SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Trans-Ateísmo ou Sobre Fé e Razão

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).
“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” (São João Paulo II)

Deus não existe. Por isso que não há qualquer contradição entre religião e ciência ou entre fé e razão. São complementares. Tentei explicar isso a um ateu militante numa rede social, mas falhei. Resolvi tentar de novo, mas aqui.

Terça-Feira, 24 de Segumbro de 524

Deus não existe.” Foi exatamente o que afirmei num debate inútil contra um ateu anti-religioso no Facebook. Era uma postagem dizendo que as religiões seriam contra a ciência. Mostrara evidência em contrário, e um terceiro resolveu bater boca comigo. Já comecei a tréplica concordando com ele. Deus não existe. Por isso que qualquer exigência de comprovação científica da existência de Deus é bobagem. Ciência estuda o que existe. Portanto, ciência estuda tudo o que NÃO é Deus.

Agora, outro problema dessa exigência de comprovação científica é o fato de ser impossível de se explicar cientificamente por que a ciência funciona. A ciência é incapaz de justificar a si mesma. Se alguém que exige a comprovação científica de Deus tivesse que comprovar cientificamente a ciência, esse falharia completamente. “Por que” NÃO é uma pergunta científica. A pergunta científica é “COMO”. Ao se tentar entender a ciência, se deixa de fazer ciência e passa-se à filosofia. “Por que” é uma pergunta filosófica. É justamente a questão “por que” que nos leva a Deus. Para falar de Deus, ao se perguntar “Por Que”, Aristóteles teve que ir além daquilo que existe, além da natureza, além do mundo físico – “meta ta physika”. Metafísica não é ciência. O conhecimento de Deus, a experiência do Divino, se dá indiretamente; pelo contraste com o que não é Deus.

Deus não existe; mas o ser humano, sim. Logo, o homem não é Deus. Porém, por sermos inteligentes e capazes de entender as coisas [como disse o ateu raivoso num comentário], percebemos que a existência tem uma ORDEM. As coisas NÃO são caóticas. Temos dia e noite, fases da lua, estações do ano; tudo aquilo que é vivo nasce, amadurece, envelhece, e morre; o fogo é quente e queima; o gelo é frio; a pedra é dura; a água é molhada; a ciência é possível; etc. Nada disso é responsabilidade humana. Nós simplesmente já encontramos assim. As coisas fazem sentido independentemente da nossa vontade. Nós não fazemos ideia de o por quê ser assim. Só sabemos que é. Ao fazermos como Aristóteles e nos perguntarmos “por que”, a melhor Resposta que encontramos até hoje foi “Deus”. Uma Resposta que diz tudo, mas que não define nada. Ao reconhecermos Deus, apenas reconhecemos os limites da existência humana. “Deus” é uma Resposta sempre em aberto. Por Deus, entendemos que o “ser humano” NÃO é algo sobre o qual devemos DECIDIR; mas algo que precisamos DESCOBRIR. Sem Deus, perdemos a noção de humanidade.

Agora, pode-se chamar Deus por outros nomes, como, por exemplo: Bom; Belo; Justo; Verdadeiro. Quem crê haver Bem, Beleza, Justiça, e Verdade objetivas e independentes da mera vontade humana, essa pessoa crê em Deus ainda que negue. É um ateu trans. Aliás, trans-ateísmo é a melhor forma de ateísmo. Não há problema nenhum nessa. Assim, pode-se ser ateu à vontade.

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