O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães promoveu a queima de livros de judeus, liberais, religiosos e outros autores ‘subversivos’
Ao anoitecer do dia 10 de maio de 1933, quem estivesse no centro da capital do Terceiro Reich veria uma enorme fogueira cujas labaredas alimentavam-se de um combustível eficiente, porém improvável: livros. A campanha de promoção — e proteção — das ideias nazistas havia chegado a um novo patamar: agora, todos os livros considerados “subversivos” pelo Partido Nazista deveriam ser queimados publicamente a fim de intimidar os “intelectuais indesejados” e fortalecer a ideologia dos “intelectuais arianos”.
Dezenas de milhares de obras viraram cinzas durante a campanha da fogueira, conhecida como Bücherverbrennung. As ordens partiram do alto escalão nazista diretamente para as fraternidades estudantis, braços importantes para os esforços de promoção das ideias do Partido. Os principais alvos das chamas eram livros de autores judeus, pacifistas, religiosos, anarquistas, liberais e ironicamente socialistas. Cumprindo à risca sua campanha populista, os Nazistas também lançaram à fogueira livros que versavam sobre “arte degenerada”: literatura pornográfica, como peças de teatro, contos e romances obscenos.
Na Praça da Ópera, no centro de Berlim, mais de 25 mil obras foram lançadas às chamas. A queima de livros não foi produto de uma ação política anacrônica. Não. A sociedade alemã foi preparada gradualmente para a perseguição implacável aos judeus desde décadas antes da Bücherverbrennung ou da terrível “solução final”, os campos de extermínio em massa. A campanha antissemita começara no âmbito cultural. No início do século XX a maioria dos intelectuais alemães era publicamente contrária à presença dos judeus na sociedade germânica.
Isto explica o fato da opinião pública guiada pela intelectualidade ter oferecido tão pouca resistência à queima dos livros. Dentre os poucos escritores contrários à campanha estava Thomas Mann, que recebera o Nobel de Literatura poucos anos antes, em 1929. Mann reconheceu o evidente perigo da condenação pública de ideias e protestou. No mesmo ano, o escritor foi obrigado a deixar a Alemanha. Em 1934, o Index Librorum Prohibitorum Nazista registrava uma lista de cerca de três mil obras proibidas pelo governo de Adolf Hitler.
Com informações do portal History UOL e da Enciclopédia Britânica
“Sei que, frequentemente, os sinais e os símbolos exteriores, visíveis e tangíveis da sorte e da ascensão, só aparecem quando, na realidade, tudo já se põe de novo a declinar”.
— Thomas Mann
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