MURALHA DE LIVROS | Três grandes mestres

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Carpeaux, Píndaro e Eurípides entre os destaques da semana

Entre os estudos de literatura brasileira e a tragédia grega, três grandes mestres integram os destaques desta semana. Além deles, estudos de um dos grandes nomes da psicologia tomista, catequeses dos dois grandes últimos Papas da Igreja e dois lançamentos de estudiosos brasileiros sobre conservadorismo e o fim do mundo completam os tijolos desta Muralha.

Acompanhe a lista abaixo, e um excelente sábado!

Destaques

O primeiro destaque da semana é um lançamento da 7º Selo, Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira, de Otto Maria Carpeaux. Ao chegar no Brasil, Carpeaux encontrou as mesmas dificuldades que um estudante novato encontra diante da literatura nacional: por onde e como começar? Ele ainda era um “estrangeiro”, desconhecia as principais referências e não podia bem distinguir o valor de obras e autores. Então, para orientar-se em assunto tão difícil, elaborou a sua “pequena bibliografia” segundo os métodos que já conhecia: antes ler todas as obras e relativa crítica, traçou de maneira criteriosa a história das opiniões sobre os autores. Foi dessa maneira que um dos mais influentes críticos literários do Brasil no século XX aprendeu a conhecer e amar a terra e a gente do Brasil por meio da sua literatura, tornando-se, mais tarde, um de seus intérpretes mais lúcidos e compreensivos.

Nesta edição, o leitor encontrará ainda uma introdução do Professor José Carlos Zamboni sobre a vida de Carpeaux, uma seleção de artigos do autor sobre a literatura brasileira, em geral, e sobre seu próprio método, em particular, e um breve ensaio do crítico literário Franklin de Oliveira.

Leia abaixo algumas considerações do Professor Rodrigo Gurgel sobre a obra:

“Depois de muitos anos fora de catálogo, finalmente reeditaram a Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira. […] Esta obra continua atualíssima para todas aquelas pessoas que, quando se deparam com o universo da literatura brasileira, perguntam: Por onde começar? Qual o primeiro passo? Por onde eu começo a estudar? Aqui estão os livros básicos, o livros essenciais, tanto de história literária como de crítica literária, que podem servir como referências excelentes, apesar da passagem do tempo. […] Há muitos, excelentes estudos, que são sempre colocados de lado pela Universidade nos dias de hoje. Há uma infinidade de excelentes obras, de crítica, de teoria literária, que precisam ser recuperadas. E muitas dessas obras estão aqui, nesse trabalho maravilhoso do Carpeaux, que a Editora Sétimo Selo está nos dando de presente.”

Ainda, confira também uma importante observação do Professor José Carlos Zamboni sobre o livro:

“Além de ser uma história concisa da literatura brasileira – certamente a mais concisa de todas –, e de ter inovado na nomenclatura dos períodos, também oferece ao leitor uma relação de livros e ensaios, escritos antes de, nos anos 60, terem surgidos aqueles modismos metodológicos com a crítica acadêmica, como estruturalismo, semiótica, pós-estruturalismo, desconstrucionismo etc., que tornaram o texto crítico algo muito chato. Portanto, quem quiser um guia de leitura com aquilo que há de mais legível sobre literatura brasileira, esse livro do Carpeaux é fundamental.”

Como destaque também entram dois lançamentos de grandes mestres gregos. Pela Mnēma, asOdes olímpicas, de Píndaro,poeta beócio que viveu entre os séculos IV e V a.C., e que foi comparado a um rio de eloquência pelo grande Horácio, e de “príncipe dos poetas” por Quintiliano. Píndaro compôs dezessete livros de poesia de diferentes gêneros, dentre os quais os quatro livros de epinícios, preservados quase que totalmente intactos.

Os epinícios eram odes compostas para celebrar uma vitória nos jogos pan-helênicos (Olímpicos, Píticos, Ístmicos e Nemeios). A obra de Píndaro é a mais bem preservada dentre os nove líricos canônicos da Grécia Antiga e, além de sua intrínseca beleza e valor humanístico, é frequentemente a única, ou a mais antiga fonte de que dispomos sobre muitos
relatos mitológicos e eventos históricos importantes. Nos epinícios, Píndaro celebra a conquista de atletas e governantes poderosos, trata do poder divino, do fracasso humano, das lendas dos heróis e dos ideais morais e religiosos da sociedade grega.

As Odes Olímpicas celebram as vitórias conquistadas nos jogos atléticos realizados a cada quatro anos no santuário de Zeus em Olímpia. Os Jogos Olímpicos, que serviram de inspiração para as Olimpíadas modernas, foram o mais importante e duradouro evento cultural da Grécia Antiga, tendo se realizado por mais de mil anos, desde a sua primeira edição histórica em 776 a.C. até a sua proibição pelo imperador Teodósio I, em 393 d.C.

