FILOSOFIA INTEGRAL | O Que é Ser Inteligente

Numa sociedade de produção, como a nossa, onde o que mais importa é o fruto visível do nosso trabalho, são considerados mais capazes aqueles que apresentam os melhores resultados. É uma sociedade que olha para frente, para o que pode ser, para o que está por vir ─ para os efeitos dos esforços.

Desde o advento do positivismo, privilegiou-se a fábrica, o produto, em detrimento do pensamento contemplativo. Olhar para as coisas tentando simplesmente entendê-las passou a ser exercício de desocupados. Importa o que está sendo construído, o que está sendo criado.

Nesse tipo de mentalidade, são consideradas inteligentes aquelas pessoas que fazem cálculos, que sabem como transformar as coisas. Inteligência, nesse contexto, significa apresentar boas soluções, resolver problemas. Vivemos, desde o século XIX, a era dos engenheiros. E mesmo aqueles que exercem atividades humanas ─ filósofos, psicólogos, professores, cientistas, religiosos ─ são melhor considerados quando fazem de suas atividades algo mais pragmático, algo que tem resultados perceptíveis e, se possível, calculáveis.

O problema é que essa razão matemática ─ considerada inteligência pelo mundo contemporâneo ─ pode ser muito bem executada até mesmo por pessoas insanas. Há muitos loucos bons matemáticos, muitos lunáticos competentes contadores. Numa sociedade que privilegia o cálculo, já não se faz separação entre a sanidade e a loucura. Pior: costuma-se ter por loucos aqueles que não demonstram nenhuma aptidão para a resolução dos problemas materiais que ela tanto valoriza.

No entanto, quando falamos de inteligência, nos referimos a capacidade de inteligir (intelligere = inteligir, ler). Isso significa duas coisas: que há algo para ser lido e um significado naquilo que está sendo lido. Pensando assim, podemos dizer que apenas os seres humanos possuem a potência da inteligência, porque apenas eles, entre todos os seres, são capazes de ler aquilo que observam, ou seja, são capazes de extrair daquilo com que interagem algum significado. Em outras palavras, apenas os seres humanos são capazes de captar das coisas aquilo que as coisas comunicam, ou seja, são capazes de lê-las. Dizendo de uma forma ainda mais profunda: apenas os seres humanos são capazes de extrair das coisas sua essência, sua verdadeira natureza.

Sendo assim, podemos definir inteligência como a capacidade de ler a realidade. Mais ainda, como a potência para a compreensão dela.

Porém, isso nada tem a ver com o que se fará com o que se apreende, com os frutos que da compreensão se pode extrair. Tem a ver, apenas, com entendê-la. Enquanto a mentalidade pragmática olha para o futuro, para os resultados, a inteligência está voltada para o presente (a manifestação atual do objeto) e para o passado (a natureza do objeto, que é dada por suas causas).

Por isso, quando buscamos desenvolver a nossa inteligência, estamos, simplesmente, tentando aprimorar a nossa capacidade de entender a realidade. Não há nenhum mistério nisso, nem qualquer intenção escondida. Há apenas o desejo de entender o que nos cerca, o nosso mundo, a nossa existência.

Esforçar-se por ser inteligente, portanto, é a obrigação de qualquer pessoa que pretende passar por este mundo sem ser levado pelas circunstâncias. Desenvolver a inteligência não significa nada mais do que desenvolver a própria humanidade.

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