SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | A Política do Sete de Setembro

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Desfile de Sete de Setembro/2023 (fonte: G1/CanalGov)


Após um breve hiato, a coluna está de volta. Desta vez, analisa-se o que o desfile de Sete de Setembro de Brasília revelaria sobre o momento do jogo político nacional.


I. A notícia é que o desfile de Sete de Setembro em Brasília teria sido com pouco público.

Se verdade, isso é, de fato, notícia. Não o seria simplesmente em comparação com o mesmo evento quando Bolsonaro foi presidente, mas com os anos em que Lula tinha sido. Portanto, não se poderia ignorar isso.

Contudo, essa notícia não contaria toda a história. Brasília pode ser a capital, mas não é o Brasil. Para começar a entender o peso real da notícia, é preciso verificar como foram os desfiles nas demais capitais e pelo interior do Brasil.

Por exemplo, o desfile onde moro foi cancelado pelo mau tempo, como também ocorreu noutras parte do estado. Aqui, a chuva não havia ainda chegado com força, pelo que se conseguiu fazer parte dele durante a Semana da Pátria. Até então, tudo ocorria dentro da normalidade.

A maior diferença em Uruguaiana fora a falta de bandeiras nas janelas. Eu, que costumo colocar, confesso que me esqueci. Até botei a flâmula nacional nos perfis das redes sociais, mas só fui lembrar da janela de casa no fim do dia 7.

Mas as bandeiras na janela eram fenômeno recente. O normal sempre foi acompanhar os desfiles e pronto. Imagino que os uruguaianenses teriam ido à avenida principal em peso, caso o evento tivesse ocorrido como programado. Se pegarmos fotos dos desfiles pelo Brasil, foi assim que ocorreu. Brasília parece ter sido um fenômeno isolado.

Ainda assim, é necessário buscar-se mais dados.

Observei nas redes sociais não ter sido só o colégio dos meus filhos que trabalhou a data. Fiquei com a impressão, inclusive, de ter havido uma maior boa vontade nesse quesito. Também vi pais com determinados posicionamentos políticos demostrando mais disposição em se envolver com as festividades do que n’anos passados.

II. Sendo assim, não era de se esperar redução de público em Brasília. ¿O que houve?

Pois fui checar os números. Concluí que se há algo inconfiável são números de estimativa de público. Peguei dados desde 2002, e os números se repetem bastante. Parece preguiça.

Dos 19 desfiles que encontrei (não houve em 2020 e 2021, e é impossível encontrar a estimativa de 2022), os números são os seguintes:

– 1º) 50 mil (2x);
– 3º) 35 mil (3x);
– 6º) 30 mil (7x);
– 13º) 25 mil (3x);
– 16º) 20 mil (3x); e
– 19º) 15 mil (1x).

Não há 45 mil, nem 40 mil. A média é de 30.000 pessoas.

Os recordes são de Lula, em 2003 e 2004. O último lugar é da Dilma, em 2013.

O desfile deste ano, com 25.000 pessoas, teria ficado em 13º. Não teria sido o pior desempenho de Lula, cuja média até então era de 35.000 pessoas. O desfile com menos pessoas de Lula teria sido em 2008, com 20 mil. 2023 fica em penúltimo.

III. Se tudo está dentro da normalidade, menos o desfile de Brasília, ¿o que isso significa?

Pode significar muitas coisas. Dentre essas várias, uma que me parece plausível é a seguinte.

Houve uma redução na capacidade de Lula e do PT de mobilizar os seus. O eleitor do Lula pode estar até mais bem civicamente disposto do que estava com Bolsonaro no poder, mas não estaria empolgado com o mandato do presidente.

O desfile de Brasília é diferente do resto dos desfiles do Brasil. Os desfiles efetivamente CÍVICOS ocorrem em todos os outros lugares. Em Brasília, esse serve de demonstração de apoio ao GOVERNO. O governo Lula, porém, falhou nessa tarefa.

Isso explicaria as relações do Planalto com o Centrão; a nova reforma ministerial. Eleitoralmente, o Centrão não dá votos, mas apoia em troca de votos. O Centrão se move em direção aos votos. Durante o governo, o Centrão busca poder. Esses movimentos andam juntos.

O Centrão é quem permite “governabilidade” – o quanto o Executivo tem força junto ao Legislativo. Governos, portanto, tendem a buscar o Centrão atrás de apoio. Há diversas formas para isso, mas não é importante agora.

O relevante aqui é que quanto mais votos estiverem atrelados ao poder, mais fácil fica para o governo atrair o Centrão. Quanto menos, mais difícil. O Centrão já sabia qual é o atual cenário e vem atuando de acordo.

O governo achou que sequer valia a pena manufaturar uma imagem diferente. Mesmo com a Direita desorganizada, rachada, e sem liderança; mesmo com o regime atuando para que isso siga assim; mesmo com o domínio sobre a máquina pública; o governo não está em posição para blefar na mesa e sabe disso.

A notícia é: o jogo mudou. Não é o mesmo o qual Lula jogara de 2003 a 2010.

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