“Under a government which imprisons any unjustly, the true place for a just man is also a prison.” (Henry David Thoreau)
Só me contenho em afirmar categoricamente que um presidente da república não pode jamais defender que um cidadão receba à bala a polícia em cumprimento de um mandado judicial, pois, em tese, a situação política do país pode chegar numa situação desse nível. Porém, afirmo que não chegamos em tal ponto.
O episódio envolvendo Roberto Jefferson NÃO é um desses. Não interessa se a prisão tenha sido arbitrária ou não. O fato é que a polícia tinha um mandado de prisão emitido por autoridade legalmente constituída. Só que se pode fazer num momento desses é se entregar. Discussões sobre a justiça da decisão devem ser feitas posteriormente.
O “pai da desobediência civil”, Henry David Thoreau, recusou-se a pagar impostos para não financiar uma guerra a qual ele era contra. Porém, não se recusou a ir preso por isso. Sócrates poderia ter fugido do cárcere, mas preferiu tomar o veneno que lhe foi imposto. Ambos estavam diante de injustiças, mas preferiram atacá-las preservando a ordem pública.
Não foi o que ocorreu com Roberto Jefferson. Ele resistiu à prisão trocando tiros com a polícia.
Tal ação gerou uma infinidade de problemas para o Bolsonaro. Diante do fato, o que fazer? Nessa situação, o presidente sequer poderia ficar calado.
Fosse alguém desconhecido, Bolsonaro poderia ter escolhido manifestar-se apenas se questionado. Todavia, não era alguém qualquer; mas um relevante político brasileiro e apoiador da candidatura do presidente à reeleição.
Obrigado, pois, a tomar a iniciativa em resposta ao incidente, só restava a Bolsonaro uma única ação: criticar o ato de Jefferson e defender sua prisão. Se a prisão primeira era injusta, a resistência tornou tal questão secundária.
Ao fim e ao cabo, a situação acabou de acordo como deveria ter sido na primeira vez: Roberto Jefferson sendo levado preso de sua residência. A diferença é apenas agora estar tudo pior; e a responsabilidade pela piora é total do Roberto Jefferson.
Na véspera da eleição, estão tentando provocar reações do presidente. É preciso muito cuidado. Contudo, Bolsonaro evitou a armadilha. Pelo contrário, demonstrou – mais uma vez, diga-se – estar disposto a preservar a ordem pública; mesmo sabendo das constantes arbitrariedades cometidas por diversas outras autoridades brasileiras.
Muitas vezes critiquei o presidente por não se mostrar como “o adulto entre as crianças”. Desta vez, ele fez exatamente isso. Uma pena que parte da sua base não tenha conseguido enxergar assim.