ISRAEL SIMÕES | O sonho de um país independente

Israel Simões
Israel Simões
Terapeuta, filósofo clínico e curioso observador da vida cotidiana.

Independência não é uma pauta política, mas uma necessidade da psique humana. Quando transitamos da infância para a adolescência, buscamos estar livres daquela proteção controladora dos nossos pais. Queremos ter a capacidade de nos defendermos e de assumirmos as consequências dos nossos próprios atos.

Mas algumas crianças e adolescentes, por conta de características individuais que fogem aos padrões, como feiuras ou esquisitices, acabam sofrendo mais oposição do que suportam. Uma situação que exigiria dos pais estender o tempo de proteção dos filhos, até que eles estejam plenamente ajustados e fortalecidos.

E é nessa hora que muitos pais falham. Eles têm certeza de que os filhos estão se virando com os seus conflitos quando, na verdade, estão paralisados, sofrendo calados, aceitando a afronta sem força para se defender. São os jovens zoados que se tornam adultos frágeis, presos em uma eterna busca daquela proteção que, um dia, falhou.

A busca pelo pai ausente.

Mais velhos, eles irão substituir os parentes por outras figuras de autoridade: grupos de identificação, militâncias, instituições, governos, poderes judiciais. Andarão à sombra de qualquer um que seja mais forte, que lhes garanta sobrevivência, sem que eles precisem vencer suas próprias carências e fraquezas.

Sim, porque é menos trabalhoso depender do que amadurecer.

São os indivíduos traumatizados e não curados que abdicarão da sua independência em troca de proteção. Mais do que isso: alguns se tornarão amargurados e vingativos, enxergando nos sujeitos livres e autônomos aqueles valentões que, um dia, invadiram seu espaço e desrespeitaram a sua integridade física.

No âmago de suas dores e cicatrizes abertas, desejarão vê-los perseguidos, presos e impotentes. Porque um dia a liberdade lhes foi tirada, ela não deve ser direito de mais ninguém.

Agora expanda este raciocínio para uma nação inteira e você compreenderá o dilema ideológico que toma conta do nosso debate público: ser ou não ser independente. Se vamos construir o país que, de fato, abraça o poder da autonomia, ou ser eternamente dependente, preservando o direito de acusação contra os nossos colonizadores.

São dois os lados da nossa disputa política: os que querem permanecer crianças, fingindo condição de vítima para se embrenhar nos eternos estratagemas de vingança internacionais, e os que abraçam o sonho de um país pelo menos adolescente, sem medo da agressividade, da briga justa de vitórias e derrotas entre os povos.

Entre os que tratam realidade no dualismo infantil dos opressores versus oprimidos e os que reconhecem, honestamente, ter gostado de chegar à adolescência, só para poder oprimir um pouquinho.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor