Fábio Gonçalves fala sobre sua nova empreitada literária voltada ao público juvenil
O talentoso e prestigiado escritor Fábio Gonçalves, destaque na nova literatura brasileira com Um milagre em Paraisópolis (Danúbio, 2020) e O retrato doente (Danúbio, 2021), e da literatura infantil com João e o pé de feijão (João e Maria, 2023), A roupa nova do rei (João e Maria, 2024) e Meninos querem ser dinos (João e Maria, 2024), agora estreia na literatura infantojuvenil com uma série de livros sobre João Ramalho, importante personagem da história do Brasil em seu primeiro século.
O primeiro volume da série é A linhagem do herói, que apresenta o herói, aventureiro e empreendedor João Ramalho Segundo, seus antepassados e seus motivos para embarcar em uma grande jornada pelos mares.
Conheça mais sobre essa obra e seu desenvolvimento na entrevista que Fábio nos concedeu.
Revista Esmeril: Você já escrevia literatura para adultos e para crianças. Como foi se aventurar em uma série juvenil?
Fábio Gonçalves: É sempre um desafio escrever para um público novo. Há que se fazer vários ajustes na forma de se pensar a narrativa e de se construir o texto. E há sempre o risco de não funcionar, de ficar fora do tom, desinteressante. Realmente, uma aventura.
Mas, para mim, é uma aventura prazerosa. Literatura infanto-juvenil é, me parece, a que dá ao autor a maior liberdade, seja de concepção, seja estilo. De concepção porque a exigência de verossimilhança não é a do adulto, e isso nos permite levar mais longe e mais alto a nossa imaginação; de estilo porque os jovens leitores ainda não tomaram aulinhas de crítica literária, e portanto não ficam caçando no livro vícios dessa ou daquela escola.
E também os adolescentes são leitores muito dedicados e leais aos seus autores de gosto. Vá falar mal do C.S. Lewis, do Tolkien, do Doyle, do Verne.
Não que esteja no patamar desses mestres, mas sei que os leitores que gostarem da história gostarão sem reservas e farão a mais acalorada propaganda da obra.
Revista Esmeril: Qual foi a motivação para escrever sobre João Ramalho, e sobre o que trata esse primeiro volume da série?
Fábio Gonçalves: Primeiro que tinha a intenção de escrever para esse público, mas não via pretexto. Tinha também vontade de escrever histórias aventurescas, se possível com notas mais épicas, baseadas em personagens reais.
Veio-me a ideia quando estava escrevendo para um clube de cartas uma viagem ao litoral de São Paulo. Fui estudar mais atenciosamente o início da colonização portuguesa naquelas bandas e me deparei com personagens interessantíssimos: Tibiriçá, Bartira, Cunhambebe, São José de Anchieta, Hans Staden e, claro, o João Ramalho.
Mas eu não queria escrever estritamente um romance histórico, na linha de Walter Scott e Manzoni. Não queria e provavelmente não teria competência para tanto. Daí que me veio a ideia de aproveitar essa matriz histórica para conceber um personagem novo, um descendente do Ramalho primitivo.
O primeiro volume, como o subtítulo sugere, dá notícias sobre a linhagem do protagonista e explica o que o motivou a, quixotescamente, construir naus e caravelas e sair numa viagem de circum-navegação, à moda antiga.
Revista Esmeril: Quantos outros volumes terá essa série, e como eles estarão divididos?
Fábio Gonçalves: Ainda não sei quantos serão os volumes. Sei como a história começa e como termina. O meio ainda está indefinido. Tenho um palpite, mas não consigo cravar.
Revista Esmeril: Você pensa em continuar escrevendo livros juvenis? Já tem outros projetos em mente?
Fábio Gonçalves: Como disse, escrever para esse público é muito prazeroso. Tomara que eu tenha novas ideias! Por ora, no entanto, não tenho outros projetos; só consigo pensar na sequência do João Ramalho.