VITOR MARCOLIN | Cultura Latina

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Ganhar dinheiro ou salvar a própria alma?

A partir de meados do século XVII a Inglaterra começou a estabelecer a sua hegemonia no mundo. Portugueses e espanhóis, mesmo estendendo os seus domínios até a América e a África, não mais detinham a primazia das influências política, econômica e cultural no planeta. Os ingleses, valendo-se de uma força naval invejável, conquistaram todos os mares do mundo; importantes rotas comerciais marítimas e terrestres — como o Oriente-Médio. Daí até a consolidação do “império no qual o sol nunca se põe” foi um pulo. 

Limitando-nos a apenas um aspecto – o cultural – deste processo de hegemonia britânica sobre o mundo, podemos observar – dentre diversos e complexos elementos – que houve um sistemático e sofisticado esforço da propaganda britânica contra o mundo latino. E é claro que, aos ouvidos dos “neoliberais” pseudoconservadores, sobretudo àqueles que têm acesso à internet, isto soa como um verdadeiro escândalo. Mas desde meados do século XVII, portanto há mais de 350 anos, o mundo experimenta os efeitos da propaganda negativa sobre a cultura latina. O que só fez recrudescer em função do incremento da máquina capitalista nas sucessivas “revoluções industriais” até, finalmente, as operações com criptomoedas no marketplace.

O Império Britânico cedeu lugar ao Império Americano; mas é evidente que, mutatis mutandis, a antipatia contra os latinos permaneceu, ganhou até nova linguagem, novos símbolos. O discurso de que o “espírito do capitalismo” só poderia impregnar-se eficientemente na “ética protestante” — o que, sob a perspectiva católica, não é de todo incorreto – recebeu um formidável incremento na voz daqueles que, atualmente, estão envolvidos com o mundo financeiro a partir da internet. Note-se, portanto, que a principal característica deste sentimento antilatino é o elemento econômico — o que, naturalmente, resvala na cultura.

Se, por assim dizer, desmontarmos o discurso de qualquer “neoliberal” da internet, poderemos constatar que, como pano de fundo da sua narrativa, jaz uma visceral aversão – para não dizer coisa pior — à sua própria cultura – se o sujeito for brasileiro, por exemplo. Assisti a uma entrevista num popular talk show na rede aberta de tevê na qual o entrevistado era uma empreendedora. A dona vendia cursos online sobre modalidades de investimento, poupança, rendimento, mercado imobiliário, ações e tutti quanti se relacionava à economia – na internet. A certa altura, quando ela foi interpelada pelo entrevistador sobre o porquê de os brasileiros preocuparem-se tão pouco com o mundo dos investimentos, ela fez um discurso curioso.

Sua resposta foi, em suma, que os brasileiros não investem porque estão impregnados da cultura “errada”: a Cultura Católica. O Brasil, invenção portuguesa, filho, portanto, da Igreja Católica, jamais poderá tornar-se uma nação de investidores se não abandonar de vez esta ética anticapitalista, própria da mentalidade “medieval”. A mulher, como se viu, estava impregnada daquele conjunto de ideias tortas, de tônica materialista, que concebe toda e qualquer conjuntura político-socio-cultural desprovida da “eficiência econômica” como absolutamente impraticável. Ledo engano.

A cultura própria do mundo latino, isto é, daquelas nações que, sob a força de um novo elemento civilizacional, a fé cristã, nasceram dos escombros do Império Romano, é mais rica e abrangente do que a cultura anglófona. E isto não é mero discurso bairrista de um lusófono apaixonado. Não. É a constatação da própria realidade: a ética, na acepção mesma de comportamento, praticada entre os latinos desde tempos imemoriais traz em si elementos caritativos que foram, em função do tempo, cristalizados na sua cosmovisão e nas suas relações interpessoais. É puro senso de proporção: os meios de salvar a própria alma devem ter primazia sobre os meios de ganhar dinheiro.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Colocar a culpa no catolicismo e nos portugueses é de uma falta de imaginação e de SEMANCOL incríveis. É muita ignorância por parte de pessoas que NÃO têm direito algum de portá-las.

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