BRUNA TORLAY丨Maltrapilhos e desgarrados

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Eu sou mesmo uma pessoa impressionável. Levo susto com a quantidade de boas almas dispostas a dar ouvidos a gente que recebe para emitir opiniões de aluguel em prol de facções políticas de quinta categoria, alardeando-se vozes oficiais da visão política que sequer tem legitimidade no Brasil, e cuja consolidação não ocorrerá sem a criação de um partido próprio, o que as Instituições inviabilizam propositalmente, quando não auxiliadas pelos sabotadores de plantão.

É evidente que o ex-presidente da República não apita nada no PL, embora o senhor Valdemar da Costa Neto, para quem os deputados conservadores são mercadoria de luxo, semelhantes a figuras caricatas que já lhe serviram como puxadores de voto num passado recente; empregue todos os seus recursos fazendo parecer que Bolsonaro ainda apite alguma coisa. Se apita mesmo, apita mal, ao insistir no compromisso com alguns militares que só fizeram besteira ao longo de seu governo, além de representarem o pior da vida política nacional: burrice, incultura, tecnocracia de boteco e espírito revolucionário travestido em prudência e sofisticação.

Argumentos maltrapilhos são enfiados goela abaixo de uma base imbecilizada pelo anseio de não perder seu último fio de esperança; e difundidos por gente mau-caráter a ponto de argumentar em favor da indicação, por parte do atual presidente, o Molusco barbado, de seu advogado de defesa para o supremo tribunal federal, a corte política que tem feito o uso do poder cabível ao legislativo, desde que essa instituição desgarrada daqueles que dela “participam” (nós, as mulas votantes), simplesmente resolveu fazer de si um balcão de negócios pessoais consistente. Argumentos maltrapilhos em favor de representantes desgarrados de Câmara e Senado, aferrados tão só à burocracia associada aos seus negócios privados.

Quem diria que a tal “primavera brasileira” começada em 2013 seria tão rapidamente absorvida pela classe parasitária atuante em Brasília? Quem diria que o próprio ex-presidente, eleito para equilibrar o estorvo da hegemonia esquerdista, se tornaria o seu mais vívido colaborador? Quem tem cérebro e votou nele por ser, à ocasião, o mal menor, não está exatamente espantado. Mas e a legião de acólitos que fez fila para ganhar com ele uma fotografia, como se ali guardasse da história nacional a prova de nela ter tomado parte?

Esses coitados não conseguem desapegar das ilusões que lhes permitem sonhar de vez em quando. E é o sangue dessas almas penadas que visa a ambição costumeira do presidente do PL, já descaradamente um negociador barato da nova força política, destinada a desvanecer sob o apetite dos sanguessugas. Dessa caterva fazem parte os portadores de argumentos maltrapilhos, cuja audiência condicionam fingindo apreço ao líder, o qual só escamoteia seu apego ao emprego provisório. Será que são bem pagos?

O PT inventou as MAVs para que o Centrão, aliado histórico de qualquer um que esteja no poder, reinventasse sua ação política nos tempos de supremacia da internet. E nós, brasileiros, somos um bando de trouxas dominados pela mais sincera imoralidade, por baixo do pano; enquanto por cima do pano usamos a fé alheia como argumento de venda das piores mercadorias que poderíamos oferecer em praça pública.

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