ISRAEL SIMÕES丨Oppenheimer: o gênio justiçado

Israel Simões
Israel Simões
Terapeuta, filósofo clínico e curioso observador da vida cotidiana.

Existem dois tipos de homens no mundo: os que observam as estrelas e os que examinam ao redor. Eu vou distingui-los como o gênio e o político.

O gênio é perturbado por sonhos, visões e devaneios que beiram a loucura. O político está mais envolto em pensamentos, cálculos, estratégias e negócios.

O gênio vive o dilema de ter que encontrar um ambiente propício à operação criativa de sua genialidade, enquanto paga as contas e cuida da família. O político administra cada dimensão da sua vida como um quebra-cabeças muito bem encaixado, para que todos admirem o quanto ele cumpre, com perfeição, os seus diferentes papéis.

Ambos são ambiciosos, mas enquanto o gênio anseia pegar com as próprias mãos uma fração do universo, ainda que no silêncio solitário de seu laboratório, o político só realiza sua ganância sob os holofotes e aplausos da multidão.

Ao gênio a glória costuma vir depois de sua morte. Para o político chega precoce, por vezes na juventude.

Enquanto o gênio se deslumbra com a grandeza de sua descoberta, ao político importa somente a grandeza do seu próprio nome.

Com o poder nas mãos, os gênios abrem caminhos de bênção e de maldição. Cabe aos políticos decidir a rota.

Sim, porque criações geniais, em si, nada fazem a não ser tornar possível o que antes parecia impossível. Converter em ato o que é potência. São os políticos que definem o destino das genialidades.

Em geral, para o mal, porque eu já disse: eles não olham para o céu, mas examinam ao redor, distinguindo aliados de inimigos e selecionando alvos para serem destruídos. É assim que eles erigem o seu império, expandindo ilimitadamente o seu território de domínio.

Os gênios nada querem dominar exceto a arte e a ciência para, por meio delas, conversar com Deus e, quem sabe, ver a realidade de cima.

O político é animal, cria de Epitemeu.

O gênio é homem, filho de Prometeu.

E se o gênio ousa antecipar o futuro, dar a resposta antes da pergunta, paga o preço por sua genialidade agora, no mundo presente, cujo comando não está nas mãos de gênios, mas de políticos.

Esta é a tragédia do nosso tempo: que os poderes mais vulgares julguem as mentes mais brilhantes.

***

Robert Oppenheimer é um gênio da física que até tentou ser político, mas que acabou por ser de fato gênio, o verdadeiro sucessor de Albert Einstein, cuja biografia calhou de ser justiçada nas mãos do talentoso diretor britânico Christopher Nolan. O filme que carrega o seu nome, Oppenheimer, em exibição nos cinemas, é um belíssimo registro da façanha do Projeto Manhattan, que produziu as bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, entre 6 e 9 de agosto de 1945, dando um fim definitivo à Segunda Guerra Mundial. Sem fugir dos dilemas éticos que permeiam a invenção dos artefatos nucleares, Nolan nos coloca frente a frente com Oppenheimer, olho no olho, dando-nos o privilégio de testemunhar os seus raciocínios, impulsos, dramas e transas, cada experiência que forja a trajetória de um homem cuja vocação é operar milagres.

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