FILOSOFIA INTEGRAL | Política é Vocação

O cidadão comum geralmente olha para os conchavos da política partidária e os vê como imorais. Tanto que ele não costuma usar das mesmas práticas na sua vida privada. No seu cotidiano, mentir é errado, enganar é feio, prometer e não cumprir é vergonhoso ─ tudo que faz parte e é tratado com naturalidade no dia-a-dia da política. Aí, de repente, impulsionado pelas novas tecnologias, que geram nele uma sensação de influência e participação, esse mesmo cidadão começa a acreditar que pode atuar diretamente nos jogos de poder ─ os mesmos jogos de poder onde o que mais se pratica são aquelas atitudes que ele considera antiéticas. Qual a chance disso dar certo?

Tanto que os acontecimentos políticos no Brasil deixaram claro que povo e política não costumam se misturar. A participação popular no seio do poder, apesar de ter tido seus efeitos reais, não passou de uma ilusão temporária. No fim, o que prevaleceu foi a vontade da mesma elite de sempre. As pessoas foram obrigadas a aceitar que, em política, até podem acontecer convulsões pontuais, mas as coisas tendem a voltar ao seu padrão histórico, o qual não conta com a participação do homem comum.

No fim, o cidadão aprendeu, da pior maneira possível, que a política prática não é para ele, simplesmente porque ele não está disposto a abrir mão de suas convicções éticas e morais para se lançar nessa briga amoral. Ele precisou ver a sua voz e sua vontade serem completamente ignoradas para entender que o mundo da política é um clube fechado, que exige, para ingressar nele, requisitos que o homem comum não aceita e não quer ter. E se não está disposto a jogar o jogo seria um contrassenso querer vencê-lo.

Eu mesmo já fui convidado, várias vezes, para participar da política e, em todas elas, neguei veementemente o convite. Isso porque eu sempre tive a convicção de que política é vocação e para participar dela, principalmente no âmbito partidário, nos espaço dos jogos de poder dos corredores dos palácios, não é algo para um homem simplório como eu. Eu admiro, de verdade, quem tem a inclinação para atuar nesse teatro que é a política. Mas vamos ser claros aqui: isso não é algo para quem tem suscetibilidades afloradas diante dos acertos, das trocas, dos conchavos que acontecem nos gabinetes dos políticos. Quando falamos de participação na política, nós precisamos ser claros e deixar de ser inocentes: isso não é para qualquer um.

Como boa parte dos meus alunos se interessam por política, é muito comum eles pedirem um conselho meu sobre se eles devem ingressar numa carreira política. E, em vez do conselho, eu costumo lhes perguntar se eles conhecem bem como funcionam os conchavos palacianos e se os consideram normais. Se a resposta for negativa aconselho-os de, em vez de se filiarem a qualquer partido, irem para casa estudar.

A política entrou tanto na vida do brasileiro que não se interessar por ela se transformou num tipo de pecado de omissão. Parece que se não falar de política, consumi-la diuturnamente, respirá-la, a pessoa se torna um tipo de cidadão de segunda classe. Só que esse cidadão foi escorraçado de qualquer decisão política e calado ferozmente. Diante disso, eu pergunto: o que contribui mais com o país: ser um bom pai de família, uma mãe dedicada, um trabalhador responsável e um empreendedor esforçado ou um ativista iludido, fanatizado, impotente e deprimido?

Claro que política é importante. No entanto, da mesma maneira que nem todo mundo nasceu para ser artista, ou jogador de futebol, ou engenheiro, ou médico, ou jornalista, nem todo mundo tem inclinação para a política. E da mesma maneira que insistir em uma carreira para a qual não se tem nenhuma propensão pode ser muito desgastante e frustrante, envolver-se demasiadamente com política pode ser muito corrosivo. Para a maioria das pessoas, o melhor mesmo é manter uma distância segura da política, acompanhando tudo com bastante cuidado e parcimônia.

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