SANTO CONTO | A infusão

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em At 2, 4, e nas visões da Beata Anna Catharina Emmerich

Naquela noite ninguém dormiu no Cenáculo. À hora de vésperas, Pedro, em vestes episcopais, havia celebrado a Sagrada Liturgia, repartindo o pão e o vinho entre os presentes. Depois, puseram-se todos a rezar e meditar, em profundo silêncio. Na sala central estavam ele, os outros onze (incluindo o recém-integrado Matias), Maria e as santas mulheres. Nas outras salas, e mesmo acampados no jardim, espalhavam-se outras tantas dezenas de fiéis seguidores de Jesus. Ao total, eram cento e vinte.

Após a meia noite, uma luz intensa incidiu de maneira especial sobre aquela casa, e por longo tempo todos se puseram de pé e olharam para o céu, como que para se prepararem para a vinda do Santo Espírito. Apenas Maria permaneceu como estava, em profunda contemplação.

Por volta das três da manhã, enquanto todos ainda permaneciam em oração, desceu do céu uma nuvem luminosa e prateada sobre o Monte das Oliveiras, bem onde Jesus estivera quando subiu ao Alto. De lá, a nuvem encaminhou-se ao Cenáculo. Alguns dos discípulos, no jardim, podiam vê-la a grande distância, movendo-se como um globo ardente, e seus corações começaram a palpitar de ansiedade. Quando chegou ao Cenáculo, o globo brilhava mais que o sol, e então desceu sobre casa, com o estrondo de uma trovoada que pôde ser ouvido num raio de muitos quilômetros.

Aquele brilho se espalhava pelos arredores, e muitos judeus se juntaram em torno do Cenáculo. Uma multidão deles maravilhou-se e converteu-se naquele momento, dando graças aos Céus e bendizendo o nome de Jesus. Outros, no entanto, sentiram medo, vergonha e repúdio, e com suas vistas feridas por aquela luz, e seus corações ainda mais endurecidos, correram apavorados para o Templo.

No Cenáculo, com exceção de Maria, que, olhos fechados, permanecia inabalada em suas orações, todos olhavam boquiabertos, em êxtase, para aquela torrente de luz que tomara o local. Foi então que do centro de onde irradiava aquele brilho saíram línguas de fogo que foram-se repartindo e tomando diversas intensidades e diferentes cores, e cada uma delas foi recebida pela boca de cada um dos presentes. Era como se respirassem e recebessem ardentemente aquele fogo, e como se algo de sua boca, com intenso desejo, fosse ao encontro daquelas chamas.

Nos arredores, até onde os fachos de luz alcançaram, muitos fiéis e discípulos eram consolados e sentiam seus corações cheios e confiantes. Também naquelas regiões muitos outros judeus, tocados pela Luz do Espírito Santo, converteram-se. No Cenáculo, onde todos falavam e escutavam nas mais diversas línguas, as pessoas, irradiando luzes diversas pela infusão do Espírito, viam-se comovidas e embriagadas de alegria e confiança. Muitos rodeavam Maria, que permanecia tranquila e calma, silenciosa em seu habitual recolhimento. Ela vestia um longo manto branco, um véu amarelo sobre o rosto e a cabeça, caindo de ambos os lados até quase o chão, uma larga faixa de pano azul celeste, dobrada sobre a testa um pouco para trás, enfeitada de bordado e segura por uma pequena coroa de seda branca.  

Os Apóstolos abraçavam-se uns aos outros, com uma alegria que jamais haviam sentido. Também sentiram uma coragem inédita, uma fortaleza que jamais os abandonaria.

Epílogo

A quilômetros dali, nas proximidades da piscina de Betesda, muitos judeus vindos das terras mais remotas, que se dirigiram a Jerusalém para a comemoração da Páscoa e do Pentecostes, encontravam-se acampados havia semanas. Vários ali haviam se convertido em discípulos de Jesus, e também foram iluminados pelo Espírito Santo naquela madrugada. Davam graças aos Céus quando Pedro lembrou-se deles. Então, em meio à alegria do Cenáculo, o Apóstolo convocou Tiago de Alfeu, Bartolomeu, Matias, Tomé e Judas Tadeu, e para lá os enviou:

– Ide e batizai como aprendestes.

Os cinco tomaram a bênção de Maria, e foram.


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