DOSE DE FÉ | Marcos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Filho espiritual de São Pedro e um dos quatro Evangelistas, São Marcos, o Leão dos Evangelhos, foi martirizado em uma manhã de Páscoa, enquanto celebrava a Santa Missa

Hoje é dia de São Marcos, Evangelista e mártir.

São Marcos pertenceu a uma das primeiras famílias cristãs de Jerusalém. Não chegou a ser discípulo de Jesus, mas conheceu-O em vida. Ainda era menino quando ocorreu a Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor. Segundo a Tradição, foi na casa onde morava com seus pais que ocorreu a Ceia Pascal, quando foi instituída a Santa Eucaristia. Também em sua casa, Santa Maria e cerca de 120 discípulos receberam o Espírito Santo no dia de Pentecostes. Por isso, a casa ficou conhecida como Cenáculo, que significa “local de reuniões”.  

A tradição também nos conta que Marcos foi batizado por São Pedro, de quem foi discípulo e com quem viajou para Roma quando jovem. Foi em Roma que começou a preparar seus escritos sobre a vida de Nosso Senhor, com base nos relatos de São Pedro (por isso, muitas autoridades eclesiásticas costumam chamar o Evangelho de Marcos também de “Evangelho de Pedro”). Na Cidade Eterna, ainda, ele também chegaria a servir a São Paulo, quando este esteve preso.

Após os martírios de São Pedro e São Paulo, Marcos partiu com seu Evangelho rumo a Chipre, depois Ásia Menor e, enfim, o Egito, especialmente em Alexandria, onde fundou uma das igrejas que mais cresceram.

São Marcos foi martirizado, segundo a Tradição, durante a Páscoa de 68, em 25 de abril, enquanto celebrava a Santa Missa. Segundo narra Jacopo Varazze na Legenda Áurea, o Evangelista foi amarrado com uma corda ao pescoço e arrastado pelas ruas de Alexandria por um grupo de pagãos que havia invadido a celebração. Seu sangue espalhou-se por todo lugar por onde foi arrastado e, quando já sufocava a ponto de morrer, repetiu as palavras de Jesus na Cruz: “Em Tuas mãos entrego meu espírito”.

Segundo o autor da legenda Aurea, ainda, “como os pagãos queriam queimar seu corpo, de repente o céu ficou turvo, começou uma tempestade, caiu granizo, explodiram trovoadas, faiscaram relâmpagos. Todo mundo fugiu, deixando intacto o corpo do santo, que os cristãos recolheram e sepultaram na igreja com toda a reverência”.  

Anos depois, as relíquias de São Marcos foram levadas por mercadores italianos para Veneza, onde estão até hoje, guardadas na Catedral de São Marcos. A partir de 828, a cidade adotou o Evangelista como seu Padroeiro.

O Leão dos Evangelhos

Entre os quatro Evangelistas, São Marcos é simbolizado por um leão. O motivo disso é que seu Evangelho, o mais curto dos quatro, começa apresentando a missão do profeta João Batista, primo de Jesus que ficou conhecido como a “voz que grita no deserto”, como os leões que habitavam o deserto e cujos rugidos impunham temor e respeito.

Um santo de muitos milagres

Há inúmeros milagres descritos por obra de São Marcos, tanto em vida como depois dela. Um dos mais popularmente conhecidos é o da cura de um sapateiro, que estava arrumando uma de suas sandálias. O artesão foi gravemente ferido na mão esquerda enquanto fazia o serviço, e começou a gritar “Deus único! Deus único!”. Então, assim como Nosso Senhor já fizera com um cego, São Marcos misturou um pouco de lama com sua saliva, passou no ferimento, e a mão do sapateiro foi curada, assim como sua alma, pois pouco depois ele foi batizado pelo Evangelista.

Que lembremos, especialmente no dia de hoje, mas em todos os outros de nossas vidas, de São Marcos, filho da generosa Maria de Jerusalém, que cedeu sua casa ao Mestre e seus Apóstolos, e depois à Sua Mãe Santíssima e aos 120 Discípulos; filho espiritual de São Pedro; sobrinho de São Barnabé, Evangelista e Leão dos Evangelhos; poderoso intercessor.

São Marcos, rogai por nós!

 

Martírio e glória de São Marcos

 

Era manhã de Páscoa, e Alexandria,

por seu honrado pai espiritual,

João Marcos, muito choro verteria.

 

No meio da celebração Pascal

da Santa Missa, um grupo impenitente,

possuído pelo ódio mais mortal,

 

irrompendo na igreja de repente,

laçou o Evangelista e o arrastou

às ruas da cidade, cruelmente.

 

O pobre Bispo todo tempo orou,

clamando ao Céu perdão a seus algozes,

e ao Pai o seu espírito entregou

 

quando já não se ouviam mais suas vozes.

Seus assassinos, nada saciados,

ainda enlouquecidos e ferozes,

 

quiseram pôr seus restos abrasados,

porém o céu se enegreceu, e então

todos os fogos foram apagados,

 

e em meio à barulheira de trovão,

relâmpago e granizo, eles fugiram,

medrosos, sem amor e sem perdão.

 

Os fiéis cristãos, no entanto, quando o viram,

resgataram-no em meio à chuvarada,

e nem um dedo mínimo feriram,

 

não levaram sequer uma pedrada,

e seu corpo de volta eles levaram

à igreja, onde uma sepultura honrada

 

lhe deram, e choraram e rezaram,

e de repente, em meio ao alarido

da tempestade, nítido escutaram

 

um estranho e agradável estampido,

e a olhar pro céu, então, todos souberam

ser aquele de Marcos o rugido,

 

e ao Pai Celestial mil glórias deram.


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