SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Filme da Semana: “American Fiction”

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

“I don’t even believe in race.” (“Yeah. The problem is that everyone else does.”)


Vale a pena assistir “American Fiction”, concorrente à “Melhor Filme” no Oscar deste ano.


Terça-Feira, 21 de Quaresma de 524

Assisti um filmaço neste final-de-semana, o aclamado “American Fiction”, escrito e dirigido por Cord Jefferson. Cord é ex-jornalista e roteirista premiado, mas nunca havia trabalhado no cinema. No primeiro roteiro de filme que escreveu, aproveitou para dirigir a obra; e, francamente, ele foi muito bem nas duas tarefas.

A história é uma adaptação para o cinema de um livro publicado em 2001: “Erasure”, de Percival Everett. Confesso que ignorava completamente esse livro, mas o filme me deixou com bastante vontade de lê-lo.

O filme é tragicômico. É centrado na vida de Monk Ellison, escritor e professor de literatura (Percival também é ambos), cujos livros não fazem sucesso. Seu agente diz que as editoras querem “livros de negros” (posso falar isto aqui porque a cena está no trêiler), ao que Monk responde: “mas eu tenho um livro e sou negro.” Mas não é bem isso que “livro de negro” quer dizer.

Em meio a problemas de trabalho e familiares, Monk descobre o que a expressão significa e fica enojado. O que se quer são histórias que reforcem o estereótipo de “preto, favelado, pouco educado, desesperançado, viciado, bandido, e injustiçado” – o que não tem nada que ver com a vida dele, Monk, filho de médico e criado nos subúrbios de Boston.

Ele escreve um livro (cujo título originalmente escolhido, “My Pafology”, tem erro de grafia) parodiando os “livros de negro”. A obra faz sucesso instantâneo, o que deixa Monk atordoado. Está feita a confusão.

Não vou fazer espóileres aqui. Só digo ser uma pena que uma história de 2001 siga bastante atual no que diz respeito à sociedade americana. Apesar de não ser exatamente assim por aqui, no fundo, trata-se de uma mesma questão apenas com roupagem um tanto quanto diferente.

A obra trata de como as elites querem apenas dormir de consciência tranqüila, enquanto não fazem nada de efetivo para conhecer e enfrentar questões reais. Aliás, há uma cena absolutamente genial sobre isso, em que alguém fala “precisamos ouvir as vozes dos negros” para justificar fazer exatamente o oposto.

O filme em si não traz respostas. Porém, esse levanta perguntas. Até vai além das questões sociais. A obra também trata de temas pessoais.

É uma história que faz rir, mas também emociona. Há vários personagens coadjuvantes muito interessantes, também.

Para encerrar, registro que o filme recebeu inúmeras indicações a prêmios (já ganhou alguns), inclusive a cinco Oscar: filme; roteiro adaptado; trilha original; ator; e ator coadjuvante. Jeffrey Wright, no papel de Monk, tem uma atuação excelente; e Sterling K. Brown, no papel do irmão caçula, faz jus à indicação.

P.S.: O filme está à disposição pelo Amazon Prime.

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