Solução para a caceteação política
O propósito desta coluna, caro leitor, é estabelecer um diálogo. Eu quero convidá-lo a refletir comigo sobre as conjunturas da nossa época — daí frequentemente esbarrarmos nos temas políticos. Mas aqui, é claro, não falamos apenas sobre política, sobre a parte que nos cabe nos desmandos de Brasília. Não. Às vezes, como faremos hoje, emergimos da vulgaridade dos debates de opinião e respiramos novos ares. Só temos de cuidar para que o ímpeto desta emersão não nos leve muito para cima, onde o ar é rarefeito e a percepção das coisas, ao invés de melhorar, piore – e muito.
Pretendo ser breve, leitor, não quero cansá-lo. É que estou a ler “Eram os deuses astronautas?”, de Erich von Däniken, e preciso partilhar uma impressão. Este livro, que “apresenta uma hipótese feita de muitas especulações”, é um sintoma. O homem contemporâneo — a primeira edição (alemã) é de 1968 — está doente, e este livro traz vários indícios não só de sua enfermidade, como também de sua debilidade. Trata-se de uma doença de tipo intelectual; mas não se preocupe, leitor, como eu disse, serei breve.
Desde que foi publicado, “Eram os deuses astronautas?” tornou-se um formidável sucesso editorial em todo o mundo. Sucesso garantido pela receptividade do público que, nos “efervescentes” anos 1960, atento às discussões do Concílio Vaticano II e às propostas indecentes da Revolução dos Costumes, tornou-se menos exigente. Pudera. Com hippies, roqueiros desafinados e sacanagem indiscriminada, não havia mais motivos para sustentar aquele bom ceticismo, o ceticismo positivo que impede o público de depositar fé nas mais completas asneiras.
Erich von Däniken, caro leitor, é um bom propagandista de ideias tortas. Mas, fiel à minha promessa de ser breve, concluo aqui a coluna de hoje com a exposição da perspectiva vesga do autor de “Eram os deuses astronautas?”: há dezenas, quiçá centenas de milhões de anos, seres extra-terrestres, com a pretensão mais descarada do universo, fecundaram animais terrestres – primatas – a fim de torná-los melhores. À vista do sucesso do projeto, os ET’s passaram a empreender incursões à Terra de tempos em tempos, para selecionar as criaturas híbridas que apresentavam os melhores índices de desenvolvimento.
À certa altura, os seres terrestres com DNA alienígena alcançaram tamanho patamar de progresso biológico e intelectual que passaram a se organizar nisto que nós hoje chamamos de sociedade – com todos os seus devidos atributos. É claro que a história é longa, mas, em suma, este é o panorama que os leitores do Sr. Däniken têm da história da humanidade. Nós somos, afinal, o produto da miscigenação entre a Cheeta e o ET Bilu. O que é que nós, os preguiçosos, não fazemos para nos livrar de falar sobre política, não? Mas por fim, caro leitor, para que você não termine a leitura desta coluna com a sensação de tempo perdido, deixo como recomendação o nosso Gilberto Freyre, o pai da sociologia brasileira entendia como ninguém de miscigenação — de gente, é claro. Deus me livre de cair nas mãos dos militantes pró-ET’s! Eles acusar-me-ão de “preconceito” e “discriminação” contra os alienígenas fascinados por macaquinhas.
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Acho que são os próprios ETs, pessoas mutantes… transetês!
Hahaha! Estamos cercados é por militantes pró-ET’s, Meri!
Hahaha, ótimo! Tempo bom, o do Gilberto. Mas hoje não te parece que estamos cercados de ETs?