FILOSOFIA INTEGRAL | Início do Autoconhecimento

Dificilmente, alguém discordaria da importância de conhecer o seu próprio eu. Seria negar a tradição ocidental, que desde a Grécia, com o seu “Conhece-te a ti mesmo”, valoriza o autoconhecimento como parte indispensável do desenvolvimento humano.

No entanto, conhecer a si mesmo não é algo simples. Todos temos a intuição de que o eu verdadeiro é algo muito íntimo e desvendá-lo exigiria um mergulho profundo nas entranhas da alma.

Não é por acaso que as pessoas fogem desse processo. Quando proponho, por exemplo, para os meus orientados, que nosso trabalho terá como objetivo o autoconhecimento, muitos deles, em princípio, ficam resistentes. Parece que prevêem, intuitivamente, que esse será um caminho difícil e doloroso e, assim, preferem evitá-lo ou desviar dele.

De fato, eles não estão totalmente errados. Conhecer a si mesmo pode ser assustador e até perigoso. Isso porque nosso mundo interior é um universo terrível, local de muitos fantasmas e demônios. Visitá-lo pode oferecer surpresas desagradáveis e, algumas vezes, frustrantes.

No entanto, conhecer-se mais profundamente não precisa, necessariamente, depender, desde o início, da atitude radical e violenta de mergulhar para dentro de si mesmo. Pelo contrário, pode-se começar de uma forma muito mais superficial, identificando, antes de tudo, quais são as nossas características mais exteriores para, a partir disso, ir desvelando, pouco a pouco e gradativamente as camadas mais interiores.

E esse início do autoconhecimento pelo exterior não é nenhum absurdo porque a forma como interagimos com o mundo é, além daquilo que temos acesso mais imediato, o primeiro dado que nos informa algo do nosso ser mais íntimo.

Nosso comportamento, nossos atos constantes e nossa forma costumeira de agir, se não definem quem nós somos, pelo menos, são indícios e sinais de quem somos. Nossas tendências caracterológicas, necessidades energéticas e gostos pessoais refletem algo do que somos intimamente. Por isso, se queremos começar a entender um pouco do nosso eu mais profundo, podemos olhar para as nossas atitudes cotidianas e ver nelas reflexos de quem somos.

Nesse sentido, o behaviorismo pode até ter errado, pelo exagero de definir o homem pelo seucomportamento. No entanto, ele pode ser útil ao direcionar a nossa observação não para um eu recôndito e fugidio, mas para a sua manifestação mais exterior, que é o seu agir no mundo. Se aceitarmos essa sua proposta, não como delimitadora do ser humano, mas como iniciadora da compreensão sobre ele, poderemos, aos poucos, nos aproximar do que somos mais profundamente.

Por isso, eu sempre afirmo que o processo de autoconhecimento não precisa ser tão doloroso nem tão difícil, desde que seja respeitada nele uma certa gradatividade. O que eu quero dizer é que, no processo de autoconhecimento, há uma sequência que deve ser respeitada, a fim de torná-lo mais fácil, eficiente, menos conflitivo e menos traumático. E o mais saudável é iniciar esse processo desde fora, compreendendo o que o nosso corpo exige, para, a partir disso, ir entendendo progressivamente quem nós somos, até avançarmos tão profundamente que, aí sim, poderemos dizer que realmente nos conhecemos.

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