MURALHA DE LIVROS | Os últimos do ano?

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para excelente poetisa estreando pela Editora João e Maria

Véspera de Natal, ano chegando ao fim e ainda temos novidades: um gatinho peralta em versos perfeitos, a manipulação midiática da pandemia do medo, comentários à metafísica de Boécio e a reabilitação de contos morais brasileiros antológicos são, provavelmente, os últimos novos títulos da muralha este ano. Quem sabe?

Acompanhe os lançamentos abaixo, um excelente final de semana e um Feliz Natal!

Destaques

A João e Maria fecha com chave de ouro 2023 com a publicação de O gatinho fujão e outras poesias, livro de estreia de Susi de Queiroz.

A edição segue o padrão de excelência da editora, este livro com versos para as crianças de hoje, e inspirado na melhor tradição poética da língua portuguesa, 22 poemas abordando temas como família, brincadeiras da infância, relações interpessoais, sentimentos e imaginação. Compostos com a maestria de quem tem íntima relação com a língua portuguesa e suas possibilidades expressivas, eles permitem que as crianças embarquem num balé de ritmos, metros e rimas, ao mesmo tempo ambientado em seu colorido mundo infantil.

As ilustrações ficam por conta da talentosa aquarelista Gisela Pizzatto, que retratou com realismo e delicadeza o mundo imaginado ao longo dos versos. Inteligentes, divertidos, repletos de musicalidade, os poemas de Susi de Queiroz são um grande presente para as crianças brasileiras!

Confira a seguir um treho do prefácio escrito por ninguém menos que o grande poeta e professor João Filho:

Seja narrando uma história, seja na mais pura musicalidade, ou fabulando a vida de objetos inanimados, como em ‘A vassoura e o rodo’, seja no encadeamento de vários personagens para criar o movimento circular de uma ciranda, como em ‘Colegas’, ou numa estrutura mais complexa, como é o caso de ‘Mamãe veio com o vento’, neste O gatinho fujão e outras poesias, Susi de Queiroz realizou uma das mais belas, fortes e verdadeiras cristalizações poéticas que tenho o prazer de ter lido, sem exagero, nos últimos tempos.”

Confira também um trecho do poema “Boneca de pano”, que integra o volume:

“Boneca de pano
voltou do passeio
coberta de lama,
cabelo bem feio.


Então foi lavada
com bucha, coitada,
mas a cabeleira
ficou desgrenhada.


Foi posta a secar
ao sol sobre a grama,
depois colocada
com as outras na cama.


Porém, suas tranças
viraram um chumaço
de lã espetada
com muito embaraço.”

E não deixe de ler, ainda, a entrevista com a autora, publicada também hoje, bem aqui.

A Estudos Nacionais também fecha o ano com uma publicação mais que relavante, cujo título é autoexplicativo: Pandemídia: o papel do jornalismo e no controle social em 2020 e 2021, de Cristian Derosa.

Quem não se lembra que, em 2020, o mundo parou diante das telas de TV e de celulares com grande comoção? Em raras ocasiões históricas o jornalismo obteve tanta atenção. A cobertura jornalística da pandemia, porém, foi muito mais do que meramente informativa. Da noite para o dia, jornais se converteram em oráculos de comportamento, conduzindo o julgamento moral coletivo e individual do mundo inteiro para uma imensa rede de cooperação.

Isso levou a prática jornalística a apostar no pânico e no medo social, favorecendo e aplicando toda sorte de punições e perseguições a quem questionasse minimamente os princípios ditados por entidades supranacionais como a Organização Mundial da Saúde.

Toda a parcialidade e insuficiência informativa amplamente conhecida pelo jornalismo, assim como os compromissos éticos com a verdade e com a prudência sobre possíveis efeitos sociais da comunicação, foram esquecidos em nome de um efeito admitido como intencional: o medo.

Ressalvas sobre conflitos de interesses envolvendo a OMS, fundações e grupos financeiros com a indústria farmacêutica, foram rapidamente rechaçados e rotulados como perigosas teorias conspiratórias, levando médicos respeitados ao banco dos réus. A influência política do clima de polarização se aprofundou e radicalizou grande parte da imprensa brasileira e a cobertura noticiosa foi a principal fonte de toda uma classe política que utilizou o clima de medo para favorecer uma agenda de perseguição a seus adversários.

É desse cenário que trata o livro de Cristian Derosa. Confira a seguir um trecho do Capítulo 3 da obra, “Truques de manipulação mais usados na pandemia”:

“Algumas técnicas muito simples foram utilizadas pelo jornalismo para amplificar o medo. Deixemos de lado as especulações sobre o motivo por trás dessas decisões editoriais. O fato é que foram usadas e representam um capítulo à parte na história do jornalismo. Como veremos a seguir, algumas dessas decisões simplesmente ignoraram a prática de mais de um século de jornalismo.

Inflar números nem sempre é fácil. As estatísticas, no entanto, prestam-se a inúmeras manipulações. A distorção do contexto de um número ou de uma porcentagem pode se tornar quase imperceptível para o leitor comum e os jornais têm sabido aplicar uma boa dose de perspicácia para manter o estado de pânico e histeria desde o início dessa grande cobertura jornalística, que podemos chamar aqui de ‘pandemídia’.

O mais grave é que a sensação causada pelo medo incapacita a maioria das pessoas para a reflexão objetiva sobre o alcance e o limite de números, assim como de estudos científicos, o que acaba resultando em uma verdadeira e perigosa manipulação psicológica. O efeito da longa exposição à manipulação é uma crescente insensibilidade para a informação, isto é, um aumento na dependência de comandos informativos vindos do mesmo canal. Uma espécie de Síndrome de Estocolmo, na qual o leitor acredita que, embora sinta cada vez mais medo ao ler as notícias, o canal que o está informando o faz pelo seu próprio bem. As inúmeras restrições políticas e sociais implantadas durante a pandemia estiveram sob o pesado alicerce do medo e da insegurança promovida pelas notícias.”

Outros lançamentos

Pela Contra Errores, Comentário ao de Hebdomadibus de Boécio, de Santo Tomás de Aquino.

Anício Mânlio Severino Boécio (480 – 524), muitas vezes considerado o primeiro dos pensadores medievais e o último dos romanos, uniu em sua obra as tradições neoplatônicas e a preocupação escolástica com o método lógico aristotélico. Em seu tratado, Boécio tece um neoplatonismo com nuances aristotélicas, abordando questões profundas sobre a natureza da substância e do acidente, a distinção entre essência e existência, além de explorar a interconexão entre o universal e o particular. Este matiz neoplatônico com influências aristotélicas é exatamente o que captura o interesse de Santo Tomás de Aquino nesta obra.

Pela Livros Vivos, os Contos Morais, de Arnaldo Barreto, educador e escritor brasileiro que viveu entre as três últimas décadas do século 19 e as duas primeiras do século 20, cujas obras foram adotadas por um bom tempo em escolas brasileiras.

Barreto procurou conferir um tom leve à moralidade em seus escritos, para captar a atenção infantil. Esta versão da Livros Vivos é uma adaptação do original, que tem o intento de oferecer à infância atual maior atratividade para a beleza moral.


1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor