ISRAEL SIMÕES | Boa sorte Ramon Dino

Israel Simões
Israel Simões
Terapeuta, filósofo clínico e curioso observador da vida cotidiana.

Neste final de semana, na cidade americana de Orlando, estado da Flórida, acontece a próxima edição do Mister Olympia, maior evento de fisiculturismo do mundo. Na categoria que hoje mais atrai audiência, a Classic Physique, o brasileiro Ramon Dino enfrentará o quatro vezes campeão Chris Bumstead (o CBUM), que se tornou uma celebridade nas redes sociais por seu físico praticamente perfeito. Influenciadores ligados ao esporte ganham cada vez mais seguidores e visibilidade no Brasil, especialmente profissionais especializados em saúde e performance, como o médico Paulo Muzy e o educador físico Renato Cariani. Acreditem: o bodybuilding é uma das subculturas que mais cresce entre os homens e tem o poder de fazer resistência à agenda identitária fluida dos tempos modernos.

Pode parecer estranho para muita gente assistir homens musculosos em cima do palco com uma sunga mínima, tinta brilhante sobre o corpo, fazendo poses exibicionistas, caras e bocas, mas para além do showbusiness, o esporte movimenta estilos, padrões, costumes e até crenças. Quando um homem busca a máxima força física, ou pelo menos a aparência dela, por meio de dietas hipercalóricas, treinos de força intensos, rotinas rígidas de sono, suplementação e harmonização, não espere menos do que rock and roll como trilha sonora e uma estética de boxeadores de rua. As redes sociais das grandes estrelas do fisiculturismo estão se tornando verdadeiros clubes de masculinidade, com brincadeiras e gozações bem típicas dos garotões cheios de testosterona, descobrindo os prazeres das competições e vitórias.

Além disso, o fisiculturismo está resgatando uma disputa étnica saudável. Nas postagens de Urs Kalecinski, por exemplo, atleta que vem tentando furar o favoritismo de Dino e CBUM, é comum ver comentários como “made in germany”. Os próprios brasileiros se movimentam para exaltar a história de Ramon Dino, acreano de origem humilde que começou no esporte comendo apenas arroz e ovo, treinando com o peso do próprio corpo, até ser visto por um empresário em uma praça da sua cidade. São detalhes que forjam uma espécie de mitologia heroica, principalmente por meio do Instagram, onde as imagens dos treinos com altíssimas cargas ganham contrastes sombrios e mensagens de autoajuda.

Nas categorias femininas, o esporte está longe de ter o mesmo destaque, uma vez que a harmonização em mulheres produz efeitos mais adversos na estética corporal. É mais fácil unir beleza e força nos homens, indiscutivelmente. Ainda assim, a guerra travada pelas atletas para alcançar um corpo musculoso pode ser bastante inspiradora, especialmente nesses tempos em que as militâncias ideológicas abraçam a flacidez e a obesidade como sinais de autenticidade. Entre as fãs de coxinhas e as loucas da dieta, parece que um corpo com glúteos e coxas avantajados vem sendo o mais desejado entre as mulheres nas academias, aproximando o fisiculturismo da estética popular predominante.

Da mesma forma entre os homens, com o acesso fácil a academias, suplementos e anabolizantes nos dias de hoje, é cada vez mais comum vermos, na rua, a exibição de corpos bastante robustos e vascularizados. “Trincados”, como dizem no meio. A consequência desta popularização do fitness é o reforçamento das diferenças estéticas entre homens e mulheres, um pontapé para as distinções também de biologias, papeis sociais, vocações, desejos, carreiras, potências. Um balde de água gelada nas agendas feministas e de ideologia de gênero.

Se Ramon Dino levará o Brasil ao palco do Mister Olympia, com seus famosos antebraços gigantes, sem qualquer equiparação entre os seus concorrentes, é certo que representará o trabalhador braçal brasileiro, o pedreiro, o carpinteiro, o lavrador, o caminhoneiro. Homens cuja força do braço ainda é o recurso para prover suas famílias e comunidades.

Portanto desejo sorte ao Dinossauro do Acre. Que suba no palco com a confiança de todos os rapazes e moças pendurados nas barras de ferro por este país, nada encostados ou preguiçosos, mas decididos a carregar pesos.

É desta disposição que esta geração precisa.  

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