Destaque para relato de uma sobrevivente dos campos de concentração da China publicado pela Vide Editorial
A primeira Muralha do ano traz novidades lançadas no apagar das luzes de 2022 e as primeiras de 2023. Acompanhe a seguir!
Fechando 2022
Na penúltima semana de 2022 a Editora Benedictus lançou Inverno intelectual, de Giovanni da Salara. A obra tem como foco a soberba intelectual contemporânea, que, imersa no relativismo, provoca na morte da Verdade e decretar, consequentemente, a morte de Deus e do sentido da existência. Perdido em seu inverno intelectual, o homem contemporâneo, inflado de soberba, decide negar a soberania de Deus sobre o Universo e fazer-se artífice de si mesmo, ecoando, dessa forma, o grito rebelde da Serpente: non serviam. O livro é o quinto da série “Inverno”, que vem sendo publicada pela Benedicuts desde 2021, e que conta com os títulos Inverno comunista, Inverno árabe, Inverno ateu e Inverno moral.
Também na penúltima semana do ano passado a É realizações lançou o livro São Domingos, de George Bernanos. Em edição bilíngue, com tradução do Frei André Luís Tavares, prior provincial da Ordem Dominicana no Brasil, e prefácio exclusivo de Monique Gosselin-Noat, professora emérita da Universidade Paris-Nanterre), a obra constitui uma leitura indispensável para os interessados na espiritualidade dominicana, para os apreciadores da literatura de Bernanos e para todos os que se fascinam pelo mistério da santidade. O autor reflete com eloquência poética e com profundidade psicológica sobre a vida do fundador da Ordem dos Pregadores – tradição que viria a ter entre seus expoentes personagens como Santo Tomás de Aquino e Santa Catarina de Sena. Escrito num momento decisivo da obra bernanosiana, o livro é a mais bem realizada das suas tentativas de imaginar a subjetividade dos santos: de exprimir, por meio da criação artística, esse que é o exemplo máximo de uma obra divina, sobrenatural.
Também na penúltima semana de dezembro a Editora Eleia lançou o título Retórica da ficção, de Wayne C. Booth. Nesta obra, o renomado crítico literário norte-americano conduz o leitor a métodos práticos do modo como se deve ler literatura. A metodologia utilizada por Booth revela como autor, texto e leitor se relacionam fornecendo, assim, um caminho ao verdadeiro modo de se fazer análises literárias.
E na última semana de 2022, a Editora E.D.A. fechou a ano com chave de ouro com o titulo Deus, o diabo, história e cultura, de Ricardo Peake Braga, uma coletânea de 33 resenhas de livros, escolhidos com base exclusivamente no gosto do autor, de forma quase aleatória, desde que sua leitura tenha sido prazerosa e inspiradora, sem qualquer critério de época, assunto ou estilo para sua escolha. No entanto, os temas dos livros e as interpretações de Peake Braga revelam, a olhos atentos, nas entrelinhas, o fio condutor do livro: o grande tema da ordem versus caos, construção versus destruição, e suas manifestações na História e na Cultura.
Abrindo 2023
A Vide Editorial abriu a ano com uma obra essencial para sobrevivermos a uma realidade que, em alguma medida, possivelmente viveremos por aqui, Fuga do inferno: o relato da testemunha-chave sobre os campos de concentração da China. O livro apresenta os relatos de Sayragul Sauytbay, uigure fugitiva da província de Xinjiang, para a jornalista Alexandra Cavelius, sobre os campos de concentração daquela província, habitada por uigures. Desde 2016, Xinjiang foi transformada pelo então Secretário Geral do Partido Comunista Chinês no maior Estado de vigilância do mundo. Uma rede de mais de 1.200 campos de concentração existe acima do solo, e cada vez mais relatórios mencionam também campos subterrâneos. Estima-se que cerca de 3 milhões de pessoas se encontrem detidas atualmente. São homens, mulheres, crianças e idosos que jamais cometeram um crime, e que nunca foram julgados, presos como animais, sofrendo lavagem cerebral, sendo humilhados diariamente e torturados de maneiras indescritíveis. Seguramente, ali acontece o maior extermínio deliberado de um único grupo étnico desde o Terceiro Reich. Sayragul Sauytbay, sobrevivente e fugitiva desse inferno na Terra, relata com detalhes o cotidiano dessa monstruosa realidade.
A Ecclesiae, dias depois da morte de Bento XVI, lançou A luz do mundo: o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos, que contém uma entrevista do jornalista alemão Peter Seewald com o saudoso Papa sobre os desafios da Igreja no mundo atual. Entre os diversos assuntos abordados na entrevista estão a ditadura do relativismo, ecumenismo e diálogo com o Islã, Maria e a mensagem e Fátima e o retorno de Cristo.
A Edições Kirion também abriu o ano com uma obra de excelência, As ferramentas perdidas da aprendizagem, em que a estudiosa britânica Dorothy Leigh Sayers (1893 – 1957), ex-bolsista do Sommerville College e amiga de C.S. Lewis, apresenta um demolidor diagnóstico sobre os caminhos equivocados da educação moderna, que, segundo a própria autora, “é uma versão estragada e em frangalhos daquilo que um dia foi a educação”, e que piorou sobremaneira desde a publicação da obra, em 1947.
E a Sétimo Selo encerrou de maneira grandiosa a primeira semana de 2023 com o terceiro título de Northrop Frye publicado pela editora, A Bíblia e os mitos clássicos: a estrutura mitológica da cultura ocidental. Escrito em parceria com o poeta Jay Macpherson, o livro é composto de duas partes: na primeira, Frye apresenta um estudo da narrativa e da imagética dos textos bíblicos, baseado na concepção de sua unidade imaginativa e doutrinal. Pelo exame de seus temas e imagens recorrentes, Frye busca indicar como uma visão tradicional da Bíblia influenciou a poesia e o pensamento do mundo ocidental; na segunda parte, Macpherson reconta os principais mitos clássicos, explorando suas interconexões e suas sobrevidas em tradições europeias posteriores. Combinando as tradições bíblica e clássica, a obra oferece ao leitor uma introdução abrangente e acessível à mitologia ocidental.
É isso, caros leitores. Se 2022 foi um ano para ser esquecido, e 2023, ao que tudo indica, inicia um período a ser temido, enfrentemos as sombras que pairam sobre nós construindo uma firme grandiosa Muralha de Livros com os melhores tijolos. As dicas estão aqui. À luta, e até a semana que vem!