FILOSOFIA INTEGRAL | Maravilhamento Infantil

Se tem algo que as crianças possuem é o seu deslumbramento com o mundo. Toda criança tem aquela vivacidade natural de quem está constantemente maravilhada com o que vê. Ela olha para o universo como uma grande aventura, como algo que precisa ser desvendado gradativamente. A cada vez que se depara com a vida, para a criança é como cumprir uma missão heroica. Ela sente que tem que desbravar esse mundo.

Há tanta coisa nova que se apresenta, há tanto mistério, que a criança não cessa de se deslumbrar, empolgando-se constantemente com tudo o que percebe que tem para descobrir. Por isso, ela é naturalmente um ser aberto para o conhecimento, sempre disposto à expansão, com sede de saber mais, querendo entender aquilo que para ele é ainda uma pergunta.

Diferente do adulto que, muitas vezes, pressupõe que já sabe o suficiente e, por isso, se fecha para o aprendizado, a criança possui a humildade de quem sabe que é ignorante em muitas coisas. Por isso, ela não tem medo de questionar. Suas perguntas são sinceras, feitas por um coração maravilhado que olha para a existência como um aprendiz.

Se, como diz Aristóteles, a filosofia começa pelo maravilhamento, eu não tenho dúvida que toda criança tem uma alma filosófica.

Às vezes, eu me pergunto se quando Jesus Cristo afirmou que, se quiséssemos adentrar o reino dos céus, precisaríamos ser humildes como crianças, se ele não estava se referindo a esse maravilhamento infantil. Afinal, o que as crianças têm de distintivo que, nós, adultos, deveríamos ter, a ponto das portas do céu se abrirem para nós? Geralmente, pensamos na pureza como essa característica distintiva. Mas, para um adulto, essa pureza, além de ser um ideal inalcançável e impraticável, também exigiria dele um certo retrocesso intelectual. É impossível para um adulto inteligente ser puro como uma criança sem se tornar, ao mesmo tempo, meio imbecil. Todavia, há algo que o adulto pode preservar sem comprometer sua inteligência: aquele deslumbramento típico da juventude; aquele interesse questionador, que busca saber mais sobre as coisas que lhe cercam; aquele impulso inconformado que se lança a fazer com que os mistérios se revelem.

Talvez, o que Jesus Cristo estivesse ensinando era que os adultos não deveriam perder seu deslumbre com a vida, seu interesse nela, sua vontade de querer entender cada vez mais o seu sentido. Talvez, Jesus Cristo quisesse dizer que o reino de Deus está aberto para aqueles que se abrem para ele, da mesma maneira que a verdade se abre para quem se abre para ela.

Mas as pessoas, em determinado momento de suas vidas, perdem esse deslumbre com a existência e param de se questionar sobre ela. Chegam em um estágio de suas jornadas que, simplesmente, passam a viver a cotidianidade como servas de um sistema fechado e acabado, onde não há mais novidades nem mistérios. Já não mais se perguntam sobre as coisas e não procuram saber mais nada além daquilo que acreditam conhecer. Assim, cerram, por seu próprio movimento, as portas para a verdade. Fecham, assim, as portas para o céu.

Desenvolver uma personalidade filosófica não é – como é comum acreditar – exercitar pensamentos complexos e sutis, mas simplesmente pensar como criança, ou melhor, buscar conhecer as coisas com a mesma sinceridade e fome de verdade que as crianças têm.

Se, portanto, você quer ficar mais sábio, quer entender melhor as coisas, antes de se preocupar em ler, em anotar, em estudar, desperte em si aquele deslumbre de quem sabe que há muito ainda por conhecer. Maravilhe-se pela existência! Só uma pessoa maravilhada terá a disposição e a coragem para mergulhar profundamente no conhecimento de tudo.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2024

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor