SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Um Texto Difícil

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

“Por que tantos se matam?”


Comecei a escrever outra coisa, mas resolvi publicar isto. Mais um suicídio. Eles acontecem e muito, mas pouco se fala. Setembro acabou, mas o Israel trouxe o tema, e eu quis seguir no assunto. Resolvi fazer algo diferente e compartilhar algo dos meus próprios demônios. Vai que isso ajuda a outrem…


Num momento complicado da minha vida, procurei auxílio psicológico. Era preciso preencher uma ficha e fazer uma entrevista. Na entrevista, o psicólogo me confidenciou nunca ter lido uma descrição tão forte e nítida das questões que afligiam um paciente.

Não me lembro ipsis litteris o que escrevi, mas me lembro bem da sensação que eu tinha.

Eu registrara na ficha que me sentia como se estivesse submerso e preso. Eu não tinha a menor idéia de como escapar. Meus esforços pareciam inúteis. Por mais força que eu fizesse, não conseguia sair do lugar. Enquanto isso, o meu tempo estava esgotando.

Disse que se eu fosse sozinho, quiçá já tivesse desistido. Seria um fracasso, mas seria um fracasso que eu conseguiria suportar. Porém, não sou sozinho. Tenho esposa e filhos. Não posso fracassar, mas estava fracassando e não via como não fracassar.

Aquela sensação me consumia, me queimava as entranhas, e eu não encontrava remédio. Era como se eu estivesse com paralisia. Eu não precisava de um psicólogo, mas de um “fisioterapeuta” para alma.

 Uma paralisia do corpo é fácil de entender. Ninguém espera que um acidentado saia caminhando, correndo uma maratona. Já quando é a alma que está quebrada e inerte, é difícil demonstrar aos outros a existência do problema.

O ano de terapia ajudou. Passada uma década desse episódio, porém, ainda tenho seqüelas. A sensação não é sufocante, mas não raro me vejo à deriva, sem conseguir enxergar uma direção, sem saber para onde ir, sem noção do próximo passo a tomar.

Então, a vergonha toma conta. É duro. É duro, mas sigo. Seguir é o mínimo.

Vejo notícias de suicídios. Dois casos famosos recentes foram de mulheres que saltaram de prédio para se matar.

[Suicídio não é uma saída. É a agressão mais absurda que se pode impor a todos aqueles que nos amam. Portanto, tranqüilos, não vos preocupeis comigo. Isto não é uma carta de despedida. Longe disso!]

Me questiono se essas pessoas não passam por experiência semelhante. O suicídio é a “pandemia silenciosa”. Por mais “setembros amarelos” que se façam, ainda é um tema tabu.

Por que as pessoas se sentem perdidas, sozinhas, desamparadas? Por que TANTAS pessoas se sentem assim?

Não sei nem por que eu me sinto assim. Sei que há gente em condições muito piores do que a minha que esbanjam vitalidade. Me espelho nelas.

A gente pode não saber bem por que estamos neste mundo. Mas há algo de bom em nós que deve ser descoberto, desenvolvido, e compartilhado. É único de cada um. Não podemos privar os demais disso.

Resolvi compartilhar o meu íntimo para ver se alguém se identifica e possa perceber que não está só. Pode me procurar. Afinal, dois mancos podem se locomover melhor apoiados um no outro.

1 COMENTÁRIO

  1. Caro Sr. Paulo Sanchotene, hoje não o chamarei pelo seu pseudônimo, haja vista o fato do seu texto falar sobre si. Profundo e esclarecedor são as palavras que me veio à mente quando li o que escreveu sobre si, suas dúvidas e angústias nos são comuns, em si e em mim como também o será alhures a quem chegar a lê-lo. Honestamente não sei o que dizer, ou melhor, a única coisa que consigo dizer é que ninguém está ou deve sentir-se só, mesmo no caso de Santo Antão ou um eremita outro, para quem o isolamento (banimento) é uma forma de penitência ou de punição, como no caso do Édipo, ainda assim, saber que há a quem recorrer é um alento. Creio que além da fé que deve alimentar nossa alma, o fato de saber que existem pessoas que confiam em nós e que de certa maneira contam conosco para auxiliar em suas caminhadas, é o melhor remédio para aliviar as dores da angustia, do desalento e da fragmentação da alma.
    Quando o desânimo bater à nossa porta devemos dizer que não iremos renunciar ao nosso dever que é a responsabilidade assumida com Deus, com familiares e amigos, com os leitores e a chefa, no seu caso, e por fim consigo mesmo.
    Se a letra daquela música diz que: “A solidão é fera, a solidão devora”, temos o alento que Saint-Exupéry nos oferece através do seu Pequeno Príncipe “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
    Força e fé, sempre!

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