SANTO CONTO | O sacrifício

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em Gn 22

Pai e filho já estavam no meio da subida quando o menino pediu para descansar um pouco. O monte era pedregoso e íngreme, e o pequeno carregava o feixe de lenha para o sacrifício, um fardo considerável para sua idade. O homem assentiu e olhou com um misto de orgulho e tristeza para o filho. Levava consigo as cordas, o fogo e a faca para a cerimônia, mas sobre seus ombros e em seu coração caía um peso muito maior que o que o garoto levava, e também ele precisava parar para respirar.

Foi durante aquela pausa que o menino perguntou, olhando em torno:

– Pai, nós temos aqui as cordas, a faca, a lenha e o fogo para o holocausto, mas cadê o carneiro?

– Não se preocupe, filho – o homem engoliu em seco, seu coração doía e pesava –, isso o Senhor nos arranjará quando for a hora.

O pequeno confiou no pai e já foi se levantando para o último estirão. Apesar da carga que levava, ia feliz por aquela ocasião de adoração a Deus com seu pai. Seu coração estava alegre e leve.

 O homem, por sua vez, encontrava cada vez mais dificuldade em terminar a subida. Cada passo era cansativo e doloroso, a respiração era dificultosa, a garganta ardia em secura, o peito doía, seus músculos iam se endurecendo, querendo travar.  Nos últimos metros, já ia encurvado e lento como um velho. Mas prosseguia.

Quando chegaram ao topo, no lugar indicado por Deus, o homem evitava olhar para o filho. Sobre uma pedra que ali estava preparou o altar de cerimônia e então olhou para o menino, que lhe estendia as cordas, e cujo olhar lhe dizia que compreendera tudo, e que não tinha medo, como se dissesse “Tudo bem, pai. Apenas faça o que manda o Senhor”.

De fato, o garoto deixou-se amarrar tranquilamente, e deitou na pedra com um olhar conformado e confiante. O homem então olhou para o céu, fez uma prece em voz baixa e, com o braço trêmulo e arfando, ergueu a faca sem vacilar. Mas naquele momento sentiu como se uma força invisível lhe agarrasse o punho, e então escutou uma voz que vinha do alto e o chamava:

Abraão! Abraão!

Ele deixou cair a faca e se prostrou por terra:

Eis-me aqui!

Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora sei que temes a Deus, pois não recusaste teu próprio filho, teu filho único.

O homem orou em ação de graças, em voz alta, e um choro de pesar que ele vinha guardando desaguou em lágrimas de alegria e amor. Seu coração exultava. E, enquanto se levantava, ouviu um balido e viu, se debatendo numa moita de espinhos, um carneiro preso pelos chifres.


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