SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | “Por que os juízes pendem para a Esquerda?”

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Não pendem, mas pendem. É confuso…


Mil perdões pelo atraso, mas está aí a coluna. Trata-se de uma resposta à pergunta do título. Porém, a resposta já começa questionando as premissas da pergunta.


Recebi esta pergunta no Instagram e prometi respondê-la aqui. Uma resposta simples e direta é impossível, pois a questão já parte de uma premissa equivocada.

Os juízes não pendem necessariamente para a Esquerda. Contudo, tampouco podemos ignorar que os juízes “pendam” parecido.

A questão, portanto, tem certo fundamento. A confusão aqui se dá pelo fato de que, ao se pensar a realidade política na qual nos encontramos no momento no Brasil em termos de “Esquerda” e “Direita”, não se consegue entendê-la.

“Esquerda” e “Direita” até são úteis quando uma determinada sociedade atravessa por uma fase de estabilidade. Nesses casos, simplesmente as forças em oposição no jogo político são identificadas cada uma com um lado e pronto.

Quando a fase é instável, tudo fica mais complexo. Mesmo com a ordem política em crise, a divisão entre “Esquerda” e “Direita” ainda ocorre. Afinal, o jogo político continua. Contudo, a oposição entre os defensores e os detratores do regime vigente passa a ser mais relevante do que aquela.

A nossa ordem política, o nosso regime, foi estabelecido em 1988 e consolidado em 1994. Uma de suas características foi de dar proeminência aos juízes. Grosso modo, a idéia era a de submeter a Política ao Direito.

Uma conseqüência disso foi reduzir a importância do jogo político. As políticas públicas passaram a ser determinadas principalmente pelo Judiciário e pela burocracia. Não foi à toa que os partidos políticos passaram a ser muito parecidos. A margem para debate era muito pequena.

Muitas opiniões foram relegadas a um segundo plano. O exemplo mais evidente disso é a questão do desarmamento. Em 2005, ficou evidente que a posição da sociedade civil era irrelevante. Nunca um resultado tão contundente foi tão solenemente ignorado pelas autoridades.

Isso é insustentável. Todavia, a normalidade ainda seguiu por quase uma década. Só veio a começar a ruir em 2013.

Desde então, a principal disputa política é travada entre aqueles que desejam uma nova ordem política e aqueles que desejam preservar a que temos. É pura coincidência, algo meramente circunstancial, que boa parte dos detratores se identifique como de “Direita”.

O problema não é ser de “Direita”. Sempre houve uma “Direita permitida”. O problema é não ser compatível com o regime. Aliás, enquanto a ordem política era sólida, isso sequer era problema. Foi só quando o regime se fragilizou que essas posições excluídas se tornaram ameaçadoras.

Juízes, até pela natureza do nosso regime, tendem a estar entre os defensores. Isso inclui aqueles que se identificam como de “Direita” – como é o caso do Sérgio Moro (e do Deltan Dallagnol, se quisermos expandir a questão para incluir o Ministério Público e a Burocracia). É assim ainda que esses possam vir a se tornar vítimas do próprio regime que apóiam.

É por isso que parece que os juízes pendam para a Esquerda. Na verdade, eles pendem para o regime. Eles irão contra quem for uma ameaça à ordem, independentemente do lado. Pode sobrar até para a Esquerda.

2 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor