FILOSOFIA INTEGRAL | A natureza da nação

Quando a nação é vista como um corpo místico, os atos do seu governo são encarados não apenas como processos burocráticos, mas como ações espirituais, capazes de contaminar a alma do seu povo. A fé na existência ontológica do Estado leva à crença de que, se o centro do poder do país é mau, todo o resto estará, inapelavelmente, infectado.

Surge, então, uma aflição no coração das pessoas, não só pelo destino da nação, mas por si mesmas, como cidadãos. Elas temem que as práticas malévolas dos governantes lhes atinjam em seus espíritos e de seus compatriotas.

Ortega y Gasset, porém, diria que esta é uma preocupação infundada, pois, para ele, uma nação não tem nada de mística. Na verdade, ela não passa de uma construção, um artifício criado por causa de determinadas circunstâncias e interesses. Sangue, filiação, língua – nada disso forma uma nação; o que a forma é uma comunidade de empresa e objetivos.

Para Ortega, a relação entre os cidadãos e seu governos é meramente formal, jurídica, burocrática. Não há unidade ontológica entre eles. Isso não significa que, com o tempo, dessa relação não possam surgir tradições e culturas, sentimentos de irmandade e amor patriótico. No entanto, tudo isso não torna a nação um ente transcendental; ela continua sendo um artifício, nascido de projetos comuns.

Portanto, se um governo é mau, corrupto, maligno pode até causar estragos na vida daqueles que vivem sob sua jurisdição, porém, não é capaz de atingi-los, automaticamente, no âmago do seu ser; pode corrompê-los, porém, não como que por infusão, mas pelo exemplo e pela predisposição dos homens de imitar o que é mau e ser influenciado por ele.

Sendo assim, quando os governantes são maus, não é pela nossa alma que devemos temer; nem pelo espírito da nação – que sequer existe. Quando os governantes são maus, devemos nos preocupar em não sermos influenciados por eles, protegendo o nosso coração e a nossa mente de seus desvios.

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