VITOR MARCOLIN | Perrengues de Walt Disney

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Banho só uma vez por semana

A alquimia do marketing foi tão eficiente que seu nome transformou-se em sinônimo de “magia”, “encantamento”, “diversão”, “fantasia”. Mas Walt Disney foi também um talentoso homem de negócios que, como os seus pares, enfrentou dificuldades imensas, terríveis, do tipo que fariam marmanjos barbados chorarem. Em A Árvore dos Sonhos, A Vida e a Obra de Walt Disney, Maurício Nunes apresenta um panorama instigante sobre a vida do empreendedor.  

Façamos, no entanto, abstração do talento artístico do Valdisnei a fim de observarmos com a devida atenção um elemento fundamental da personalidade do homem sem o qual ele jamais teria feito o que fez: resiliência. Talvez o leitor habituado às leituras mais “perenes” e menos mundanas diria que Walt Disney fosse dotado da virtude da fortaleza. Não creio que estaria incorreto. Mas vamos aos fatos:  

  • Depois de servir na I Guerra Mundial — o jovem Walt falsificara os seus documentos a fim de poder servir na Europa, porque ele não tinha a idade mínima para se alistar —, Walt Disney voltou para a casa dos seus pais determinado a continuar perseguindo os seus sonhos. Por volta dos 20 anos, ele era tão pobre, mas tão pobre (o superlativo de pobre é paupérrimo) que construiu um barraquinho malacabado nos fundos da casa dos pais para abrigar o seu estúdio, o primeiro estúdio de Walt Disney; 
  • Pouco depois, ainda na casa dos 20 anos — porque depois ele começou a subir na vida e a se livrar da pindaíba —, Walt viu-se morando sozinho e… passando fome. Um dos seus funcionários — que não recebia nada além da oportunidade de aprender com o já mestre Disney — certa vez flagrou o patrão catando comida no lixo;
  • Um dia, quando Walt precisou ir até uma cidade vizinha a fim de assinar os papéis de um contrato de trabalho — na pindaíba, ele produzia animações publicitárias para diversas empresas —, percebeu que não poderia sair de casa. O motivo? Walt Disney não tinha… sapatos. O único par estava no conserto. Ele não teve saída, senão explicar a situação para o sujeito que o esperava (um médico que queria divulgar os seus serviços valendo-se da imaginação do jovem Disney). O sujeito ficou verdadeiramente tocado pela situação de penúria do jovem artista, tanto que pagou o conserto dos seus sapatos;
  • No ápice do tempo das vacas magras, Walt tomava banho uma vez por semana, mas não em sua casa — ou num albergue, ou em casa de amigos. Não. O único meio de minorar a sua catinga era juntando moedinhas a fim de pagar por um banho rápido na estação de trem recém-inaugurada da cidade. O asseamento, como é evidente, só acontecia durante a primavera e o verão, quando as temperaturas permitiam banhos frios sem o risco da pneumonia iminente.  

Não obstante, Walt Disney superou os perrengues. E foi tal a superação que hoje seu nome dispensa apresentações.  

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