RESENHA丨Um dia na vida de Ivan Denissovitch

Em 1962, na então União Soviética, foi publicado o romance de estreia do premiado escritor russo Aleksander Soljenítsin (1918 2008). No livro, Ivan Denissovitch Chukhov é um prisioneiro de um campo de concentração. O autor descreve um dia na vida do protagonista, do momento em que acorda até a hora em que vai dormir, com um senso de humor tão extraordinário que temos impressão de estarmos lendo a descrição de um acampamento de escoteiros!

Formado em Física, Soljenítsin lutava na 2 a Guerra Mundial quando foi preso em 1945 e condenado a 10 anos de trabalhos forçados por ter feito uma piada sobre o ditador Josef Stálin em uma correspondência particular. Na prisão, abandonou o credo marxista no qual fora educado e tornou-se cristão ortodoxo. Após ser libertado, trabalhou como professor de física e matemática. Inicialmente, Ivan Denissovitch saiu em capítulos em uma revista literária. Quando foi publicado como livro, vendeu 100 mil exemplares no primeiro dia! Com o passar do tempo, entretanto, o autor passou a ser rejeitado pelos demais escritores e críticos, e seus livros seguintes – Pavilhão de cancerosos (1967) e O primeiro círculo (1968) foram proibidos pelo governo. Entretanto, cópias clandestinas de suas obras foram enviadas aos milhares para o Ocidente, obtendo imensa repercussão. O Prêmio Nobel de Literatura de 1970 foi outorgado a Soljenítsin sob intensa pressão contrária do governo soviético.

Certa vez, A.S. disse que o desejo de escrever havia brotado muito cedo nele, “bem antes de eu compreender o que é um escritor e por que escreve”. No romance O primeiro círculo, escreveu:

“Possuir um grande escritor equivale para um país ter outro governo. Eis porque nenhum governo nunca gostou dos grandes escritores, mas só dos pequenos”.

Georges Nivat, professor de literatura russa na Universidade de Paris, escreveu:

“Antes de tudo, Soljenitsin visa a destruir os tabiques que encerram o homem, que o isolam. E de todos os tabiques, o mais espesso é o da perversão da linguagem humana. O mundo está atrozmente doente, não sabe mais se comunicar, perdeu o dom do diálogo, da piedade, da caridade. (…) Todo o esforço de A.S. consiste em restabelecer a comunicação entre os homens da sociedade que ele descreve, em revelar o riacho subterrâneo da justiça. O que ele acusa em primeiro lugar é a mentira. (…) Ele nunca é tão severo em sua obra como ‘para com os literatos da mentira, que desviaram a
literatura…’”.

Em 1973, foi publicada na França, contrabandeada da União Soviética, sua obra mais famosa, Arquipélago Gulag – uma descrição realista e cruel dos campos de concentração soviéticos. Soljenítsin foi imediatamente exilado de seu país. Ele viveu muitos anos recluso com a esposa numa região rural dos Estados Unidos e se tornou um crítico feroz do estilo de vida norte- americano, pelo seu consumismo e superficialidade espiritual.

Em 1994, após o fim da União Soviética, pode retornar a Moscou, onde viveu até sua morte. Uma de suas frases mais famosas é esta:

“A linha que separa o bem do mal não passa pelo Estado, nem entre classes ou partidos políticos, mas exatamente em cada coração humano, e por todos os corações humanos”.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

2 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor