DOSE DE FÉ | São Berardo e Companheiros

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Protomártires franciscanos, São Berardo e seus companheiros foram fundamentais na história de Santo Antônio de Lisboa e de Pádua

Naturais de famílias nobres da Itália, os Capuchinhos Berardo, Otão, Pedro, Acúrsio e Adjuto, em 1219, foram enviados por São Francisco para pregarem o Evangelho na Península Ibérica. Eles passaram por Coimbra, onde conheceram o Cônego Fernando Martins de Bulhões (futuro Santo Antônio de Lisboa e de Pádua) e depois partiram para a Espanha ocupada pelos muçulmanos. Pregavam o Evangelho nas ruas e mesquitas de Sevilha (na época, a capital dos reis mouros), sem medo, até serem chamados à presença do Sultão, que escutou encantado as narrações da vida de Jesus. No entanto, quando os frades se referiram a Maomé como um falso profeta, o soberano mandou prendê-los e depois os deportou para o Marrocos.

No país africano, eles continuaram a pregar o Evangelho sem medo pelas ruas e mesquitas, até serem detidos e levados à presença do rei Miramolim, que tentou diversas vezes expulsá-los do país, sem sucesso: eles sempre reapareciam pregando nas ruas. Depois, o rei encarcerou-os em uma cela escura para que morressem de fome, mas quando os frades saíram de lá, três semanas depois, encontravam-se ainda mais vigorosos. Miramolim então ordenou que fossem chicoteados, e depois os entregou para serem linchados pelo povo.

Os cinco frades foram novamente açoitados e depois arrastados sobre vidros e cacos de vasos quebrados. Sobre suas feridas, a turba jogou sal, vinagre e azeite fervente. Eles resistiam a tudo impassíveis. Impressionado com tanta fortaleza, Miramolim tentou convertê-los ao Islã, prometendo-lhes palácios, altos cargos administrativos, riquezas e belas esposas. Porém, diante da recusa por parte dos frades, o rei pessoalmente decapitou os cinco com sua cimitarra. Era o dia 16 de janeiro de 1220.

Os corpos e cabeças dos cinco mártires foram jogados em um monturo na cidade para serem devorados por ratos, cães e pássaros, mas uma tempestade protegeu seus santos restos mortais, que foram resgatados por cristãos piedosos, que os levaram para a residência do Infante D. Pedro. Este, quando retornou a Portugal, levou consigo as relíquias, que foram sepultadas no Mosteiro da Santa Cruz, em Coimbra.

Santo Antônio, fruto dos Mártires do Marrocos

Quando a notícia do martírio de São Berardo e seus Companheiros chegou a Portugal, houve grande comoção entre os religiosos. O Cônego Fernando de Bulhões, que os havia conhecido, impactado com as notícias, abandonou sua carreira eclesiástica em Coimbra e abraçou a Ordem dos Frades Menores, passando a chamar-se Antônio. Ele próprio intentava seguir o legado daqueles cinco protomártires franciscanos, mas uma outra tempestade providencial o guiou à Itália, onde viria a se tornar Santo Antônio de Pádua, um dos santos mais populares da Igreja.

Santo Antônio de Lisboa e de Pádua, “fruto” da ação missionária dos protomártires franciscanos

Que estes cinco protomártires de hoje sejam também inspiração para nós, para que os imitemos em sua fortaleza na fé. A eles clamemos:

São Berardo e Companheiros, rogai por nós!

 

O martírio de São Berardo e Companheiros

Quando foram expulsos de Sevilha
Berardo e seus confrades Capuchinhos,
foi o Marrocos sua nova trilha,

e para lá seguiram seus caminhos.
Naquela terra foi sua pregação
ainda mais ardente, e como espinhos

feriu fundo a consciência e o coração
de muita gente. Assim, logo levados
eles foram diante do Sultão,

e com o mesmo amor, entusiasmados,
pregaram o Evangelho ao soberano.
O rei mandou que fossem trancafiados

num claustro escuro para em desumano
cenário, esfomeados perecerem.
No entanto, o heroico grupo franciscano,

logo após três semanas transcorrerem,
do cárcere saiu mais vigoroso,
e os cinco viu-se as ruas percorrerem,

a pregar com mais força o Glorioso
Nosso Senhor Jesus a toda gente.
O rei ficou deveras furioso,

e possesso ordenou incontinenti
prendê-los e aplicar-lhes impiedosa
chuva de chibatadas, e, inclemente,

jogou-os a uma turba furiosa.
A multidão de pronto os espancou,
e depois, de mais sangue sequiosa,

por mil cacos de vidro os arrastou,
e sobre cada uma das feridas
sal e azeite fervente se jogou.

E enquanto eram as penas infligidas,
mantiveram-se os frades sossegados,
com sua fé ainda mais fortalecida.

O rei, ao ver aquilo, impressionado,
ordenou que parassem as torturas,
chamou os cinco e fez-lhes afiançado

todo um mundo de ricas gostosuras,
de palácios, esposas e riquezas,
de imensuráveis fúlgidas farturas

entre os membros da mais alta nobreza,
caso à sua franca fé renunciassem,
e depois, por respeito e gentileza,

o culto de Maomé pronto abraçassem.
Categoricamente recusaram
os cinco, e antes que mais eles falassem,

do corpo suas cabeças despencaram,
pois pessoalmente o rei os degolou.
Direto ao Céu os frades viajaram,

e um coro de Anjos os recepcionou,
e em meios às gloriosas melodias,
Nosso Senhor Jesus os abraçou,

e eternas foram suas alegrias.

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