LEIA NESTA EDIÇÃO丨45

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

O sonho de se conquistar o paraíso durante a vida nesse mundo alcançou o grau de banalidade a ponto de se haver diversas opções de paraísos possíveis – o mundo natural puro livre de seres humanos destruidores; a dimensão da prosperidade financeira ao alcance de todo mundo, e sem pedras pelo caminho; a absoluta concórdia entre as culturas, de modo a se viver a paz perpétua; as cidades inteligentes assépticas e ultra seguras, isoladas do mal que tudo permeia. Todas elas evidentemente enunciadas sem um pingo de reflexão sobre os aspectos limitantes intrínsecos à natureza humana. A visão de homem como o novo Deus carrega consigo arquiteturas de mundos novos, os quais devem surgir ao se varrer o mundo existente. Aí que a ascensão do ateísmo seja a trombeta da sistematicidade das Revoluções, segundo volume dessa trilogia sobre a decadência da civilização ocidental.

Abrimos o número com apontamentos sobre a argúcia de Joaquim Nabuco diante das revoluções latino-americanas do final do século XIX. Em Patrimônio e Memória, veremos que sua matriz foi positivista no Chile – como também entre nós.

Em seguida, uma entrevista pra lá de Especial finalmente traz à tona as mazelas e equívocos das Forças Armadas, que elas insistem em varrer para debaixo do tapete, no tocante às suas aventuras e desventuras políticas de um século e meio pra cá.

Preleção insere a lógica das ideologias e subsequentes revoluções ao eterno problema fulcral do ser-humano, cuja gênese remonta a serpentes, mentiras e o poço do orgulho perigosamente oculto dentro de nós.

Na seção Governança e Estratégia, você encontra o desenha do espírito revolucionário em analogia a uma das personagens principais da série Game of Thrones, concluindo que a revolução, no final das contas, é uma loira encima de um dragão.

Conversar é pensar junto retoma o diálogo da revista passada do ponto em que se havia parado, indicando razões para que a mentalidade revolucionária seja tão forte entre nós: por um lado, “o mito fundacional brasileiro é uma ideologia”; por outro, “as ideologias crescem porque provêm resposta a uma sociedade incapaz de reconhecer-se”.

Essa mentalidade é investigada do ponto psicológico num Ensaio que propõe-se a descrevê-la como sentimentalidade revolucionária.

Como A Beleza importa, Diogo Cruxen analisa a pintura mais significativa das revoluções modernas, aquela em que um homem se sagra imperador, revelando num gesto a ambição de assimilação do poder espiritual ao poder temporal por Napoleão, que consagra a si e depois à imperatriz, sob a vista do pintor Jacques-Louis David.

Esmeril Entrevista o Padre Gian Paulo Ruzzi, mais conhecido como padre surtado, sobre os desafios da Cristandade na era pós-napoleônica, em que a divinização do homem o empurra a um abismo, mas dentro do qual sente a queda como ascensão.

Na Marca da Cal se pergunta o que poderia ser considerado revolucionário no mundo do esporte, e em que medida essas revoluções particulares pioram ou melhoram a experiência do todo.

Conto revela de forma sutil a radical diferença entre atitudes revolucionárias e conciliatórias, da consciência de si ao gesto máximo de expansão da alma no mundo, o amor ao próximo.

Palco contém a trilha sonora da edição. Mas dessa vez não basta ouvir a música. É preciso acompanhar a letra de cada uma das canções, nacionais ou populares, indicadas, para se extrair a poética deformada e deformante dessa doença espiritual moderna que tantos tomam por remédio e cura definitiva.

Mas a esse assunto voltamos no mês seguinte, quando versaremos os sinais em trono da vitória do niilismo, esquema mental que modula a cultura da morte, acrescendo um grau a mais de necrose na decadência do ocidente. Até lá!

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