SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Metido a Poeta

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

“Pena de escrever”


A coluna traz quatro poemas escritos há bastante tempo pelo autor e que andavam esquecidos por aí. É uma forma de mostrar um pouco da personalidade do autor – sem pretensão alguma de expor talento.


Uma vez já fui adolescente, obscuro, inconstante, bêbado, apaixonado… Hoje, não sou mais adolescente.

Brincadeiras à parte [afinal, mal bebo], em pleno século XXI, padeci, como qualquer jovem normal e romântico, do “mal-do-século”. Me era corriqueiro sofrer por amores platônicos, distantes, noite à dentro, engarrafado, e extravasar o sentimento num pedaço de papel qualquer encontrado pelo caminho.

Quatro desses poemas sobreviveram ao tempo. Na última vez que os publiquei, os textos já eram velhos, e isso já fazem mais de quinze anos. Não voltei a me arriscar em poesia depois disso.

Tropecei neles por acaso nesta semana. Por menor que seja a qualidade dessas obras, reconheço, ainda assim resolvi compartilhá-las convosco. Elas não deixam de revelar algo de mim.


Mesmo Nas Noites Mais Frias

Paulo Roberto Tellechea Sanchotene

Acorrentado pelo destino que me deixou distante
Preso a uma vida seca, escura; incapaz de sonhar
A percorrer caminhos infelizes de trilhas errantes
Condenado, perdido, marcado; sem saber como lutar

O vento gelado do inverno corta fundo minh’alma
Lembrando a marca que deixaste e não cicatrizou
A chuva fina cai e congela meu corpo com calma
Sádica, só vem me recordar o mau que me enfeitiçou

Quando tudo isso passa, é a tristeza que fica; só ela
Com as lembranças do dia em que havia um sentido
Para a vida; com a tua presença, a pintar aquarelas
Quando teu sorriso era a força do meu coração falido

O mundo não se movia quando estava contigo
Eras quem o movia, ao sabor das tuas vontades
Hoje, descontrolada, a Terra sem rumo; castigo
A maltratar paixões e amores; sem ter piedade

A solução é a tua volta. Mas onde estás, bandida?
Ah! Sorrindo, vivendo, condenando outro alguém?
Sem ao menos pensar em mim, em curar a ferida
Que deixaste aberta e sofrida; ou com saudades, também?

Me faltam teus olhos, minhas estrelas-guias.
Preciso tua boca, tua força em teus beijos
Me envolver em teu corpo e esquentar minha vida
Teu calor é a segurança que quero em batalha
Nessa luta diária que é resistir e viver, ser feliz
Acordar de manhã e saber que é a tua voz que diz:
Vencedor é o homem que erra, que sabe que falha;
Mas que levanta quando cai, e mantém sempre erguida
A cabeça apontada em direção aos seus desejos
Que arranca as correntes e luta, mesmo nas noites mais frias


Ventos de Primavera

Paulo Roberto Tellechea Sanchotene

Sinto o aroma das flores invadindo o quarto
Empurrado pelo vento de Primavera
Toma conta de tudo
É como se estivesses aqui
A me envolver
Com teu cheiro, gestos e olhares
Me faz lembrar de ti
Uma sensação
Não, de paz, mas de esperança
É que a paz não combina contigo
A esperança, sim
Rio ao recordar
Dos momentos em que estivemos juntos.
De nossas indiferenças insuperáveis
Da tua imprevisibilidade e da minha insegurança
Como tudo isso diminui quando estamos próximos
E aumenta quando nos separamos
As flores me aproximam de ti
Me sinto melhor
A certeza em te ter é maior
Por mais incrível que pareça
Estou seguro
Não há obstáculos que superem o amor


Agonizando

Paulo Roberto Tellechea Sanchotene

Ar preciso de ar por mais que abra a janela o vento não me deixa

Menos sufocado suo frio meus olhos vermelhos arregalados o desespero em minha alma quero gritar quero gritar não encontro voz tremo tentando me agarrar no parapeito sem firmeza

Nas mãos uma dor profunda toma conta arde queima machuca me contorço sem alívio agonia transformada

Em pranto me maltrata me sinto perdido derrotado falido morto o coração destruído a mente enlouquecida amor essa droga que vicia se apodera de ti te aniquila insuportável viver

Sem ti sem teu olhar sem teu calor sem tua voz sem teus beijos sem teu cheiro vem cá me ajuda não agüento mais permanecer sem rumo sem nexo sem sentido sem respostas sem

Idéias a cabeça a girar transtornada a visão embaçada escurecida a garganta apertada o peito esmagado sinto

Ânsia como se precisasse me livrar de algo de ti das lembranças do teu sorriso da tua voz dizendo me ama me dá um beijo me abraça me salva não posso mais ficar

Só não consigo mais chegar em casa dormir na cama outrora vazia agora cheia de saudades do teu corpo em cima dela


corAÇÃO

Paulo Roberto Tellechea Sanchotene

O coração segue seu ritmo.
Bater.
No peito. Sofrer.
Defeito. Amor.
Perfeito. Vencer.
Sem medo. A dor.
Brinquedo. A vida.
Partida. Pedaços.
Beijos. Abraços.
Caminho.
Avanço. Sozinho.
A morte.
Faz forte. Não há fim.
Sempre assim.
Eu.
Insaciável. Idealizador.
Utópico. Perdido.
Te quero. Te desejo.
Te admiro. Te desconheço.
Não reconheço.
Nem final. Nem começo.
A fúria. Das batidas.
Do corAÇÃO.
Que é meu.
Mas to entrego. Se quiseres.
A mente.
Ciente. Consciente. Presente.
Domina. Mas não controla.
A emoção.
Que se sente. Não se explica.
Que se sofre. Que suplica.
O amor teu.

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