DOSE DE FÉ | São Raimundo Penhaforte

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Padroeiro da Lei Canônica, São Raimundo Penhaforte foi confessor de um Papa, converteu à Igreja milhares de muçulmanos e judeus, salvou da perdição um rei promíscuo,  ajudou a expulsar hereges da Espanha, andou sobre o mar e viveu até os 100 anos de idade

Hoje é dia de São Raimundo Penhaforte, sacerdote.

De família nobre, Raimundo nasceu na Catalunha, na Espanha, em 1175. Desde pequeno nutria grande interesse pelos estudos e inclinação à vida religiosa. Aos 20 anos já era catedrático de Artes Livres na Universidade de Barcelona. Pouco depois, seguiu para Bolonha, na Itália, onde continuou lecionando e onde se formou em Direito Civil e Eclesiástico. Na mesma universidade em que se formou, assumiu a cátedra de Direito Canônico. Sua fama de erudição se espalhou rapidamente, assim como a de piedade, pois Raimundo era muito generoso na assistência aos pobres, dos quais fazia questão de cuidar pessoalmente, inclusive com assistência jurídica gratuita.

Em 1220, de volta à Espanha, Raimundo foi ordenado sacerdote e nomeado Vigário-Geral da Diocese de Barcelona. Em 1230 foi chamado a Roma pelo Papa Gregório IX, de quem foi confessor durante 8 anos. A pedido do Pontífice, auxiliou na elaboração, edição e codificação da Lei Canônica, os Decretais de Gregório IX, que se tornaram referência ao Código do Direito Canônico até os dias de hoje.

Em 1238, Gregório IX nomeou Padre Raimundo como Arcebispo de Tarragona, mas o sacerdote não se achava digno do cargo, a ponto de adoecer gravemente e o Pontífice revogar sua decisão. Por esse tempo, colaborou com seu amigo São Pedro Nolasco na fundação da Ordem das Mercês, Congregação mendicante que libertou milhares de cristãos escravos dos muçulmanos no Oriente. Padre Raimundo escreveu as Regras da Ordem.

Ainda em 1238, os Dominicanos chegaram a Barcelona, e o estilo de vida da Ordem encantou Padre Raimundo, que se juntou a eles. Naquele mesmo ano, quando faleceu o Superior Geral dos Dominicanos, Frei Raimundo foi aclamado para sucedê-lo. Em agradecimento, durante dois anos Frei Raimundo viajou a pé a cada um dos mosteiros da Ordem. Depois disso, novamente se sentindo indigno de um alto cargo, pediu afastamento da direção dos Dominicanos para viver uma vida de isolamento, oração e penitência. Por essa época ele já gozava de grande fama de santidade, pois há tempos operava diversos prodígios.

Em 1245, quando completou 70 anos, Frei Raimundo voltou a trabalhar com a educação. Fundou dois seminários em que as aulas eram ministradas em hebraico e árabe, com o intuito de atrair judeus e muçulmanos à conversão. A iniciativa, que contou com a ajuda de seu amigo São Tomás de Aquino (que escreveu a Suma contra os gentios especialmente para a empreitada de São Raimundo Penhaforte), milhares foram convertidos em poucos anos, sobretudo entre os árabes. Também atuou junto ao rei Jaime II a promover debates sobre cristianismo e judaísmo entre um rabino e um judeu convertido que se tornou padre dominicano. Tais conferências também foram importantes para a conversão de muitos judeus.

A influência de São Raimundo Penhaforte sobre Jaime I, de quem passou a ser confessor, também foi decisiva para a salvação da alma do rei de Aragão. O monarca espanhol levava uma vida desregrada e se converteu pelas admoestações e por um milagre que presenciou na ilha de Mallorca: o rei havia levado para lá uma amante, e Frei Raimundo, após repreendê-lo, quis deixar a ilha. No entanto, o rei deu ordem proibindo a saída de todas as embarcações. O padre, então, jogou seu manto sobre as águas e foi tranquilamente embora.

Também foi importante a atuação de São Raimundo junto a Jaime I contra os albigenenses (ou cátaros, seita herética violenta que devastou boa parte da Europa no século XIII), que foram rapidamente expulsos da Espanha.

O grande confessor espanhol também deixou um importante legado intelectual para a Igreja com muitos escritos. Sua principal obra é a Suma dos Casos, um manual de orientação de consciência para confessores que é referência até os dias de hoje.

São Raimundo Penhaforte morreu em 6 de janeiro de 1275, aos 100 anos de idade, após uma vida de incríveis feitos. Canonizado em 1601 por Clemente VIII, ele é o Padroeiro da Lei Canônica e um dos Padroeiro dos advogados.

São Raimundo Penhaforte, rogai por nós!

 

Frei Raimundo vai embora

Quando o Jaime Primeiro viajou
à Ilha de Mallorca, acobertou
a amante que levava ali consigo,
e ao sabê-lo, seu confessor e amigo,

o bom e piedoso Frei Raimundo,
repreendeu-o e foi-se, furibundo,
embora, mas o rei não permitiu,
pois toda a ação nos portos proibiu.

O Frei, então, jogou por sobre o mar
seu manto, e nele pôs-se a navegar,
e enquanto sossegado ele ia embora,

caiu prostrado o rei na mesma hora,
e dos seus vis pecados compungido,
rezou, enfim, a Cristo convertido.

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