DOSE DE FÉ | São Canuto IV

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Santo “shakespeariano”, São Canuto foi um rei martirizado por ocasião de conspirações palacianas engendradas por seu próprio irmão

Hoje é dia de São Canuto IV, rei e mártir.

Nascido em 1043, Canuto era o terceiro dos 13 filhos de Suenon II, rei da Dinamarca. Desde criança sempre mostrou-se virtuoso e inclinado à piedade, preferindo a vida de oração às brincadeiras e jogos infantis. Seu pai faleceu em 1076, sendo sucedido pelo primogênito Haroldo III. Com a morte deste, em 1080 Canuto foi elevado ao trono da Dinamarca – cuja coroa, naquele tempo, era legada de maneira eletiva entre os nobres.

Canuto IV foi um rei piedoso e enérgico: promoveu o bem-estar de seu povo, construindo dezenas de escolas, hospitais e albergues; trabalhou junto ao clero pela difusão e fortalecimento da fé na Dinamarca, construindo inúmeras igrejas e conventos no país; subjugou as tribos bárbaras e pagãs do Norte, combateu e derrotou os piratas liderados por Eigil, que ameaçavam o reino.

Suas posturas como rei, marido e pai eram sempre exemplares, pois ele acreditava que a melhor maneira de se educar um povo é pelo bom exemplo de seus governantes – um de seus filhos, inclusive, Carlos, o Bom, também foi elevado aos altares como Beato. Nesse sentido, ele também promoveu com firmeza a moralização dos costumes entre os nobres.

E foi entre a nobreza que se deu a ruína do santo rei. Em 1085, Canuto IV atendeu a um pedido de aliados ingleses para ajudá-los a derrotar o rei normando Guilherme I (ou Guilherme, o conquistador), que usurpava o trono inglês havia décadas. Por obra da traição de seu irmão Olavo, no entanto, a ofensiva de Canuto falhou, gerando enormes prejuízos para a Dinamarca. Para remediar esses prejuízos, o rei foi obrigado a elevar os impostos entre os nobres, o que gerou descontentamento entre aqueles que já não simpatizavam muito com seu soberano – e somem-se a isso as maquinações do príncipe Olavo contra o rei entre a elite do reino.

Houve insurreição e rebelião entre os nobres. Canuto, mal aconselhado por seu irmão traidor, não conseguiu sufocar a revolta. Em 19 de janeiro de 1086, o rei se encontrava orando, ajoelhado em frente ao altar na Igreja de Santo Albano, em Odense, e foi assassinado por um grupo de rebeldes. Junto com ele morreram seu irmão Bento e 17 outros nobres leais que o acompanhavam.

A morte de São Canuto IV, por ter sido em grande parte ocasionada pela defesa que ele fazia da Igreja e suas obras em nome da fé, foi considerada um martírio, e sobre seu túmulo houve a manifestação de inúmeros milagres. Por isso em 1101, ele foi canonizado pelo Papa Pascoal II.

Este santo “shakespeariano”, martirizado por ocasião de conspirações palacianas engendradas por seu próprio irmão, ganhou sua santa palma porque sempre teve seu coração voltado a Deus em primeiro lugar e procurou santificar seu reino fazendo-se exemplo de beatitude para seus súditos. Governantes como ele, ao que parece, estão extintos neste mundo há bastante tempo, sobrevivendo os baixos – uns melhores, outros piores, muitos do mesmo nível de seu irmão Olavo. Por isso, peçamos a intercessão e São Canuto IV junto ao Rei dos Reis para que ainda possamos ver este mundo governado por pessoas melhores, mais devotas e piedosas como ele mesmo foi:

São Canuto IV, rogai por nós!

 

O martírio de São Canuto IV

Rezando diante do altar,
braços em cruz e ajoelhado,
o rei entrega a Jesus
o seu trono e seu reinado.

Entram na igreja os rebeldes,
espada em punho e sedentos,
e logo fazem cumprir
seus execráveis intentos:

assassinam os presentes
com ódio no coração,
deixando para o final
o rei e seu pobre irmão.

A última vez ele reza,
os olhos fitos no Céu,
e já com sangue na boca
prova do acídulo fel.

Acorda já noutro Reino,
repleto de paz e luz,
e se prostra ao Rei dos Reis,
o Excelso Senhor Jesus.

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