De Viriato a Marcelo Rebelo de Sousa: o livro é uma síntese da ação dos agentes históricos atuantes a partir de Portugal
António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques (1932-2007) publicou o seu Brevíssima história de Portugal como resposta à necessidade de sintetizar — para o leitor contemporâneo que fraqueja diante de um calhamaço — os três volumes da sua História de Portugal. Oliveira Marques, que percorrera extensa carreira acadêmica, fora autor de uma obra historiográfica que soma mais de 60 volumes.
Neste livro, no entanto, ele logra êxito em sumariar os principais aspectos dos movimentos protagonizados pelos diversos agentes históricos a Oeste na Península Ibérica durante o transcurso de 4 mil anos. Em pouco mais de uma dúzia de capítulos o leitor testemunha o desfilar dos acontecimentos de natureza político-cultural que, produtos da ação direta de agentes como a Igreja Católica e a Maçonaria — para citar os mais evidentes –, formaram a nação portuguesa.
Oliveira Marques, apesar de não ser completamente imune às influências socialistas, narra com um grau de honestidade admirável — para os padrões atuais de credibilidade — os movimentos históricos da formação de Portugal e do Império Lusitano. Os primeiros assentamentos humanos a Oeste da Raia — fronteira entre Portugal e Espanha, a mais antiga da Europa –, ainda na Era do Bronze; a bravura de Viriato, que sucumbira ante a astúcia dos Romanos; a ascensão de Afonso Henriques, o primeiro rei português; as investidas dos Mouros, que permaneceram na Ibéria por quase oito séculos; a vida nos feudos medievais, regida pela força moral dos Evangelhos; a era dos Descobrimentos; o ingresso na Modernidade etc.
Quando discorre sobre os territórios de ultramar que outrora integraram o Império Lusitano, Oliveira Marques consegue evidenciar a importância objetiva do Brasil — joia da coroa portuguesa. De todas as possessões de além-mar nas quais o homem lusitano fincara a Cruz, o Brasil, Terra de Santa Cruz, fora, seguramente, o local no qual a civilização — por diversos fatores explicados no livro — prosperara, estabelecera-se, expandira-se. Quando da Independência do Brasil, Portugal mergulhara num período de grandes dificuldades, impactado pela perda do seu mais próspero território.
O que fez de Oliveira Marques um dos maiores historiadores portugueses, para além de sua evidente erudição e poder de síntese, fora a consciência — cada vez mais rara nas investigações históricas contemporâneas — de que, na História, somente é possível discorrer sobre a atuação de agentes objetivos. Um partido político não é um agente histórico, assim como igualmente não são um grêmio estudantil, uma redação de jornal ou os movimentos operários. Apesar destes agentes atuarem sob certas diretrizes ideológicas lhes falta um quê de coesão que só pode ser observado, por exemplo, na atuação da Igreja Católica, da Maçonaria, da Carbonária, do Comunismo etc.
Por fim, quando discorre sobre o polêmico Salazar, tradicional objeto de ódio dos comunistas e revolucionários, Oliveira Marques, malogrado as suas influências socialistas, é honesto a ponto de enumerar — para o escândalo de muita gente — as benesses que o Governo do ditador legou a Portugal em vários setores. O autor narra brevemente como se deu a atuação das sociedades secretas/discretas na queda da Monarquia, em 1910, e como as esquerdas tomaram o poder, quando da queda de Salazar, por meio da infalível estratégia da ocupação dos espaços. Oliveira Marques discorre ainda sobre a aparição de Nossa Senhora em Fátima e as implicações políticas deste fato.
Com informações de Marques, A.H. de Oliveira, Brevíssima história de Portugal, Tinta da China Editora, Rio de Janeiro, RJ, 2018.
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
Fernando Pessoa
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