SANTO CONTO | A soltura

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em At. 12, 1 – 11 

Acorrentado e cercado por dezesseis guardas, Pedro ia sendo levado como um troféu de Herodes pelas ruas de Jerusalém. O monarca pegara gosto por sangue e, desde que soubera que perseguir os seguidores de Cristo agradava a muitos de seus súditos, resolvera recrudescer ainda mais as perseguições. A morte de Tiago de Zebedeu, um dos tais doze amigos íntimos de Jesus, fora um espetáculo particularmente jubiloso, mas agora ele tinha em mãos seu maior trunfo depois do próprio Nazareno: aquele a quem o pretenso Rei dos Judeus havia legado como seu sucessor. Aquela execução precisava ser um espetáculo ímpar.

Era ainda o tempo pascal dos judeus, então era necessário esperar. Dali a alguns dias, a cidade assistiria a um evento de grandes proporções. Por enquanto, aquele desfile com o Apóstolo acorrentado já estava de bom tamanho como um aperitivo do que estava por vir, e Herodes, a assistir a tudo de longe, deliciava-se particularmente ao ver o povo que cercava o séquito: judeus furiosos que arremessavam verduras podres no prisioneiro, e vários encapuzados – certamente cristãos – que acompanhavam com aflição o desfile.

Pedro ficou muito bem guardado na prisão. Todo o lugar estava cercado de soldados, assim como a porta e o próprio interior de sua cela, onde o Apóstolo permanecia acorrentado entre dois guardas. A notícia de sua prisão espalhou-se por toda Jerusalém, e naquele mesmo dia todo o povo de Deus rezava piedosamente por ele em cada canto da cidade e até mesmo para além de seus muros. E as preces foram ouvidas pelo Céu.

Quando era alta madrugada, os soldados todos alertas, um imenso clarão tomou o lugar e todos caíram no sono. Então, o Anjo de Pedro apareceu-lhe no interior da cela, soltou-lhe os ferrolhos e o chamou:

Levanta-te depressa. Toma o teu cinto e as tuas sandálias. Põe sobre ti tua capa e segue-me.

O Apóstolo o acompanhou em silêncio, enquanto todos os cadeados, travas e fechaduras da prisão iam se abrindo sozinhos. Lá fora, quando já haviam atravessado a rua, o Anjo desapareceu sem dizer mais nada. Pedro ainda ficou alguns segundos como que olhando para o nada, maravilhado com o que acabara de presenciar. Tomou então consciência do milagre, e disse a si:

Agora sei verdadeiramente que o Senhor mandou Seu Anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus.

Deu graças ao Senhor, encapuzou-se e seguiu adiante, rumo a uma casa amiga. Por toda a Jerusalém, o povo de Deus ainda rezava pelo Apóstolo.

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