Esta publicação, que constitui o primeiro volume da coleção Biblioteca Monumenta dedicado a Píndaro, em nova e anotada tradução, conta ainda com uma alentada introdução geral sobre o autor, os epinícios e o ambiente dos jogos na Grécia Antiga. O volume também traz um apêndice com traduções das “Vidas de Píndaro” – biografias antigas e, muitas vezes, fantasiosas sobre a vida do poeta, mas que nos dizem bastante sobre sua recepção e apreciação na Antiguidade.

O livro está em pré-venda até 15/08, no site da editora, com 43% de desconto durante esse período. Os envios começam logo após o término da pré-venda.

Pela Editora 34, foi lançado o terceiro volume do Teatro Completo de Eurípides, um dos três grande nomes da tragédia rega junto com Sófocles e Ésquilo. A edição bilíngue, e que conta com estudos e tradução de Jaa Torrano, traz as peças As Suplicantes, Electra e Héracles. A primeia das peças apresenta o conflito que se instaura entre o dever de dar sepultura apropriada aos guerreiros de Argos que pereceram no ataque a Tebas e o risco de incorrer em novas disputas políticas. Já em Electra, a peça abre com a protagonista vivendo longe do palácio real, após a morte de seu pai Agamêmnon; com a chegada do irmão Orestes, este e Electra tramam uma vingança contra os responsáveis pelo assassinato do pai. Em Héracles, depois de resgatar o pai, a esposa e os filhos que se encontram ameaçados de morte pelo usurpador do trono de Tebas, o herói, que acabara de cumprir o último de seus doze trabalhos, é visitado pela deusa Fúria, causando uma reviravolta surpreendente no enredo da peça. 

Outros lançamentos

Pelo Centro Dom Bosco, Autoaperfeiçoamento, deRudolph Allers. A obra é fruto de observações clínicas feitas à luz da antropologia cristã, católica, que serve de suporte para as teorias de Rudolf Allers. Escrita com um tom informal que a permeia em todo seu decurso,
a obra revela-se um guia prático com o propósito de ajudar as pessoas a se verem como realmente são, por trás dos véus neuróticos sob os quais muitas vezes se escondem. Neste contexto, Alers propõe que qualquer aperfeiçoamento efetivo pressupõe mudanças de (maus) hábitos, o que só é possível a partir do momento em que uma pessoa os enxerga e compreende que são contrários à sua própria natureza intelectivo-volitiva

Pela Ecclesiae, Catequeses sobre os salmos e cânticos das Laudes e das Vésperas, de São João Paulo II e Bento XVI. Nesta série de catequeses, os dois Pontífices valeram-se da exegese bíblica e da Tradição, sobretudo dos Santos Padres, para comentar cada um dos salmos e cânticos dessas duas principais horas litúrgicas. As alocuções nos recordam que nossa oração deve realizar-se ininterruptamente; de fato, o Ofício Divino, com seus hinos que manifestam os vários sentimentos do espírito humano, está destinado a sustentar e servir de subsídio constante para a oração pessoal.

Pela Vide, 90 segundo para o Apocalipse, de Daniel Lopez. O título do livro foi inspirado no Relógio do Juízo Final, criado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos em 1947, instrumento que marca o quão perto a humanidade estaria de sua total destruição. No início deste ano, o relógio foi atualizado para 90 segundos da meia-noite. Afinal, rês anos após o início da pandemia, o mundo vive sob o fantasma de uma Terceira Guerra Mundial, e com rumores de escassez energética, alimentar e de uma ofensiva cibernética global — sem falar numa próxima pandemia. E por que tudo isso, se a humanidade já dispõe de tecnologia suficiente para que ninguém nunca mais precisasse pagar conta de luz, ou fosse privado de comida e conforto? Há, é claro, um pequeno grupo de superpoderosos globais que se fortalece com base na fome, na guerra, no medo e na desgraça dos povos. É de controle que se trata.

No entanto, diante dessas perspectiva apocalíptica, o autor propõe que busquemos outra, que se prefigura no sentido da Revelação que traz a Verdade, e que envolve uma escolha e um preparo, por parte dos cristãos, para que enfrentem o fim dos tempo e o fim do mundo da melhor forma possível, e rumo à felicidade que não está neste mundo, mas no próximo.

Por fim, O mínimo sobre conservadorismo, de Bruno Garschagen. O livro apresenta-se como um guia sobre o que é e o que não é conservadorismo, como o conservadorismo se prefigura como disposição e posição política, e o conservadorismo no Brasil – onde, nos últimos tempos, o termo “conservador” deixou de ser apenas um xingamento velado e passou a servir para qualificar tudo aquilo que surge contra a esquerda, só porque é contra a esquerda. Mas ser antiesquerda nem sempre significa ser conservador. Esta e outras questões são esclarecidas por Garshagen neste 26º volume da coleção O Mínimo.


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