Them: a incrível antologia de terror da Amazon Prime

Larissa Castelo Branco
Larissa Castelo Branco
Bibliotecária em hiatus que se aventura na escrita, revisora textual, metida a cinéfila e apaixonada por Comunicação e Literatura. Em constante batalha contra a desinformação e a histeria coletiva, aprendeu com a esquerda como um ser humano não deve ser.

Como alguém pode ficar mentalmente debilitado a partir da vivência de traumas e explodir em uma reação sanguinária? Them, a nova aposta da Amazon Prime, nos mostra

Após uma tragédia dilacerante, os Emory tentam ressignificar a convivência familiar deixando para trás a Carolina do Norte, cidade-palco do maior trauma de suas vidas e indo rumo a East Compton, um charmoso bairro em Los Angeles, onde a família resolve fincar raízes sem saber o que lhes esperava. É neste cenário que a família Emory travará uma verdadeira guerra com demônios deste e de outro plano.

O primeiro episódio já traz grandes promessas, com uma aura lânguida e tenebrosa, embalada por uma versão sombria de Somewhere Over The Rainbow. Bela referência que deixa o espectador já em estado de tensão nos primeiros segundos de exibição. Além desta, há outras referências estéticas e estruturais, em claras alusões ao diretor Jordan Peele e ao seriado American Horror Story.

O desenrolar da série é mostrado em 10 dias, contados para a instalação do caos psicológico na família, que já trazia uma intensa bagagem emocional e buscava reconstruir suas vidas.

Ao chegar na vizinhança, os Emory se tornam os “eles”: os únicos negros em um bairro majoritariamente branco em uma época – os anos 50 – onde a perseguição e segregação contra negros eram atos normalizados. A pressão psicológica exercida pelos “amáveis” vizinhos seria o suficiente para desencadear alterações psicológicas nos membros da família Emory, porém, há muito mais do que o terror causado por fatores terrenos.

Cada membro da família tem seu próprio demônio a combater, talvez seja neste ponto que haja a fusão dos elementos reais e sobrenaturais que os aterrorizam.

O pai, Henry Emory, é um engenheiro numa grande empresa, que precisa lidar com questões psicológicas densas: os traumas de combatente da Segunda Guerra, o racismo velado em seu local de trabalho, o incidente ocorrido no passado e seus vizinhos perturbadores. Henry aceita tudo polidamente, mas até homens bons têm seus limites…

A mãe, “Lucky” Emory, traumatizada com o passado e com constantes crises de ansiedade, precisa lidar com seus fantasmas e com os ataques diários dos vizinhos. Ela é perseguida por uma figura assombrosa, que a domina em determinados momentos, fazendo com que ataque suas filhas.

A filha mais velha, Ruby, desejar deixar de ser “feia”. Na percepção da menina, sua pele representa algo feio, esteticamente perturbador, e esta concepção, somada ao preconceito diário da vizinhança, alimenta um mal diário que se manifesta na forma de uma colega de escola gentil e acolhedora, mas que não é bem assim.

Gracie, a filha mais nova, tem como melhor amigo um livro no qual a personagem principal, a austera Sra Vera, traz à tona todos os seus medos e revela os impactos psicológicos deixados pelo passado, que a família tenta superar.

A série trata de forma magistral sobre os traumas que irrigam a mente humana e como estes dão vazão para pensamentos maléficos, que se manifestam e desencadeiam reações violentas e brutais. É importante comentar que em momento algum justifico os atos da família, porém, é interessante ver a construção dos fatos que levam ao clímax da série.

A trama é incômoda, sem medo de ser violenta. As cenas são extremamente desconfortáveis e os relatos encontrados na internet mostram que grande parte do público não conseguiu terminar de assistir, dado o incômodo que o diretor não mediu esforços para causar. Definitivamente, não se trata de uma série para amadores, a proposta é CHOCAR, e isso Them faz muito, mas muito bem.


Sou Homem e, por conseguinte, trago todos os demônios no meu coração.

– G. K. Chesterton

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