MAIS BRASIL E MAIS POLÍTICA

Como o resto do mundo vai resolver isso, não é problema meu. Como o Brasil vai resolver a parte que lhe cabe, é. Nós temos a ilusão de que uma eleição ou duas vai resolver tudo. Não vai. Bolsonaro ganhando ou perdendo, a crise continuará.

Eu voto em Bolsonaro não por acreditar que ele vá resolver a crise, mas por ser o único dentre os candidatos a apontar para a direção a qual o nosso país deve seguir. Repito: apenas Bolsonaro hoje representa a saída da crise – “mais Brasil e mais política”.

Por “Mais Brasil”, entendamos a recuperação de uma compreensão cívica da nossa História. O Brasil infelizmente não sabemos o que somos. Não lembramos. Nalgum momento, nós nos esquecemos da nossa identidade comunitária e parecemos ter medo de buscar a resposta.

Há, no entanto, uma idéia de Brasilidade por trás do movimento que elegeu Bolsonaro. Ainda que seja algo indefinido, a manifestação de um anseio, a candidatura do presidente se sustenta sobre um desejo de fazer do Brasil Brasil; e, não, algo diferente do que realmente seja.

Há, por certo, a possibilidade de uma idéia errada de Brasil tornar-se dominante. Porém, seria preferível arriscar tal erro a mantermos essa amnésia política, essa vergonha constitucional, esse “Complexo de Vira-Lata” por que sofremos.

Para conseguirmos ser “mais Brasil”, é necessário que tenhamos “Mais Política”. Para isso, é preciso entender que política se faz no dia-a-dia; não, apenas quando há eleições. É feita por todos; não só, por políticos e burocratas.

Mais importante ainda, todavia, é o fato de política ser um constante exercício de responder quem nós somos. Só através da política podemos responder “quem somos o Brasil”.

Por ser resultado de “um constante exercício”, a resposta deve estar sempre aberta. Não é possível impor uma às outras definitivamente. Cada geração deve encontrar uma resposta, sem relevar àquelas providas pelas gerações anteriores, e sempre permitindo que as próximas possam dar as suas.

Ademais, a resposta deve abarcar a comunidade como um todo; não, apenas parte dela. É importante, pois, que as forças políticas presentes na sociedade participem ativamente do jogo político.

PELO DIREITO DE A DIREITA EXISTIR

Contudo, no Brasil, havia um lado sem representatividade. Por décadas, a Direita só assistiu distintas facções de Esquerda disputarem o poder. Isso é insustentável, e chegou ao limite. Bolsonaro surgiu como representante da população alheia ao consenso.

Não é sem ironia a Direita nacional ter o candidato dos “excluídos”. No rol de equívocos da Esquerda brasileira nas últimas décadas, estão a promoção de inclusão às custas da exclusão de outros e a tentativa de impor uma resposta definitiva sobre as outras.

A Nova República, ao se colocar contra a Direita, se definiu como um regime anti-político. Política se faz com pólos em oposição, um mantendo o outro em cheque; só que a Nova República combate a polarização.

Bolsonaro, ao representar o ressurgimento da Direita, tornou-se o candidato do resgate da política; e é por isso que o sistema deseja tanto que ele desapareça. O regime, aliás, não rejeita apenas o Bolsonaro. O que se realmente quer é que toda a Direita desapareça.

Isso inclui a mim e a ti, caro leitor (se fores de Direita). Inclui até a ingênua Direita anti-bolsonarista, que, na minha humilde opinião, deveria votar 22 – ainda que de luvas e tapando o nariz.

CONCLUSÃO

A Direita não irá desaparecer, por mais que o tentem. Só o que uma derrota de Bolsonaro conseguirá trazer é um agravamento da crise; consequência da busca por um sonho irrealizável – o da sobrevivência de um regime constitucional que, no fundo, já morreu.

9 COMENTÁRIOS

  1. Minha lista (sou de Santos/SP):
    Deputado Federal – 7007 – Ivan Sartori
    Deputado Estadual – 22444 – Tenente Coimbra
    Senador – 287 – Janaína Paschoal
    Governador – 10 – Tarcísio de Freitas
    Presidente – 22 – Jair Bolsonaro

      • DF – Basicamente por estar sempre aqui em Santos e pelo amplo conhecimento jurídico; tive oportunidade de conversar bastante, temos um bom alinhamento
        DE – foi o de mais difícil escolha; não o conheço pessoalmente, mas aparentemente tem também uma boa ideologia
        Janaína dispensa apresentações, mas o que mais destaco é a sua coerência desde que começou a vida pública. Ela é demais

        Governador e Presidente, sem comentários rs
        Só adicionaria que é a primeira vez na minha vida que vou votar com gosto pra governador em SP

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