VITOR MARCOLIN | Ano-Novo

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

A metafísica do momento

Escrito assim, com hífen, a expressão “ano-novo” transforma-se num substantivo masculino composto, é sinônimo do francófono “Réveillon”. É, portanto, a designação da celebração de um momento: a passagem do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro. Daí que das areias tépidas de Copacabana às calçadas gélidas da Times Square as multidões, cujo entusiasmo subsiste a despeito do frio ou do calor, entram no espírito litúrgico da contagem regressiva. Espera-se para celebrar o momento.

Sob a velha perspectiva aristotélica, o ano-novo é a mais lúcida de todas as datas comemorativas no calendário ocidental. Claro, no ocidente cristão há a celebração da Anunciação — o momento em que o Espírito Santo fecunda um óvulo da Virgem Maria, e ela concebe o Logos Divino – e do Natal. Mas o ano-novo, precisamente pelo seu caráter civil, “democratiza”, estende a possibilidade de reflexão a todos, inclusive aos ateus e aos antipáticos sempre de plantão.

É no momento que as coisas efetivamente acontecem, porque elas entram na esfera da existência no momento. O movimento, como diria Aristóteles, a passagem da potência ao ato, dá-se ali, entre o passado e o futuro. Enquanto, numa onda de entusiasmo coletivo, deixamo-nos inebriar pelos fogos de artifício, pelo ribombar e faiscar dos foguetes; enquanto driblamos os trombadinhas em Copacabana ou evitamos escorregar no gelo na Times Square, aguardamos pela singularidade temporal. E ela vem, apresenta-se e desaparece tão rápido quanto às luzes das primeiras bombas que explodem nos ares em sua homenagem. A diferença entre o ano-novo e o ano novo não é uma hifenização, mas uma sacada metafísica.

E, por fim, o momento chega para todos. E cada qual, à sua maneira, celebra-o. Com os acordes melancólicos da gaita de foles a tocar o auld lang syne ou com o pandeiro frenético a marcar os compassos do samba; sob o mormaço de Copacabana ou sob a neve da Times Square… Viva o momento!

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