FILOSOFIA INTEGRAL | Por uma filosofia mais simples

Mesmo gente interessada em filosofia e disposta a estudá-la reclama que muitos textos filosóficos são difíceis de se entender, que a linguagem usada pelos filósofos é muito complexa e que é desanimador se debruçar sobre um texto filosófico e conseguir absorver muito pouco dele. Eu, de minha parte, não tenho como negar a validade dessa experiência frustrante porque reconheço que muitos textos filosóficos são quase ininteligíveis. Mas será mesmo necessário que a filosofia seja tão complicada? Honestamente, eu tenho convicção que não.

Mas se os filósofos se expressam de maneira tão complexa, numa linguagem cifrada, quase hermética, saibam que isso se deve muito menos à complexidade da matéria que eles estão tratando do que de um certa arrogância do próprio filósofo, que costuma tratar seu objeto de estudo como algo misterioso, encoberto, inacessível às pessoas comuns. Se muitas pessoas, mesmo interessadas em filosofia, afastam-se dela, é porque têm a sensação de que elas não pertencem àquele universo reservado somente a iniciados. O interesse de quem busca a filosofia acaba não suplantando a dificuldade encontrada ao tentar fazer parte daquele mundo fechado e isso acaba as mantendo longe dos estudos filosóficos.

No entanto, a filosofia, por ser um exercicio de esclarecimento, jamais deveria agir como se tratasse de um conhecimento esotérico. Se seu objetivo é fazer do complexo compreensível, sua atividade tem de ser o oposto do hermetismo que, muitas vezes, lhe caracterizou.

Devemos lembrar que a filosofia nasceu nas ruas, como foi em Atenas, onde era discutida nos círculos de homens comuns, entre nobres e vagabundos, inteligentes e estúpidos, todos tentando refletir sobre a realidade e trocando suas opiniões uns com os outros, para só mais tarde se enclausular nos ambientes escolares e acabar sequestrados por virtuosos acadêmicos. A filosofia surgiu entre pessoas de verdade e se se restringiu a profissionais foi por um desvio de sua vocação.

A missão da filosofia é simplificar o complicado, tornar conhecido o misterioso, fazer familiar o estranho. O mundo, nas mãos da filosofia, deveria se tornar um lugar mais inteligível. Por esse motivo, ela é o exato oposto de qualquer tipo de esoterismo, que é caracterizado por complicar para selecionar seus integrantes, enquanto a filosofia descomplica para abranger.

É verdade que a complexidade da realidade pode ser, muitas vezes, intimidadora, apresentando fenômenos, em um primeiro momento, incompreensíveis e tornando a descrição do observado em palavras muito difícil. Ainda assim, o esforço é válido. Até porque a linguagem humana oferece vários recursos que podem ser usados pelo pensador para transmitir o conhecimento que ele obteve, de maneira a ser entendido por um maior número de pessoas. Grandes mestres do pensamento fizeram isso, como o próprio Ortega y Gasset, que inclusive dizia que “a clareza é a cortesia do filósofo”.

A filosofia, mesmo não devendo ser vulgar, decididamente pode ser clara. Só que, para isso, ela vai exigir do filósofo mais do que inteligência, mas sensibilidade para fazer de suas conclusões inteligíveis e assim cumprir devidamente sua missão.