VITOR MARCOLIN | Estranhas eleições

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Perspectiva de um mero CPF

Novamente, cá estou eu a invocar a minha perspectiva de mero CPF a fim de comentar sobre os acontecimentos dos últimos dias que, por consenso, são relevantes. Hoje, quero falar-vos sobre o meu estranhamento diante da realidade deste pleito eleitoral em andamento. Evidentemente, não disponho dos meios necessários para a comprovação das minhas suspeitas, a parte que me cabe é o bom senso de tentar dizer as coisas exatamente como as percebo. E, sinceramente, a mim é perfeitamente perceptível que há algo de esquisito acontecendo precisamente agora no Brasil. 

Primeiramente, confesso que eu era completamente incrédulo quanto à possibilidade do petista, julgado e condenado à prisão por todos aqueles crimes, sair da jaula, ter os seus alegados direitos políticos restabelecidos e, de quebra, meter-se de cabeça na corrida presidencial. Em A política, livro que inaugura os estudos desta arte – na acepção mesma de técnica –, Aristóteles ensina que ela trata da disputa pelo poder que se fundamenta na felicidade humana, naquilo que faz com que os indivíduos unam-se em sociedade: o bem comum. É necessário, portanto, que, na sociedade assim organizada, o poder seja exercido por aqueles que tenham a clara consciência do que seja o bem comum. O estranho é que a política nossa de cada dia – e o atual pleito eleitoral está aí para comprovar – faz exatamente o oposto disto, como se os protagonistas das disputas do momento tivessem lido o estagirita às avessas.  

Aparentemente, não é mais aquele bem comum produto do consenso social que determina os reais movimentos políticos. O adjetivo comum agora parece referir-se exclusivamente aos objetivos ideológicos e partidários daqueles que disputam pelo poder. Daí que o atendimento das demandas naturais do povo é usado tão somente como combustível para os discursos demagógicos e frequentemente populistas. O meu estranhamento, mote deste artigo, é o disparate entre as pesquisas eleitorais, o termômetro eleitoral das ruas e o próprio resultado das eleições. As pesquisas que davam o petista como eleito não tiveram nenhuma reverberação significativa nas ruas, e a apuração das urnas – se verdadeira – colocou-o quase em pé de igualdade com o atual presidente.  

Lembremos: o petista ex-presidiário, quando se arriscava a fazer passeatas nas vias públicas, não obtinha sucesso em atrair as multidões de apoiadores, tal qual o seu oponente; quando, no confortável ambiente da internet, fazia lives, os supostos apoiadores teimavam em não comparecer, envergonhando o petista; quando saía às ruas, não necessariamente em prol de sua campanha, ainda assim era vaiado o antipático candidato da canhota. Para o seu adversário, no entanto, como foi amplamente – mas a contragosto – divulgado pela mídia, bastava aparecer no aeroporto, na janela, na sacada ou nas lives da internet para ser ovacionado pelo povo. A coisa parecia ter uma aura mística.  

Todavia, a apuração dos votos foi um balde d’água fria sobre o entusiasmo destes que aclamavam o adversário do petista. O ex-presidiário ficou na frente no primeiro turno. E por quê? Talvez aqueles que o apoiavam não se manifestavam publicamente por medo da reprovação popular, visceral contra a esquerda. Isto é possível, mas ainda assim não explica a bancarrota das lives e as muitas manifestações de figuras públicas contra a ameaça do regresso do rato jacobino. Observando a conjuntura de longe, mais longe do que os analistas meramente políticos gostariam, talvez o povo, obnubilado por cinco séculos de veneno filosófico, tenha suprimido o bem comum do seu horizonte de consciência. Certeiro mesmo é o juízo da Sagrada Escritura: sob o sol não há nada de novo; o povo perece por falta de conhecimento. 

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