HOJE NA HISTÓRIA | Nasce Amadeu Amaral, poeta e folclorista brasileiro

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

O intelectual, eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1919, foi um perfeito autodidata

Foi-se o tempo em que, para ser reconhecido como agente da Cultura, como contribuinte da classe intelectual do país, bastava ao sujeito demonstrar o seu talento por meio do seu trabalho. Aquela classe intelectual que, originalmente, congregava os mais aptos pensadores da nação tinha como propósito primeiro engrandecer e perpetuar esse conjunto de valores mesmo que faz uma nação: língua, religião, tradição, feitos heroicos, grandes realizações em comum, etc. Hoje, como se vê, não mais é assim.

As coisas mudaram. A escala por meio da qual media-se o valor objetivo do talento daqueles que pleiteavam um lugar entre os maiores do país hoje nivela-se paralela ao chão. Basta correr atrás de uma bola de football na companhia de outros 10 desesperados contra o time adversário, ou levar adolescentes e donas de casa às lágrimas com uma atuação melodramática na novela para ser reconhecido como membro da classe pensante, dos guias intelectuais da nação.

Amadeu Amaral, intelectual que viveu no Brasil entre o Império e a República, portanto num período no qual o país não contava com nenhuma grande instituição de ensino superior, é um perfeito exemplo do homem que, ascendendo em erudição guiado unicamente pelo seu interesse sincero, eleva os outros consigo. Amadeu Amaral (Capivari, SP — atual Monte Mor –, 6 de novembro de 1875, São Paulo, SP, 24 de outubro de 1929) foi um intelectual às antigas, do tipo — hoje raríssimo — que obtém sucesso como autodidata.

Amaral nutria grande interesse em entender a formação da cultura brasileira através de um crivo específico: o folclore, a língua, as tradições populares — este, inclusive, é o título de um importante trabalho publicado postumamente em 1948. O autodidata que surpreendia a todos pela sua erudição dedicou-se paralelamente à poesia, aos estudos do folclore brasileiro e aos estudos científicos dos dialetos linguísticos. Amaral fora o primeiro a investigar, por meios científicos, um dialeto regional.

A maior contribuição do autodidata às letras nacionais fora o seu estudo sobre o linguajar do caipira paulista. Amaral analisa a formação das peculiaridades da língua portuguesa falada na região do Vale do Paraíba. Os métodos investigativos e a erudição do autodidata ainda hoje surpreendem os acadêmicos que se especializaram nos mesmos campos de interesse de Amaral.

Sua poesia categoriza-se na fase pós-parnasiana, típica da produção poética das duas primeiras décadas do século XX. Os críticos literários são o colocam no mesmo patamar que seus dois predecessores, Gonçalves Dias e Olavo Bilac, mas salientam os seus esforços, no âmbito da poesia, para a elevação dos seus semelhantes. Amadeu Amaral contribuiu com importantes jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Pelo seu trabalho, fora eleito para ocupar a cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras, na vaga de Olavo Bilac; ele fora recebido em 14 de novembro de 1919 pelo acadêmico Magalhães Azeredo.


Com informações do site da Academia Brasileira de Letras, do portal History UOL e do livro Amaral, Amadeu, Tradições Populares, Instituto Progresso Editorial S.A Editora, 1ª Edição, São Paulo, SP, 1948.

“Luta penosa e vã, esta em que vivo, imerso

Na ambição de alcançar a frase que me exprima,

onde o meu pensamento esplenda claro e terso,

como o bago reluz pronto para a vindima”.

Trecho do poema “Versos Nevoentos”, publicados por A. Amaral em 1917.
Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

2 COMENTÁRIOS

  1. Ótimo artigo. Muito importante sempre trazer ao nosso viver, pessoas e fatos que podem fazer diferença. E, vamos buscar Amadeu Amaral, José Lins do Rego, Rebouças, Franklin Távora, entre outros esquecidos.

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